O Purgatório, a Igreja primitiva e os Santos Padres


O Purgatório, a Igreja primitiva e os Santos Padres

No Catolicismo, a 'purificação' ocorre em um lugar chamado 'purgatório', inventado pelo Papa Gregório o Grande no ano 593 d.C."[1].
Um comentário bastante semelhante é feito por Daniel Sapia, que cita o anterior em detalhes:
"A idéia do Purgatório - um lugar fictício de purificação final - foi inventada pelo Papa Gregório o Grande no ano 593. Havia tal rejeição para se aceitar a idéia - visto que era contrária à Escritura - que o Purgatório não se tornou um dogma oficial durante quase 850 anos, quando o Concílio de Florença, em 1439, o definiu"[2].
Seria verdade que o Purgatório é uma invenção de São Gregório Magno, na Idade Média, como afirma Hunt e repete Sapia? Seria verdade que houve tal rejeição para se aceitar a doutrina do Purgatório que não se tornou um dogma de fé até o Concílio de Florença?
Antes de respondermos a estas perguntas é necessário estudar a doutrina do Purgatório, caso contrário não a reconheceremos nos escritos da Igreja primitiva:

A DEFINIÇÃO DE PURGATÓRIO NO CATECISMO DA IGREJA E NOS CONCÍLIOS ECUMÊNICOS

O Catecismo da Igreja Católica explica o Purgatório da seguinte maneira:
1030. Os que morrem na graça e na amizade de Deus, mas não estão completamente purificados, embora tenham garantida sua salvação eterna, passam, após sua morte, por uma purificação, a fim de obter a santidade necessária para entrar na alegria do Céu.
1031. A Igreja denomina Purgatório esta purificação final dos eleitos, que é completamente distinta do castigo dos condenados. A Igreja formulou a doutrina da fé relativa ao Purgatório sobretudo no Concílio de Florença e de Trento. Fazendo referência a certos textos da Escritura, a tradição da Igreja fala de um fogo purificador:
'No que concerne a certas faltas leves, deve-se crer que existe antes do juízo um fogo purificador, segundo o que afirma aquele que é a Verdade, dizendo, que, se alguém tiver pronunciado uma blasfêmia contra o Espírito Santo, não lhe será perdoada nem no presente século nem no século futuro (Mt 12,32). Desta afirmação podemos deduzir que certas faltas podem ser perdoadas no século presente, ao passo que outras, no ‘século futuro' (São Gregório Magno, Dial. 4,39)".
É oportuno começar esclarecendo a inexatidão de Sapia - a quem algumas lições de história não fariam mal! - pois já antes do Concílio Ecumênico de Florença dois outros Concílios Ecumênicos haviam definido o Purgatório de forma clara: os Concílios Ecumênicos de Lião I e II, em 1245 e 1274 respectivamente:
"...Finalmente, afirmando a Verdade no Evangelho, que se alguém blasfemar contra o Espírito Santo não ser-lhe-á perdoada nem neste mundo nem no futuro [Mat. 12,32], o que dá a entender que algumas culpas são perdoadas no século presente e outras no futuro, bem como também disse o Apóstolo, que o fogo provará a obra de cada um; e aquele cuja obra arder sofrerá dano; ele, porém, se salvará, mas como quem passa pelo fogo [1Cor. 3,13.15]; e como os próprios gregos dizem que crêem e afirmam verdadeira e indubitavelmente que as almas daqueles que morrem, recebida a penitência, porém sem cumprí-la; ou sem pecado mortal, mas apenas veniais e pequenos; são purificadas após a morte e podem ser auxiliadas pelos sufrágios da Igreja; visto que [os gregos] dizem que o lugar desta purificação não lhes foi indicado com nome certo e próprio por seus doutores, como nós que, de acordo com as tradições e autoridades dos Santos Padres, o chamamos 'Purgatório', queremos que daqui por diante também eles o chamem por este nome. Porque com aquele fogo transitório certamente são purificados os pecados, não os criminais ou capitais que antes não tenham sido perdoados pela penitência, mas os pequenos ou veniais, que pesam mesmo depois da morte, ainda que tenham sido perdoados em vida..." (Concílio Ecumênico de Lião I, 13º Ecumênico).
"...Mas por causa dos diversos erros que alguns por ignorância e outros por malícia introduziram, devemos dizer e pregar que aqueles que depois do batismo caem no pecado não devem ser rebatizados, mas que obtêm pela verdadeira penitência o perdão dos pecados. E se verdadeiramente arrependidos morrerem em caridade antes de ter satisfeito com frutos dignos de penitência por seus atos e omissões, suas almas são purificadas após a morte com penas purgatórias ou catartérias, como nos explicou frei João; e para alívio dessas penas lhes aproveitam os sufrágios dos fiéis vivos a saber: os sacrifícios das missas, as orações e esmolas, e outros ofícios de piedade que, segundo as instituições da Igreja, alguns fiéis costumam a fazer em favor de outros. Mas aquelas almas que após terem recebido o santo batismo não incorreram em mancha alguma de pecado e também aquelas que após o contraírem se purificaram - quer enquanto permaneciam em seus corpos quer após deixá-los - como acima foi dito, são recebidas imediatamente no céu" (Concílio de Lião III, 14º Ecumênico).
Com efeito, o Concílio de Florença simplesmente reafirmava o que estes outros Concílios Ecumênicos já tinham definido alguns séculos antes:
"...Desta forma, se os verdadeiros penitentes deixarem este mundo antes de terem satisfeito com frutos dignos de penitência pela ação ou omissão, suas almas são purgadas com penas purificatórias após a morte; e para serem aliviadas destas penas, lhes aproveitam os sufrágios dos fiéis vivos, tais como o sacrifício da missa, orações e esmolas, e outros ofícios de piedade que os fiéis costumam praticar por outros fiéis, segundo as instituições da Igreja. E que as almas daqueles que após receberem o batismo não incorreram absolutamente em mancha alguma de pecado e também aquelas que, após contrair mancha de pecado, a purgaram, quer enquanto viviam em seus corpos quer após o deixarem, segundo o que foi dito acima, são imediatamente recebidas no céu..." (Concílio de Florença, 17º Ecumênico).
O mesmo reafirma o Concílio de Trento (de 1545 a 1563):
"Tendo a Igreja Católica, instruída pelo Espírito Santo, segundo a doutrina da Sagrada Escritura e da antiga tradição dos Padres, ensinado nos sagrados concílios e atualmente neste Geral de Trento, que existe Purgatório, e que as almas detidas nele recebem alivio com os sufrágios dos fiéis e em especial com o aceitável sacrifício da missa, ordena o Santo Concílio aos Bispos, que cuidem com máximo esmero que a santa doutrina do Purgatório, recebida dos santos Padres e sagrados concílios, seja ensinada e pregada em todas as partes, e que seja acreditada e conservada pelos fiéis cristãos. Excluam-se, todavia, dos sermões pregados em língua vulgar à plebe rude, as questões muito difíceis e sutis que a nada conduzem à edificação e com as quais raras vezes se aumenta a piedade. Também não se permita que sejam divulgadas e tratadas as coisas incertas, ou que tenham vislumbres ou indícios de falsidade. Ficam proibidas, por serem consideradas escandalosas e que servem de tropeço aos fiéis, as que tocam em certa curiosidade ou superstição, ou tem resíduos de interesse ou de sórdida ganância. Os bispos deverão cuidar para que os sufrágios dos fiéis, a saber, os sacrifícios das missas, as orações, as esmolas e outras obras de piedade que costumam fazer pelos defuntos, sejam executados piedosa e devotadamente segundo o estabelecido pela Igreja, e que seja satisfeita com esmero e exatidão, tudo quanto deve ser feito pelos defuntos, segundo exijam as fundações dos entendidos ou outras razões, não superficialmente, mas sim por sacerdotes e ministros da Igreja e outros que têm esta obrigação" (Concílio de Trento, 19º Ecumênico - Sessão 25: Decreto sobre o Purgatório).
Porém, muito antes destas definições conciliares, era amplamente conhecida a doutrina do Purgatório, como bem demonstram as seguintes evidências patrísticas:

SANTA PERPÉTUA

Santa Perpétua foi uma mártir cristã martirizada em 203 juntamente com outros cinco cristãos (Felicidade, Revocato, Saturnino, Segundo e Saturo).
Esquanto estava na prisão, teve uma dupla visão em que viu seu irmão, falecido 7 anos antes, sair de um lugar tenebroso onde estava sofrendo. Santa Perpétua passou então a rezar pelo descanso eterno de sua alma e, logo após ser ouvida pelo Senhor, teve uma segunda visão em que viu seu irmão seguro e em paz porque sua pena havia sido satisfeita:
"Imediatamente, nessa mesma noite, isto me foi mostrado em uma visão: eu vi Dinocrate saindo de um lugar sombrio, onde se encontravam também outras pessoas; e ele estava magro e com muita sede, com uma aparência suja e pálida, com o ferimento de seu rosto quando havia morrido. Dinocrate foi meu irmão de carne, tendo falecido há 7 anos de uma terrível enfermidade... Porém, eu confiei que a minha oração haveria de ajudá-lo em seu sofrimento e orei por ele todo dia, até irmos para o campo de prisioneiros... Fiz minha oração por meu irmão dia e noite, gemendo e lamentando para que [tal graça] me fosse concedida. Então, certo dia, estando ainda prisioneira, isto me foi mostrado: vi que o lugar sombrio que eu tinha observado antes estava agora iluminado e Dinocrate, com um corpo limpo e bem vestido, procurava algo para se refrescar; e onde havia a ferida, vi agora uma cicatriz; e essa piscina que havia visto antes, vi que seus níveis haviam descido até o umbigo do rapaz. E alguém incessantemente extraía água da tina e próximo da orla havia uma taça cheia de água; e Dinocrate se aproximou e começou a beber dela e a taça não reduziu [o seu nível]; e quando ele ficou saciado, saiu pulando da água, feliz, como fazem as crianças; e então acordei. Assim, entendi que ele havia sido levado do lugar do castigo" (Paixão de Perpétua e Felicidade 2,3-4).[3]

ABÉRCIO

Bispo de Hierápolis, na Frígia, na segunda metade do século II e início do III, foi desde cedo bastante venerado pela Igreja grega e, posteriormente, pela Igreja latina. Sabe-se que visitou Roma regressando logo depois pela Síria e Mesopotâmia. Antes de morrer, compôs seu próprio epitáfio, datado de finais do século II ou início do III, em que pede que se ore por ele:
"Cidadão de pátria ilustre, / Construí este túmulo durante a vida, / Para que meu corpo - num dia - pudesse repousar. / Chamo-me Abércio: / Sou discípulo de um Santo Pastor, / Que apascenta seu rebanho de ovelhas, / Por entre montes e planícies. / Ele tem enormes olhos que tudo enxergam, / Ensinou-me as Escrituras da Verdade e da Vida / [...] / Eu, Abércio, ditei este texto / E o fiz gravar na minha presença / Aos setenta e dois anos. / O irmão que o ler por acaso / Ore por Abércio." (Epitáfio de Abércio).[4]

ATOS DE PAULO E TECLA

Os Atos de Paulo e Tecla, escritos no século II (ano 160), narram a história de uma convertida que se converteu ao ouvir as pregações de São Paulo e, após desfazer o compromisso com seu noivo, se dedica a assistir Paulo na evangelização. Lemos aí uma oração de intercessão para que uma cristã falecida seja levada para o lugar dos justos:
"E após a exibição, Trifena novamente a recebeu. Sua filha Falconila havia morrido e disse para ela em sonhos: 'Mãe: deverias ter esta estrangeira, Tecla, como a mim, para que ela ore por mim e eu possa ser levada para o lugar dos justos" (Atos de Paulo e Tecla).[5]

CLEMENTE DE ALEXANDRIA

Nasceu por volta do ano 150, provavelmente em Atenas, de pais pagãos. Após tornar-se cristão, viajou pelo o sul da Itália, Síria e Palestina, em busca de mestres cristãos, até que chegou em Alexandria. Os ensinamentos de Panteno, líder da escola catequética de Alexandria (Egito), fizeram com que se estabelecesse ali. No ano 202, a perseguição de Sétimo Severo o obrigou a abandonar o Egito e a se refugiar na Capadócia, onde morreu pouco antes de 215.
Seu conhecimento dos escritos pagãos e da literatura cristã é notável! Segundo Quasten, em suas obras podemos encontrar cerca de 360 citações dos clássicos, 1500 do Antigo Testamento e 2000 do Novo; portanto, é considerado cronologicamente como o primeiro sábio cristão, conhecedor profundo não apenas da Sagrada Escritura mas ainda das obras cristãs anteriores a ele e, inclusive, obras da literatura profana.
Nos "Stromata" ou "Tapeçarias" (Στρωματεις), fala da purificação pelo "fogo" que a alma sofre posteriormente à morte, quando não atingiu a plena santidade:
"Através de grande disciplina o crente se despoja das suas paixões e passa a mansão melhor que a anterior; passa pelo maior dos tormentos, tomando sobre si o arrependimento das faltas que possa ter cometido após o seu batismo. Então, é torturado mais ao ver que não conseguiu o que os outros já conseguiram. Os maiores tormentos são atribuídos ao crente porque a justiça de Deus é boa e sua bondade é justa; e estes castigos completam o curso da expiação e purificação de cada um" (Stromata 4,14).[6]
"Porém, nós dizemos que o fogo santifica não a carne, mas as almas pecadoras; referindo-se não ao fogo comum, mas o da sabedoria, que penetra na alma que passa pelo fogo" (Stromata 8,6).[7]

TERTULIANO

Tertuliano nasceu em Cartago antes do ano 160. Por volta do ano 195, se converteu ao Cristianismo e chegou a se tornar em um notável escritor eclesiástico. Infelizmente, por volta do ano 207, aderiu abertamente à seita herética de Montano e acabou fundando sua própria seita (a dos Tertulianistas).
Encontram-se nos escritos de Tertuliano numerosas e claras referências ao Purgatório. Entre elas, podemos mencionar: "De Anima" (Da Alma), que fala da purificação da alma após a morte; em "De Carnis Resurrectione" (Da Ressurreição da Carne), chega ao extremo de afirmar que apenas os mártires viverão diretamente na presença de Deus; em "De Monogamia" (Da Monogamia), fala como as orações pelos falecidos podem ajudá-los; e em "De Corona" (Da Coroa), menciona o costume da Igreja celebrar a Eucaristia pelo descanso eterno dos falecidos:
"Por isso, é muito conveniente que a alma, sem esperar a carne, sofra um castigo pelo que tenha cometido sem a cumplicidade da carne. E, igualmente, é justo que, em recompensa pelos bons e piedosos pensamentos que tenha tido sem a cooperação da carne, receba consolos sem a carne. Mais ainda: as próprias obras realizadas com a carne, ela é a primeira a conceber, dispor, ordenar e pô-las em alerta. E ainda naqueles casos em que ela não consente em pô-las em alerta, no entanto, é a primeira a examinar o que logo fará no corpo. Enfim, a consciência não será nunca posterior ao fato. Consequentemente, também a partir deste ponto de vista, é conveniente que a substância que foi a primeira a merecer a recompensa seja também a primeira a recebê-la. Em suma: já que por esta lição que nos ensina o Evangelho entendemos o inferno, já que 'por esta dívida, devemos pagar até o último centavo', compreendemos que é necessário purificar-se das faltas mais ligeiras nesses mesmos lugares, no intervalo anterior à ressurreição; ninguém poderá duvidar que a alma recebe logo algum castigo no inferno sem prejuízo da plenitude da ressurreição, quando receberá a recompensa juntamente com a carne" (Da Alma 58: PL 2,751).[8]
"Ao deixar o seu corpo, ninguém vai imediatamente viver na presença do Senhor - exceto pela prerrogativa do martírio, pois então adquire uma morada no paraíso e não nas regiões inferiores" (Da Ressurreição da Carne 43).[9]
"Certamente, ela roga pela alma de seu marido; pede que durante este intervalo ele possa encontrar descanso e participar da primeira ressurreição [...] Oferece, a cada ano, o sacrifício no aniversário de sua dormição" (Da Monogamia 10).[10]

"O sacramento da Eucaristia, encomendado pelo Senhor no tempo da ceia e para todos, o recebemos nas assembléias, antes do amanhecer, e não das mãos de outros que não sejam os que as presidem. Fazemos oblações pelos falecidos, a cada ano, nos dias de aniversário" (Da Coroa 3: PL 2,79).[11]
Não se pode deixar de observar que Tertuliano escreveu isto muitos anos antes de São Gregório Magno "sonhar" em nascer...

SÃO CIPRIANO DE CARTAGO

São Cipriano nasceu em torno do ano 200, provavelmente em Cartago, de família rica e culta. Dedicou-se, em sua juventude, à retórica. O desgosto que sentia diante da imoralidade dos ambientes pagãos contrastados com a pureza de costumes dos cristãos o induziu a abraçar o Cristianismo por volta do ano 246. Pouco depois, em 248, foi eleito bispo de Cartago. Durante a perseguição de Décio, em 250, julgou melhor afastar-se para outro lugar, para continuar a se ocupar com seu rebanho de fiéis. Dele conservamos uma dezena de opúsculos sobre diversos temas de então e, particularmente, uma coleção de 81 cartas.
Em São Cipriano encontramos, da mesma forma que nos anteriores, referências ao Purgatório feitas séculos antes de São Gregório Magno:
"Uma coisa é pedir perdão; outra coisa, alcançar a glória. Uma coisa é estar prisioneiro sem poder sair até ter pago o último centavo; outra coisa, receber simultaneamente o valor e o salário da fé. Uma coisa é ser torturado com longo sofrimento pelos pecados, para ser limpo e completamente purificado pelo fogo; outra coisa é ter sido purificado de todos os pecados pelo sofrimento. Uma coisa é estar suspenso até que ocorra a sentença de Deus no Dia do Juízo; outra coisa é ser coroado pelo Senhor" (Epístola 51,20).[12]
São Cipriano também atesta o comum costume de se fazer orações e oferecer a Eucaristia pelo descanso eterno dos falecidos, o que seria inútil caso as orações não pudessem ajudá-los:
"Oferecemos por eles sacrifícios, como percebeis, sempre que na comemoração anual celebramos os dias da paixão dos mártires" (Epístola 33,3).[13]

No seguinte texto também podemos ver São Cipriano atestando de maneira implícita o costume de se oferecer a Eucaristia pelos falecidos. É negado para o caso particular de Victor em razão da violação das decisões conciliares, por ter ordenado ilegitimamente Gemínio Faustino como presbítero:
"...E quanto a Victor, visto que contrariamente à forma prescrita pelo recente Concílio dos sacerdotes se atreveu a constituir tutor ao presbítero Gemínio Faustino, não há razão para que se celebre, entre vós, a oblação pela sua morte ou se reze por ele qualquer oração na Igreja; desta forma, observaremos nós o decreto dos sacerdotes, elaborado religiosamente e por necessidade, dando-se, ao mesmo tempo, exemplo aos demais irmãos, para que ninguém deseje as moléstias mundanas aos sacerdotes e ministros de Deus dedicados ao seu altar e Igreja" (Epístola 65,2).[14]
Outro texto similar:
"Finalmente, anotai também os dias em que eles morrem, para que possamos celebrar suas comemorações entre as memórias dos mártires; por mais que Tertuliano, nosso fidelíssimo e devotíssimo irmão, com aquela solicitude e cuidado que reparte com os irmãos sem se orgulhar da sua atividade, e como no cuidado dos cadáveres remanescentes ali, tenha escrito e me faça saber, entre outras coisas, os dias em que nossos ditosos irmãos partiram do cárcere para a imortalidade através de uma morte gloriosa, celebramos aqui nossas oblações e sacrifícios em comemoração deles, as quais prontamente celebraremos convosco, com a ajuda de Deus" (Epístola 36,2).[15].

ORÍGENES

Ilustre teólogo e escritor eclesiástico. Nascido em Alexandria por volta do ano 231, foi reconhecido como o maior mestre da doutrina cristã em sua época, exercendo uma extraordinária influência como intérprete da Bíblia.
Orígenes enxerga em 1Coríntios 3 uma alusão ao Purgatório:
"Pois se sobre o fundamento de Cristo contruístes não apenas ouro e prata mas pedras preciosas e ainda madeira, cana e palha, o que esperas que ocorra quando a alma seja separada do corpo? Entrarias no céu com tua madeira, cana e palha e, deste modo, mancharias o reino de Deus? Ou em razão destes obstáculos poderias ficar sem receber o prêmio por teu ouro, prata e pedras preciosas? Nenhum destes casos seria justo. Com efeito, serás submetido ao fogo que queimará os materiais levianos. Para nosso Deus, àqueles que podem compreender as coisas do céu, encontra-se o chamado 'fogo purificador'. Porém, este fogo não consome a criatura, mas aquilo que ela construiu: madeira, cana ou palha. É manifesto que o fogo destrói a madeira de nossas transgressões e logo nos devolve o prêmio de nossas grandes obras" (P.G. 13, col. 445,448).[16]

LACTÂNCIO

Loarte comenta que foi chamado "o Cícero cristão" por seu elegante manejo da língua latina. Nasceu no norte da África por volta do ano 250, de pais pagãos. Provavelmente converteu-se ao Cristianismo na Nicomédia. Durante a última grande perseguição, por volta do ano 303, viu-se obrigado a abandonar sua cátedra e exilar-se na Bitínia. Após o Edito de Milão, Constantino o chamou a Tréveris, para confiar-lhe a educação de Crispo, seu filho mais velho. Pouco mais conhecemos da vida de Lactâncio, que deve ter falecido por volta do ano 317.
Em suas "Instituições Divinas", livro 7, enxerga 1Coríntios 3 da mesma forma que Orígenes: como uma referência ao Purgatório...
"Porém, quando julgar os justos, Ele também os provará com fogo. Então aqueles cujos pecados excederem em peso ou número, serão chamuscados pelo fogo e queimados; mas aqueles a quem imbuiu a justiça e plena maturidade da virtude não perceberão esse fogo porque eles têm algo de Deus neles mesmos, que repele e rejeita a violência da chama" (Instituições Divinas 7,21).[17]

SÃO EFRÉM DA SÍRIA

Nasceu por volta do ano 306, no povoado de Nísibis (hoje chamada Nusaybim, na Turquia). Diácono, Doutor da Igreja e escritor eclesiástico. Estima-se que faleceu por volta do ano 373, embora alguns autores afirmem que viveu até 378 ou 379.
Em seu testamento, solicita que orem por ele e cita o livro dos Macabeus como evidência de que as orações dos vivos podem ajudar a expiar os pecados dos falecidos:
"Quando se cumprir o trigésimo dia [da minha morte], lembrai-vos de mim, irmãos. Os falecidos, com efeito, recebem ajuda graças a oferenda que fazem os vivos (...) Se como está escrito, os homens de Matatias encarregados do culto em favor do exército expiaram, pelas oferendas, as culpas daqueles que tinham perecido e eram ímpios por seus costumes, quanto mais os sacerdotes de Cristo, com suas santas oferendas e orações, expiarão os pecados dos falecidos" (Testamento, 72,28:EP 741).[18]

SÃO BASÍLIO MAGNO

Nasceu por volta do ano 330, do seio de uma família profundamente cristã. No ano 364 foi ordenado sacerdote e, 6 anos depois, sucedeu a Eusébio, bispo de Cesaréia, metropolita da Capadócia e exarca da diocese do Ponto. Faleceu no ano 379.
Fala como aqueles atletas de Deus, logo após terem sido salvos, podem ser "detidos" se por acaso conservarem algumas manchas de pecado:
> "Penso que os valorosos atletas de Deus, os quais durante toda a sua vida estiveram frequentemente em luta contra os seus inimigos invisíveis, após terem superado todos os seus ataques, ao chegarem ao fim de suas vidas serão examinados pelo príncipe do século, a fim de que, se em consequência das lutas tiverem algumas feridas ou certas manchas ou vestígios de pecado, sejam detidos; porém, se são encontrados imunes e incontaminados, como invictos e livres encontram o descanso junto a Cristo" (Homilias sobre os Salmos 7,2: PG 29,232).[19]

SÃO CIRILO DE JERUSALÉM

Nasceu em Jerusalém ou em sua circunvizinhança, em torno do ano 313 ou 315. Foi Padre da Igreja e arcebispo de Jerusalém. Estima-se que morreu em 386.
Em sua catequese reafirma a imemorial Tradição da Igreja de orar pelos falecidos por seu eterno descanso:
"Recordamos também de todos os que já dormiram; em primeiro lugar, os patriarcas, os profetas, os apóstolos, os mártires, para que, por suas preces e intercessão, Deus acolha a nossa oração. Depois, também pelos santos padres, bispos falecidos e, em geral, por todos cuja vida transcorreu entre nós, crendo que isso será da maior ajuda para aqueles por quem se reza. Quero vos esclarecer isso com um exemplo: visto que muitos ouviram dizer: para que serve a uma alma sair deste mundo com ou sem pecados se depois faz-se menção dela na oração? Suponhamos, por exemplo, que um rei envia ao desterro alguém que o ofendeu; porém, depois, os seus parentes, afligidos pela pena, lhe oferecem uma coroa. Por acaso não ficarão agradecidos pelo relaxamento dos castigos? Do mesmo modo, também nós apresentamos súplicas a Deus pelos falecidos, ainda que sejam pecadores. E não oferecemos uma coroa, mas sim Cristo morto por nossos pecados, pretendendo que o Deus misericordioso se compadeça e seja propício tanto com eles quanto conosco" (Catequese 13,9-10).[20]

EPIFÂNIO DE SALAMINA

Nasceu por volta do ano 315 na Judéia. Fundou um mosteiro que dirigiu por quase 30 anos. Foi bispo de Salamina e metropolita do Chipre. Morreu no ano 367.
Testemunha, da mesma maneira que os anteriores, a utilidade das orações pelos falecidos para obter de Deus o perdão das suas culpas:
"Quanto a recitação dos nomes dos falecidos, o que pode haver de mais útil e que seja mais oportuno e digno de louvor, a fim de que os presentes percebam que os falecidos continuam vivendo e não foram reduzidos ao nada, mas continuam existindo e vivem junto do Senhor, restando assim afiançada a esperança daqueles que rezam por seus irmãos falecidos, considerando-os como se tivessem emigrado para outro país? São úteis, com efeito, as preces que são feitas em seu favor, mesmo que não possam eliminar todas as suas culpas" (Panarion 75,8: PG 42,513).[21]

SÃO GREGÓRIO DE NISSA

Nasceu entre os anos 331 e 335. Era irmão de São Basílio Magno, que o consagrou bispo de Nissa em 371. Faleceu no ano 394.
O seguinte texto é uma referência tão clara ao Purgatório que não necessita de nenhum comentário:
"Quando ele renuncia a seu corpo e a diferença entre a virtude e o vício é conhecida, não pode pode se aproximar de Deus até que seja purificado com o fogo que limpa as manchas com as quais a sua alma está infectada. Esse mesmo fogo em outros cancelará a corrupção da matéria e a propensão ao mal" (Sermão sobre a Morte 2,58).[22]

SÃO JOÃO CRISÓSTOMO

São João Crisóstomo é o representante mais importante da Escola de Antioquia e um dos quatro grandes Padres da Igreja no Oriente. Nascido por volta do ano 350, talvez antes, foi ordenado sacerdote no ano 386 e em 397 foi consagrado bispo de Constantinopla. Morreu em 407.
Atesta que foram os próprios Apóstolos que instituíram a celebração da eucaristia pelo descanso eterno dos falecidos e exorta a não cessarmos de ajudar os defuntos com nossas orações, já que, graças a elas, recebem consolo:
"Não sem razão foi determinado, mediante leis estabelecidas pelos Apóstolos, que na celebração dos sagrados e impressionantes mistérios se faça a memória dos que já passaram desta vida. Sabiam, com efeito, que com isso os falecidos obtêm muito fruto e tiram grande proveito. Quando todo o povo e os sacerdotes estão com as mãos estendidas e se está celebrando o santo sacrifício, por acaso Deus não se mostrará propício com aqueles em favor dos quais lhe imploramos? Tratam-se daqueles que morreram conservando a fé" (Homilias sobre a Carta aos Filipenses 3,4: PG 62,203).[23]
"Se os filhos de Jó foram purificados pelo sacrifício de seu pai, 'porque deveríamos duvidar que quando nós também oferecemos [o sacrifício] pelos que já partiram, recebem eles algum consolo'? Já que Deus costuma atender aos pedidos 'daqueles que pedem pelos demais', não cansemos de ajudar os falecidos, oferecendo em seu nome e orando por eles" (Homilias sobre 1Corintios 41,8).[24]

SANTO AGOSTINHO

Doutor da Igreja nascido em Tagaste (África) no ano 354, filho de Santa Mônica. Após uma vida ímpia, converteu-se no ano 387 e, posteriormente, foi eleito bispo de Hipona, ministério que exerceu durante 34 anos. É considerado um dos Padres mais influentes do Ocidente e seus escritos são de grande atualidade. Morreu no ano 430.
As descrições do Purgatório por parte de Santo Agostinho também são bastante anteriores a São Gregório Magno e são tão claras que tampouco necessitam de explicações:
"Senhor, não me interpeles na tua indignação. Não me encontres entre aqueles a quem haverás de dizer: 'ide para o fogo eterno que está preparado para o diabo e seus anjos'. Nem me corrijas em teu furor, mas purifica-me nesta vida e torna-me tal que já não necessite do fogo corretor, atendendo aos que hão de salvar-se, ainda que, não obstante, como que através do fogo. Por que acontece isto se não é porque edificam aqui sobre o cimento, lenha, palha e feno? Se tivesse edificado sobre o ouro, a prata e as pedras preciosas, estariam livres de ambas as classes de fogo, não apenas daquele eterno, que atormentará os ímpios para sempre, mas também daquele que corrigirá aos que hão de salvar-se através do fogo" (Comentário ao Salmo 37,3: BAC 235,654).[25]
"Quando alguém padece algum mal, pela perversidade ou erro de um terceiro, peca, certamente, o homem que por ignorância ou injustiça causa um mal a alguém; porém não peca Deus, que por um justo mas oculto desígnio, permite que isto ocorra. Contudo, há penas temporais que alguns padecem apenas nesta vida, outros após a morte, e outros agora e depois. De toda forma, estas penas são sofridas antes daquele severíssimo e definitivo juízo. Mas nem todos os que hão de sofrer penas temporais através da morte cairão nas eternas, que terão lugar após o juízo. Haverá alguns, de fato, a quem se perdoarão no século futuro o que não se lhes foi perdoado no presente; ou seja, que não serão castigados com o suplício eterno do século futuro, como falamos mais acima" (A Cidade de Deus 21,13: BAC 172,791-792).[26]
"A maior parte [das pessoas], uma vez conhecida a obrigação da lei, se veem vencidas primeiramente pelos vícios que chegam a dominá-las; tornam-se, assim, transgressoras da lei. Logo buscam refúgio e auxílio na graça, com a qual recuperarão a vitória, mediante uma amarga penitência e uma luta mais vigorosa, submetendo primeiro o espírito a Deus e obtendo depois o domínio sobre a carne. Quem quiser, pois, evitar as penas eternas não deve apenas se batizar; deve ainda se santificar seguindo a Cristo. Assim é como quem passa do diabo para Cristo. Quanto às penas expiatórias, não pense ninguém em sua existência se não será antes do último e terrível juízo" (A Cidade de Deus 21, 16: BAC 172,798.[27]
"Não se pode negar que as almas dos falecidos são aliviadas pela piedade dos parentes vivos, quando oferecem por elas o sacrifício do Mediador ou quando praticam esmolas na Igreja. Porém, estas coisas aproveitam aquelas [almas] que, quando viviam, mereceram que se lhes pudessem aproveitar depois. Pois há um certo modo de viver, nem tão bom que aproveite destas coisas depois da morte, nem tão mal que não lhes aproveitem; há tal grau no bem que o que possui não aproveita de menos; ao contrário, há tal [grau] no mal que não pode ser ajudado por elas quando passar desta vida. Portanto, aqui o homem adquire todo o mérito com que pode ser aliviado ou oprimido após a morte. Ninguém espere merecer diante de Deus, quando tiver falecido, o que durante a vida desprezou" (Das Oito Questões de Dulcício 2, 4: BAC 551,389).[28]
"Lemos nos livros dos Macabeus que foi oferecido um sacrifício pelos falecidos. E apesar de não podermos ler isto em nenhum outro lugar do Antigo Testamento, não é pequena a autoridade da Igreja universal que reflete este costume, quando nas orações que o sacerdote oferece ao Senhor, nosso Deus, sobre o altar encontra seu momento especial na comemoração dos falecidos" (Do Cuidado devido aos Mortos 1,3: BAC 551,439).[29]
"Na pátria (=céu) não haverá lugar para a oração, mas apenas para o louvor. Por que não para a oração? Porque nada faltará. O que aqui é objeto de fé, ali será objeto de visão. O que aqui se espera, ali se possuirá. O que aqui se pede, ali se recebe. Contudo, nesta vida existe uma certa perfeição alcançada pelos santos mártires. A isto se deve o uso eclesiástico, conhecido pelos fiéis, de se mencionar os nomes dos mártires diante do altar de Deus; não para orar por eles, mas pelos demais falecidos de que se faz menção. Seria uma injúria rogar por um mártir, a cujas orações devemos nos encomendar. Ele lutou contra o pecado até derramar seu sangue. Aos outros, imperfeitos todavia, mas sem dúvida parcialmente justificados, diz o Apóstolo na Epístola aos Hebreus: 'Todavia não resististes até tombar em vossa luta contra o pecado'" (Sermão 159,1: BAC 443,498).[30]

SÃO GREGÓRIO MAGNO

Papa e doutor da Igreja, é o quarto e último dos originais Doutores da Igreja latina. Defendeu a supremacia do Papa e trabalhou pela reforma do clero e da vida monástica. Nasceu em Roma por volta do ano 540 e faleceu em 604.
Enxergava em Mateus 12,32 uma referência implícita ao Purgatório:
"Tal como alguém sai deste mundo, assim se apresenta no Juízo. Porém, deve-se crer que exista um fogo purificador para expiar as culpas leves antes do Juízo. A razão para isso é que a Verdade afirma que se alguém disser uma blasfêmia contra o Espírito Santo, isto não lhe será perdoado nem neste século nem no vindouro. Com esta sentença se dá a entender que algumas culpas podem ser perdoadas neste mundo e algumas no outro, pois o que se nega em relação a alguns deve-se compreender que se afirma em relação a outros (...) No entanto, tal como já disse, deve-se crer que isto se refere a pecados leves e de menor importância" (Diálogos 4,39: PL 77,396).[31]

CONCLUSÃO

Isto é apenas uma seleção parcial de textos patrísticos referentes ao Purgatório. Na verdade, torna-se difícil entender, à luz das sentenças anteriores, como ainda existem pessoas que afirmam que o Purgatório foi invenção da Idade Média. Peço a Deus que isto se dê por ignorância e não por malícia. Felizmente, estes textos estão ao alcance de todos e oferecem uma evidência indiscutível quanto a fé da Igreja primeira... a nossa Igreja [católica].
(...)
-----
Notas:
[1] "A justiça, o perdão e a restauração", 31.03.2008, por Dave Hunt.
[2] "O Purgatório: verdade de Deus?", por Daniel Sapia.
[3] Texto em inglês em Ante Nicene Fathers [ANF] 3,701-702 - http://www.ccel.org/print/schaff/anf03/vi.vi.iv
[4] Traduzido do "Epitáfio de Abércio" (ano 190 d.C.), em PAT 1:172. Texto em inglês em http://www.ccel.org/ccel/wace/biodict.txt
[5] "Atos de Paulo e Tecla" em ANF 8,490. Texto em inglês em http://www.ccel.org/print/schaff/anf08/vii.xxvi
[6] "Stromata / Tapeçarias", livro 7, capítulo 14, em ANF 2,504. Texto em inglês em http://www.ccel.org/print/schaff/anf02/vi.iv.vi.xiv
[7] "Stromata / Tapeçarias", livro 7, capítulo 6, em ANF 2. Traduzido de http://www.ccel.org/print/schaff/anf02/vi.iv.vii.vi
[8] "Patrologia 1", Johannes Quasten, p. 311. "O Além nos Padres da Igreja", Guillermo Pons, p. 69.
[9] "Patrologia 1", Johannes Quasten, p. 311.
[10] Ibid.
[11] "O Além nos Padres da Igreja", Guillermo Pons, p. 69.
[12] "Epístola 51[55]": a Antoniano, sobre Cornélio e Novaciano 20; ANF 5,332. Traduzido de http://www.ccel.org/print/schaff/anf05/iv.iv.li e http://www.newadvent.org/fathers/050651.htm
[13] Carta 39,3 (HARTEL, 583, BAYARD, ML 4,323 A:Epist. 34). Texto em inglês em http://www.newadvent.org/fathers/050633.htm
[14] Carta 1,2 (HARTEL:CSEL v.3 p.2 pg.463s, L. BAYARD, São Cipriano, Correspondência (Paris 1945), ML 4,399 A–B:Epist. 66). Texto em inglês em http://www.newadvent.org/fathers/050665.htm
[15] Carta 12,2 (HARTEL, 503s, BAYARD, ML 4,328 b – 329 a:Epist.37). Texto em inglês em http://www.newadvent.org/fathers/050636.htm
[16] Extraído da "Enciclopédia Católica", verbete Purgatório.
[17] Lactâncio, "Os Divinos Institutos", livro 7, capítulo 21; ANF 7. Texto em inglês em http://www.ccel.org/print/schaff/anf07/iii.ii.vii.xxi
[18] "O Além nos Padres da Igreja", Guillermo Pons, p. 69.
[19] Ibid, p. 70.
[20] Extraído de http://www.mercaba.org/tesoro/CIRILO_J/Cirilo_25.htm. Texto em inglês em Leitura Catequética 23,9-10; NPNF 2,7,154-155 - http://www.ccel.org/print/schaff/npnf207/ii.xxvii
[21] "O Além nos Padres da Igreja", Guillermo Pons, pp. 70-71.
[22] "Sermão sobre os Mortos", Jurgens 2,58.
[23] "O Além nos Padres da Igreja", Guillermo Pons, p. 71.
[24]Texto em inglês em http://www.ccel.org/print/schaff/npnf112/iv.xlii e http://www.newadvent.org/fathers/220141.htm
[25] "O Além nos Padres da Igreja", Guillermo Pons, pp. 71-72.
[26] Ibid, p. 72.
[27] Ibid, p. 72-73.
[28] Ibid, p. 73.
[29] Ibid, p. 73-74.
[30] Ibid, p. 74.
[31] Ibid, p. 74-75

Fonte: http://www.apologeticacatolica.org; tradução: Carlos Martins Nabeto

Ensinamentos de São Francisco de Sales sobre o purgatório



Assim diz São Francisco de Sales sobre o purgatório:

1 – As almas alí vivem uma contínua união com Deus.
2 – Estão perfeitamente conformadas com a vontade de Deus. Só querem o que Deus quer. Se lhes fosse aberto o Paraíso, prefeririam precipitar-se no inferno a apresentar-se manchadas diante de Deus.
3 -Purificam-se de forma voluntária, amorosamente, porque assim o quer Deus.
4 – Querem permanecer na forma que agradar a Deus e por todo o tempo que for da vontade Dele.
5 – São invencíveis na prova e não podem ter um movimento sequer de impaciência, nem cometer qualquer imperfeição.
6 – Amam mais a Deus do que a si próprias, com amor simples, puro e desinteressado.
7 – São consoladas pelos anjos.
8 – Estão certas da sua salvação, com uma esperança inigualável.
9 – As suas amarguras são aliviadas por uma paz profunda.
10 – Se é infernal a dor que sofrem, a caridade derrama-lhes no coração inefável ternura, a caridade que é mais forte do que a morte e mais poderosa que o inferno.
11 – O Purgatório é um feliz estado, mais desejável que temível, porque as chamas que lá existem são chamas de amor.

( Extraído do livro O Breviário da Confiança, de Mons. Ascânio Brandão, 4a. ed. Editora Rosário, Curitiba, 1981)

Em que Sentido Celebramos e Rezamos pelos Mortos?

Cristo esperança de todos os que creem  ao dizer: O nosso amigo Lázaro dorme (Jo 11,11), chama adormecidos e não mortos os que partem deste mundo. Em que sentido rezamos e celebramos pelos mortos?


Também o santo Apostolo Paulo não quer que entristeçamos a respeito dos que já adormeceram, porque a fé assegura que todos os que creem no Cristo, segundo a Palavra do Evangelho, não morrerão para sempre. Sabemos, pela fé, que ele não está morto e nós também não morreremos. Com efeito, à voz do arcanjo e ao som da trombeta divina, descerá do céu e os que nele tiverem morrido ressuscitarão (cf.1Ts 4,16).
Que a esperança da ressurreição nos anime, pois os que perdemos neste mundo tornaremos a vê-los no outro; basta para isso cremos no Senhor com verdadeira fé, obedecendo aos seus mandamentos. Para ele, todo-poderoso, é mais fácil despertar os mortos que acordarmos nós os que dormem. Dizemos essas coisas e, no entanto, levados não sei por que sentimento desfazemo-nos em lagrimas e a saudade nos perturba a fé. Como é miserável a condição humana e nossa vida sem Cristo torna-se sem sentido!
Ó morte, que separas os casados e, tão dura e cruelmente, separas também os amigos! Mas teu poder já está esmagado! Teu domínio impiedoso foi aniquilado por aquele que te ameaçou com o brado de Oséias: Ó morte, eu serei a tua morte! (Os 13,14 Vulg.). Nós também podemos desafiar-te com as palavras do Apostolo: Ó morte, onde está a tua vitória? Onde está o teu aguilhão? (1Cor 15,55).
Quem te venceu nos resgatou, ele que entregou sua amada vida às mãos dos ímpios, para fazer ímpios seus amigos. São inúmeros e varias as expressões da Sagrada Escritura que nos podem consolar a todos. Basta-nos, porem, a esperança da ressurreição e termos os olhos fixos na glória de nosso Redentor. Pela fé já nos consideramos ressuscitados com ele, conforme diz o Apostolo: Se morremos com Cristo, cremos que também viveremos com ele (Rm 6,8).
Já não nos pertencemos, mas somos daquele que nos redimiu. Nossa vontade deve sempre depender da sua. Por isso dizemos ao rezar: Seja feita a vossa vontade (Mt 6,10). Pela mesma razão, devemos dizer como Jó, quando choramos alguém que morreu: O Senhor deu o Senhor tirou; bendito seja o nome do Senhor (Jó 1,21). Façamos nossas estas palavras dele, a fim de que, aceitando como ele a vontade do Senhor, alcancemos um dia semelhante recompensa.
Das Cartas de São Bráulio de Saragoça, bispo Séc. VII.
Padre Paulo Ricardo, Sacerdote da Diocese de Cuiabá, fala sobre a oração pelos fiéis defuntos.

O que diz o Catecismo da Igreja:
1681. O sentido cristão da morte é revelado à luz do mistério pascal da morte e ressurreição de Cristo, em quem pomos a nossa única esperança. O cristão que morre em Cristo Jesus “abandona este corpo para ir morar junto do Senhor”.
1682. O dia da morte inaugura para o cristão, no termo da sua vida sacramental, a consumação do seu novo nascimento começado no Batismo, o definitivo “assemelhar-se à imagem do Filho”, conferido pela unção do Espírito Santo e pela participação no banquete do Reino, antecipada na Eucaristia, ainda que algumas derradeiras purificações lhe sejam ainda necessárias, para poder vestir o traje nupcial.
1683. A Igreja que, como mãe, trouxe sacramentalmente no seu seio o cristão durante a sua peregrinação terrena, acompanha-o no termo da sua caminhada para entregá-lo “nas mãos do Pai”. E oferece ao Pai, em Cristo, o filho da sua graça, e depõe na terra, na esperança, o gérmen do corpo que há de ressuscitar na glória. Esta oblação é plenamente celebrada no sacrifício eucarístico, e as bênçãos que o precedem e o seguem são sacramentais.

Em todas as Santas Missas,  nas diversas Orações Eucarísticas a Igreja reza pelos fiéis defuntos: Lembrai-vos também dos (outros) nossos irmãos e irmãs que morreram na esperança da ressurreição e de todos os que partiram desta vida: acolhei-os junto a vós na luz da vossa face (Oração Eucarística II). A todos que chamastes pra outra vida na vossa amizade, e aos marcados com o sinal da fé, abrindo vossos braços, acolhei-os. Que vivam para sempre bem felizes no reino que pra todos preparastes (Oração Eucarística V).
Oração: "Ó Deus escutai com bondade as nossas preces e aumentai a nossa fé no Cristo ressuscitado, para que seja mais viva a nossa esperança na ressurreição dos vossos filhos e filhas. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo. Amém."

Fonte: Blog Padre Luizinho

Manual das Indulgências




O Papa Paulo VI, na sua imensa e acertada tarefa de complementar o Concílio Ecumênico 
Vaticano II, publicou a Constituição Apostólica Indulgentiarum Doctrina, recordando algumas verdades propostas pelo Magistério da Igreja e pelos Santos Padres. Assim fazendo, deu embasamento doutrinário às indulgências, retirando-as do terreno do devocionismo. 
É esta valiosa obra, intitulada Enchiridion Indulgentiarun, publicada em terceira edição em 1986, que hoje a Linha 4 da CNBB apresenta traduzida em português, com o título de Manual das Indulgências. 
Nela encontrarão, não só a Constituição Apostólica, documento solene de grande valor, mas também as normas e concessões de indulgências. É à luz da Constituição Apostólica que deverão ser lucradas as indulgências. Por isso, o devocionário incluso, muito rico, deverá ser usado com o equilíbrio sugerido pelo documento de Paulo VI. É de crer que esta obra vai trazer um esclarecimento doutrinário e, também, muitos frutos espirituais. 
As indulgências e o desejo de lucrá-las são um elemento da piedade católica, mas não o 
único. Assim, a leitura da Palavra de Deus tem um valor intrínseco que transcende a indulgência 
que com ela se pode ganhar. 
A Igreja abre largamente o tesouro dos merecimentos de Cristo e dos Santos para ajudar 
nossa fraqueza. Saibamos aproveitar desta generosidade com a devida discrição. 

Brasília, 28 de setembro ele 1989. 
Clemente José Carlos Isnard OSB


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Do Santo Sacrifício da Missa


§ 1.o ‐ Da essência, da instituição e dos fins do Santo Sacrifício da Missa

649) Deve considerar‐se a Eucaristia só como Sacramento?
A Eucaristia não é somente um Sacramento; é também o sacrifício permanente da
Nova Lei, que Jesus Cristo deixou à Igreja, para ser oferecido a Deus pelas mãos dos seus
sacerdotes.
650) Em que consiste em geral o sacrifício?
O sacrifício, em geral, consiste em oferecer a Deus uma coisa sensível, e destruí‐la
de alguma maneira, para reconhecer o supremo domínio que Ele tem sobre nós e sobre
todas as coisas.
651) Como se chama este sacrifício da Nova Lei?
Este sacrifício da Nova Lei chama‐se a santa Missa.
652) Que é então a santa Missa?
A santa Missa é o sacrifício do Corpo e do Sangue de Jesus Cristo, oferecido sobre
os nossos altares, debaixo das espécies de pão e de vinho, ein memória do sacrifício da
Cruz.
653) É o Sacrifício da Missa o mesmo que o da Cruz?
O Sacrifício da Missa é substancialmente o mesmo que o da Cruz, porque o mesmo
Jesus Cristo, que se ofereceu sobre a Cruz, é que se oferece pelas mãos dos sacerdotes
seus ministros, sobre os nossos altares, mas quanto ao modo por que é oferecido, o
sacrifício da Missa difere do sacrifício da Cruz, conservando todavia a relação mais
íntima e essencial com ele.
654) Que diferença, pois, e que relação há entre o Sacrifício da Missa e o da Cruz?
Entre o Sacrifício da Missa e o sacrifício da Cruz há esta diferença e esta relação:
que Jesus Cristo sobre se ofereceu derramando o seu sangue e merecendo para nós; ao
passo que sobre os altares Ele se sacrifica sem derramamento de sangue, e nos aplica os
frutos da sua Paixão e Morte.
655) Que outra relação tem o Sacrifício da Missa com o da Cruz?
Outra relação do Sacrifício da Missa com o da Cruz é que o Sacrifício da Missa
representa de modo sensível o derramamento do Sangue de Jesus Cristo na Cruz;
porque em virtude das palavras da consagração só o Corpo de nosso Salvador se torna
presente debaixo das espécies de pão, e debaixo das espécies de vinho, só o seu Sangue;
entretanto, pela concomitância natural e pela união hipostática, está presente, debaixo
de cada uma das espécies, Jesus Cristo todo inteiro, vivo e verdadeiro.
656) Não é porventura o Sacrifício da Cruz o único sacrifício da Nova Lei?
O Sacrifício da Cruz é o único sacrifício da Nova Lei, porquanto por ele Nosso
Senhor aplacou a Justiça Divina, adquiriu todos os merecimentos necessários para nos
salvar, e assim consumou da sua parte a nossa redenção. São estes merecimentos que
Ele nos aplica pelos meios que instituiu na sua Igreja, entre os quais está o Santo
Sacrifício da Missa.
657) Para que fins se oferece o Santo Sacrifício da Missa?
Oferece‐se a Deus o Santo Sacrifício da Missa para quatro fins:
1º para honrá‐Lo como convém, e sob este ponto de vista o sacrifício é latrêutico;
2º para Lhe dar graças pelos seus benefícios, e sob este ponto de vista o sacrifício
é eucarístico;
3º para aplacá‐Lo, dar‐Lhe a devida satisfação pelos nossos pecados, para sufragar
as almas do Purgatório, e sob este ponto de vista o sacrifício é propiciatório;
4º para alcançar todas as graças que nos são necessárias, e sob este ponto de vista
o sacrifício é impetratório.
658) Quem oferece a Deus o Santo Sacrifício da Missa?
O primeiro e principal oferente do Santo Sacrifício da Missa é Jesus Cristo, e o
sacerdote é o ministro que em nome de Jesus Cristo oferece este sacrifício ao Eterno
Padre.
659) Quem instituiu o Santo Sacrifício da Missa?
Foi o próprio Jesus Cristo que instituiu o Santo Sacrifício da Missa, quando
instituiu o Sacramento da Eucaristia, e disse que fosse ele feito em memória da sua
Paixão.
660) A quem se oferece o Santo Sacrifício da Missa?

O Santo Sacrifício da Missa oferece‐se só a Deus.
661) Se a santa Missa se oferece só a Deus, por que se celebram tantas Missas em honra
da Santíssima Virgem e dos Santos?
A missa celebrada em honra da Santíssima Virgem e dos Santos é sempre um
sacrifício oferecido só a Deus; diz‐se, porém, celebrada em honra da Santíssima Virgem e
dos Santos, para louvar a Deus neles pelos dons que lhes concedeu, e para alcançar, pela
intercessão deles, em maior abundância, as graças de que necessitamos.
662) Quem participa dos frutos da Missa?
Toda a Igreja participa dos frutos da Missa, mas particularmente:
1º o sacerdote e os que assistem à Missa, os quais se consideram unidos ao
sacerdote;
2º aqueles por quem se aplica a Missa, e podem ser tanto vivos como defuntos.
§ 2.o ‐ Do modo de assistir à Missa
663) Quantas coisas são necessárias para ouvir bem e com fruto a santa Missa?
Para ouvir bem e com fruto a santa Missa são necessárias duas coisas:
1º modéstia exterior,
2º devoção interior.
664) Em que consiste a modéstia exterior?
A modéstia exterior consiste particularmente em estar modestamente vestido, em
observar o silêncio e o recolhimento, e em estar, quanto possível, de joelhos, excetuando
o tempo dos dois evangelhos, que se ouvem estando de pé.
665) Ao ouvir a santa Missa qual é o melhor modo de praticar a devoção interior?
O melhor modo de praticar a devoção interior ao ouvir a santa Missa é o seguinte:
1º unir‐se, desde o começo, a própria intenção à do sacerdote, oferecendo a Deus o
Santo Sacrifício para os fins por que foi instituído;
2º acompanhar o sacerdote em cada uma das orações e ações do Sacrifício;
3º meditar a Paixão e morte de Jesus Cristo e detestar, de todo o coração, os
pecados que Lhe deram causa;
4º fazer a comunhão sacramental, ou ao menos a espiritual, ao tempo em que o
sacerdote comunga.
666) Que é a Comunhão espiritual?
A Comunhão espiritual é um grande desejo de se unir sacramentalmente a Jesus
Cristo, dizendo por exemplo: Meu Senhor Jesus Cristo, eu desejo de todo o meu coração
unir‐me a Vós agora e por toda a eternidade; e fazendo os mesmos atos que se fazem
antes e depois da Comunhão sacramental.
667) Impede ouvir a Missa com fruto a recitação do Rosário ou de outras orações
durante o Santo Sacrifício?
A recitação destas orações não impede ouvir com fruto a Missa, desde que haja um
esforço possível de seguir as cerimônias do Santo Sacrifício.
668) É coisa boa também rezar pelos outros, quando se assiste à Santa Missa?
É coisa boa rezar também pelos outros, quando se assiste à santa Missa; e até o
tempo da santa Missa é o mais oportuno para rezar pelos vivos e pelos mortos.
669) Terminada a Missa, que se deve fazer?
Terminada a Missa, devemos dar graças a Deus por nos ter concedido a graça de
assistir a este grande sacrifício e pedir‐Lhe perdão das faltas cometidas enquanto a
assistíamos.


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Fonte: Catecismo maior de S. Pivs X


A purificação final ou Purgatório


1030     Os que morrem na graça e na amizade de Deus, mas não estão completamente purificados, embora tenham garantida sua salvação eterna, passam, após sua morte, por uma purificação, a fim de obter a santidade necessária para entrar na alegria do Céu.
1031    A Igreja denomina Purgatório esta purificação final dos eleitos, que é completamente distinta do castigo dos condenados.  A Igreja formulou a doutrina da fé relativa ao Purgatório, sobretudo no Concílio de Florença e de Trento. Fazendo referência a certos textos da Escritura (1Cor3,15; 1Pd 1,7), a tradição da Igreja fala de um fofo purificador:
No que concerne a certas faltas leves, deve-se crer que existe antes do juízo um fogo purificador, segundo o que afirma aquele que é a Verdade, dizendo, que, se alguém tiver pronunciado uma blasfêmia contra o Espírito Santo, não lhe será perdoado nem no presente século nem no século futuro (Mt 12,32). Desta afirmação podemos deduzir que certas faltas podem ser perdoadas no século presente, ao passo que outras, no sáculo futuro.
Este ensinamento apóia-se também na prática da oração pelos defuntos, da qual já a Sagrada Escritura fala: “Eis por que ele [Judas Macabeu] mandou oferecer esse sacrifício expiatório pelos que haviam morrido, a fim de que fossem absolvidos de seu pecado” (2Mac 12,46). Desde os primeiros tempos, a Igreja honrou a memória dos defuntos e ofereceu sufrágios em seu favor, em especial o sacrifício eucarística, a fim de que, purificados, eles possam chegar á visão beatífica de Deus. A igreja recomenda também as esmolas, as indulgências e as obras de penitência em favor dos defuntos:
 Levemo-nos socorro e celebremos sua memória. Se os filhos de Jó foram purificados pelo sacrifício de seu pai [Jó 1,5], por que deveríamos duvidar de que nossas ofertas em favor dos mortos lhes levem alguma consolação?  Não hesitemos em socorrer os que partiram e em oferecer nossas orações por eles [S. João Crisóstomo, Hom. In 1Cor 41,5].



Fonte: Catecismo do Beato João Paulo II


Orações diárias pelas Almas do Purgatório

Senhor e Deus onipotente, suplico-vos que, pelo precioso sangue que correu do sagrado lado de vosso santíssimo Filho, em presença e com grande dor de sua Santíssima Mãe, livreis as almas do purgatório e, em especial, a que foi mais devota desta Senhora, para que em breve vos entoe cânticos de louvor pelos séculos dos séculos. Amém.
3 Pai-Nossos, 3 Ave-Marias, 3 Glórias

Como ajudar as almas?


Com essas palavras, o Salvador nos ensina que apenas enquanto vivemos podemos acumular méritos, e que além do túmulo não podemos fazer nada para merecer a vida eterna.
Nem toda alma que sai deste mundo com a graça santificante possui a perfeição que o Senhor exige: “Portanto, sede perfeitos, assim como vosso Pai celeste é perfeito” (Mt 5,48). Muitos morrem tendo apenas uma orientação para Deus, mas ainda portadores de inclinações desregradas e resquício do pecado. Nesse caso, Deus, por Sua infinita misericórdia, nos dá a possibilidade de nos purificarmos.
Desta possibilidade fala Jesus, quando adverte contra o pecado que “não alcançará perdão nem neste século, nem no século vindouro” (Mt 12,32), ou quando fala da prisão, da qual “não sairá antes de ter pago o último centavo” (Mt 5,26).
Como ajudar as almas?

1. oração.
      É o meio mais fácil, acessível a todos, sem exigência de lugar ou horário. Mesmo durante nosso trabalho, nada impede que elevemos nosso pensamento a Deus e façamos uma breve oração pelos mortos.

2. esmola.
      A esmola, dada na intenção das almas, beneficia três pessoas: o necessitado que a recebe, a pessoa que a dá, e as almas em cuja intenção se dá.

3. mortificação.
      Pequenas renúncias, como: privar-se de uma sobremesa, reter um olhar inútil de curiosidade, evitar uma palavra desnecessária, ter paciência com uma pessoa inoportuna, suportar o frio ou calor sem reclamar, etc.

4. indulgências.
      Indulgência é a remissão, diante de Deus, da pena temporal devida pelos pecados já perdoados quanto à culpa (perdão alcançado quando o fiel, nas devidas disposições de contrição, recorre ao Sacramento da Confissão).
      A indulgência é parcial ou plenária, conforme liberta, em parte ou no todo, da pena temporal devida pelos pecados.
      Qualquer fiel pode lucrar indulgências parciais ou plenárias para si mesmo ou aplicá-las aos defuntos como sufrágio. Vejamos como é simples:
      Muitas devoções nos alcançam indulgências parciais (antigamente indicadas por dias), como por exemplo a jaculatória: “Jesus, Maria, eu Vos amo, salvai almas!”. Além disso, há três situações em que recebemos indulgência parcial:
- quando, no cumprimento de nossos deveres e na tolerância das aflições da vida, erguemos o espírito a Deus com humilde confiança, acrescentando alguma piedosa invocação, mesmo que só em pensamento;
- quando, levados pelo espírito de fé, com coração misericordioso, dispomos de nós mesmos e de nossos bens no serviço dos irmãos que sofrem falta do necessário;
- quando nos abstemos de coisa lícita e agradável, em espírito espontâneo de penitência.
      Outras práticas nos oferecem indulgências plenárias (só se ganha uma indulgência plenária por dia):
- adoração ao Santíssimo Sacramento por pelo menos meia hora;
- leitura espiritual da Sagrada Escritura ao menos por meia hora;
- piedoso exercício da Via Sacra;
- recitação do rosário de Nossa Senhora na igreja, oratório, na família, na comunidade religiosa, ou em associação piedosa com outras pessoas.
      Há também indulgências aplicáveis somente aos defuntos, que se conseguem na primeira semana de novembro, que é o mês das Almas.
Guia nº4 da Devoção à Divina Misericórdia
Indulgências de Finados
A indulgência plenária pode ser lucrada em todas as igrejas, do meio dia do dia 1° até o fim do dia 2 de novembro: exige confissão (válida até 20 dias antes ou depois), estado de graça, receber a comunhão; total desapego ao pecado, mesmo venial. Rezar o Pai Nosso e o Credo pela visita à igreja e uma oração à escolha do fiel pelo Santo Padre Bento XVI. Se faltar algum destes requisitos a indulgência será somente parcial. É sempre pelas almas do Purgatório que a Igreja concede as indulgências de Finados.
Pela visita ao cemitério, também se lucra indulgência plenária do dia 1º a 8 de novembro. Em vigor todas as determinações acima, menos o rezar o Pai-Nosso e o Credo, orações essas substituídas por qualquer outra oração pelos defuntos, mesmo que mentalmente.

5. Santa Missa.
      É a ação mais preciosa da Igreja; ela é, substancialmente o mesmo sacrifício da Cruz, diferente apenas no modo da oferta, que é incruenta. O valor da missa é, em si mesmo, infinito, porém seus efeitos são aplicados a nós na medida de nossas disposições internas. Quanto às penas temporais que devem ser expiadas após o perdão dos pecaods, são perdoados por virtude da santa missa, ao menos parcialmente, se não totalmente: a Santa Missa abre os tesouros da Divina Misericórdia em favor dos pecadores.

adaptado do livro Purgatório
http://rosariopermanente.leiame.net/devocoes/almas.html