Almas do Purgatório
O Purgatório e a Santidade
O Manuscrito do purgatório- Últimos ensinamentos
Últimos ensinamentos
Que a fé prática anime todas as vossas ações. Que
vossa confiança e amor vos faça empreender tudo quanto Ele exige de vós. Dizei
cada manhã ao levantar: “Meu Jesus, eis-me aqui para cumprir a vossa santa
vontade; que quereis que eu faça hoje para vos agradar?”
Fazei todos os exercícios de piedade sob o olhar de
Jesus, e com muito amor. Só se pode fazer bem às almas na medida da união com
Deus.
Deus procura almas que reparem os ultrajes que Ele
recebe, que o amem, e que o façam amar. Ele vos quer neste número.
Jesus, antes de conceder a uma alma uma união
íntima com Ele, a purifica pela provação, e quanto maiores desígnios tem sobre
esta alma, tanto mais a prova é maior.
Fixai vossa morada habitual no Coração de Jesus.
Que o amor seja a cadeia que una vosso coração àquele Coração adorável. Vosso
coração tão miserável se purificará, se há de desapegar ao contato com um
Coração tão puro!
Ide buscar no Coração de Jesus o que necessitais
para vós e para os outros. Ele nada vos há de recusar.
Os sofrimentos do coração são bem mais penosos que
os do corpo. Para uma alma que ama a Jesus, a dor maior é magoar a Jesus por
suas ingratidões e pecados.
Pedi ao Coração de Jesus força de alma necessária
para que Ele cumpra em vós seus desígnios.
Para fixar o espírito na presença de Deus, tomai
cada dia uma das catorze estações de Nosso Senhor na Paixão e pensai bastante
nela. Jesus gosta que nos lembremos do que Ele sofreu por nós. Nos dias de
festa tomai um dos mistérios gloriosos, a Ressurreição, a Ascensão. Pensai também
muitas vezes na Eucaristia, e na vida oculta de Jesus no tabernáculo. Lá,
sobretudo, é que haveis de ver o seu amor. Ficar sozinho sem adoradores, na
maior parte das igrejas do mundo! Esperar em vão que alguém venha lhe dizer: eu
vos amo!
Tudo passa, e passa depressa! Não tenhamos tanta
preocupação pelas coisas que um dia hão de se acabar! Olhemos sempre o que
nunca mais se há de acabar. Por nossas ações santas e unidas a Jesus,
embelezemos nosso trono no céu. Façamos o nosso trono mais alto, alguns degraus
mais próximo daquele que havemos de contemplar e amar por toda a eternidade.
Eis qual deve ser a vossa ocupação na terra.
LEMBRANÇA
(2 de
Novembro de 1890 – Última bênção do mês do Rosário)
Vou procurar fazer com que entendais quanto
possível o que é o céu. Festas e sempre novas, que se sucedem sem interrupção,
uma felicidade sempre nova e que a gente nunca sentiu. É uma torrente de
alegria que transborda sem cessar sobre os eleitos. O céu é principalmente
Deus, Deus amado, sentido, provado; é uma saciedade de Deus sem se poder saciar
nunca!
Quanto mais a alma amou a Deus na terra, tanto mais
atinge o cume da perfeição, tanto mais compreende o céu!
Jesus é a verdadeira alegria da terra e a eterna
alegria dos céus!
O Manuscrito do Purgatorio- 1886/1887
1886
(Maio) – Para a alma religiosa é preciso o espírito
de sacrifício, o espírito interior, a pureza de intenção. Eis a síntese da vida
religiosa.
Uma religiosa pode aliviar as almas de seus
parentes defuntos com as ações todas praticadas com grande pureza de intenção e
muito mais do que pelas orações.
A alma mais querida de Jesus é sempre a mais
crucificada na terra, mas a cruz enviada por Jesus tem doçuras misturadas com
as amarguras. Há cruzes que vêm por nossa culpa, e nestas ficam só as
amarguras.
1887
(Fevereiro) — Jesus não mostra à alma tudo quanto
exige dela assim de unia vez. Ela se assustaria. Porém, pouco a pouco a torna
mais forte e lhe descobre seus segredos e a torna participante da cruz.
(24 de Junho) — Ficai bem unida a Jesus. Antes de
qualquer ação, consultai-o. Sempre de coração a coração, como a um amigo que se
tem sempre perto.
Jesus quer vossa alma toda inteira com todas as
suas faculdades, todas as potências; vosso coração com todas as ternuras, todo
o vosso amor. Tudo haveis de buscar na fonte daquele divino Coração que nunca
se esgota. Eis como deveis proceder como esposa dedicada.
Durante o dia várias vezes deixai-vos penetrar bem
da presença de Deus, recolhei–vos diante de sua divina Majestade, reconhecei
vossa miséria, mas também a sua bondade infinita, agradecei-lhe afetuosamente.
Podeis falar com Jesus o dia inteiro. É o que Ele espera de vós já há muito
tempo.
Se fordes fiel a tudo quanto vos disse, Jesus vos
guardará suas comunicações mais íntimas, suas carícias divinas, seu amor de Pai
e Esposo amante, e alcançareis tudo quanto lhe pedirdes. Jesus não vos há de
recusar nada. Haveis de vos dar toda a Ele e Ele se dará todo a vós.
Deus deseja que este retiro vos ponha no estado que
Ele espera de vós há muito tempo. Deus chega aos seus fins por meios a nós
desconhecidos. Pois bem, coragem, mãos à obra! Jesus vos concederá graças
novas. Correspondei a elas generosamente para vós e para a comunidade. Que
vossa vontade seja só uma vontade com a de Jesus.
Pela permissão de Deus nós conhecemos no purgatório
o que se passa na terra, neste momento, a fim de que rezemos pelas grandes
necessidades, mas nossa oração não basta. Se Jesus encontrasse algumas almas de
boa vontade que quisessem reparar e desagravar a Majestade divina ultrajada,
seria uma grande alegria para o seu Coração tão amargurado. Estas almas
poderiam obter misericórdia, esta misericórdia que para dá-la só quer que o
pecador se humilhe. Dizei isto à Madre Superiora.
Todas estas provas Deus as permitiu para vos dar
força de alma e fazer triunfar a sua glória, sua justiça e seu amor.
Quando puderdes, fazei uma visita a Jesus e
dizei–lhe vossos sofrimentos, alegrias, tudo enfim. Falai–lhe como a um amigo,
a um pai, a um esposo.
Não perder de vista a divina presença. Deus vos
quer santa e só para Ele. Não vos prejudiqueis. O comum, eis o que Jesus quer
de vós!
O Manuscrito do Purgatório- 1882/1883
1882
(Setembro) —
Jesus faz muito por vós e fará ainda muito mais no futuro, mas é mister que
correspondais às suas graças e sejais sempre bem generosa. As almas que chegam
à perfeição que Jesus delas pede, são senhoras do seu divino Coração. Ele nada
lhes recusa. Quando chegardes lá, Jesus e vós sereis um só. Tereis os mesmos
sentimentos, os mesmos desejos.
Ó, amai
muito a Jesus, uni-vos a Ele do modo mais forte que seja possível, com todas as
potências de vosso coração. Não vivais nem respireis mais do que o amor de
Jesus.
1883
Um ano a
mais que se foi para a eternidade! Assim passam todos, todos, uns após outros.
Sucedem-se os dias até aquele que põe termo à vida da terra, e começa a vida da
eternidade! Empregai bem todos os instantes. Cada um deles pode ganhar o céu e
vos evitar o purgatório. Cada uma das vossas ações feitas sob o olhar de Jesus,
vos dará um grau de glória a mais no céu, e ao mesmo tempo um grau de amor para
Jesus também.
O sofrimento
precede sempre o amor e há um grau de amor que só atingem os que sofreram e
sofreram muito. Eu vos falo principalmente dos sofrimentos do coração. O
maior sofrimento que possa ter uma alma que ama verdadeiramente a Jesus, é não
amá-lo quanto ela o deseja.
(Retiro de
Maio) – Deus tem muitos meios para chegar aos seus fins, quando Ele quer alguma
coisa de especial de uma alma. Este retiro deve ser o começo da grande
perfeição a que Jesus vos chama desde há muito.
Com Jesus o
que podereis temer? Ele é vosso Pai, vosso amigo, vosso esposo, vosso tudo. Não
tem Ele o direito de exigir de sua alma o que Ele queira, sem dizer por quê? É
o grande Senhor, é o Senhor de todos. Adorai os seus desígnios e obedecei-lhe
cegamente. E’ o que Ele quer de vós. Procurai, pois, trabalhar generosamente
para a vossa santificação. Redobrai vossa ternura, vosso amor por Jesus. Amai
pelos que o não amam, reparai pelos que o ultrajam, pedi perdão pelos que nunca
pensam nisto. Jesus espera tudo isto de vós.
(20 de Maio)
— Na terra nos arrumamos ao nosso modo, mas no outro mundo é Deus quem nos
arruma ao seu modo.
(Retiro de
29 de Agosto) – Sete horas da noite. Habituai-vos a falar a Nosso Senhor como a
um amigo o mais devotado e sincero. Não fazer e não dizer nada sem o consultar.
Há vários anos que eu estou vos dizendo isto. Eu falei disto muitas vezes, e
hoje torno a repetir. Deus quer que presteis muita atenção nisto e o
pratiqueis. Este olhar da alma, sempre fixo em Jesus, para perceber as suas
menores vontades, esta conversação divina que Ele quer ter convosco, não vos
impedirão de vos entregardes aos trabalhos exteriores. Ao contrário, é
impossível conservar–se calma no exterior, se o interior não o está. As paixões
interiores se refletem sempre no exterior, e a alma que vigia cuidadosamente o
seu interior é também senhora do exterior! Eis o que Jesus pede de vós. Uma
vida de fé e de união contínua com Ele, uma vida humilde, oculta, conhecida só
dele. Seja Ele tudo para vós. Olhai tudo que vos acontece como outros tantos
meios de que Ele se serve para vos unir a Ele e realizar os seus desígnios.
Sede generosa, que não vos falte energia… Começai então esta vida de renúncia e
de sacrifício, e sobretudo de amor. Achareis a calma e a paz que Ele há muitos
anos vos oferece.
Que a santa
vontade de Deus seja a base de tudo quanto tiverdes de fazer ou sofrer. Jesus
espera muito de vós, muitos sofrimentos do corpo e do espírito, mas também
muito amor. Não se pode amar sem que a natureza sofra, já o sabeis muito bem.
Já o experimentastes no passado e preparai-vos para o futuro. Deus vos deu tudo
que é preciso para sentir o sofrimento mais do que os outros. É uma
misericórdia e uma graça a mais. Onde há grandes sacrifícios a fazer, há
grandes méritos. Sede bem generosa. Pôr de lado o “eu” a Jesus adianta! Pensai
muitas vezes nisto: se quereis que vossas ações agradem a Jesus, é preciso que
em cada uma delas haja sempre um pequeno sacrifício, alguma coisa que custe.
O Manuscrito do Purgatório- 1880 parte II
1880 Parte II
(Novembro) — Eis que para todas acabou–se o retiro, mas, para vós ele
continua. Continuai o vosso retiro sempre, durante todo o ano em vosso coração.
Ainda mesmo em meio das maiores ocupações, tende sempre um lugarzinho reservado
onde vos recolhereis no coração, e com o coração de Jesus, e lá não o perdereis
nunca de vista.
O retiro foi muito agradável a Deus, e muito proveitoso às almas. Jesus
vê com prazer as almas religiosas que se voltam para Ele e o procuram como
único fim. Para isto é que Ele as chamou para o seu serviço, mas como é fácil na
terra esquecer-se a gente mesmo do que é mais sagra-do! Um bom retiro ajuda as
almas a retomarem o fervor primitivo. É o que se fez no retiro que acabais de
ouvir. Este retiro consolou muito o Coração de Jesus.
Que são estes poucos instantes que passamos na terra comparados com a
eternidade? Na morte vereis que nunca se fez demais. Sede generosa e não
vos escuseis. Vede o fim para o qual vos chama Jesus: a santidade, o puro amor,
e depois, caminhai sempre sem olhar para trás.
A cruz, as grandes cruzes, as que trituram o coração, são a herança dos
amigos de Deus. Vós queixastes nestes dias a Jesus, porque Ele vos enviou muito
sofrimento durante este ano? É verdade, mas por que achais tão pesadas as
cruzes? É que não o amais ainda bastante. As cruzes ainda não se acabaram. As
que tivestes até aqui são apenas o prelúdio do que vos espera. Não vos disse
que teríeis sofrimentos do corpo e do espírito, e às vezes os dois juntos? Não
há santidade sem sofrimento. Entretanto, quando deixardes que a graça possa agir
livremente e que Jesus possua vossa vontade, e seja o Mestre absoluto de tudo
em vós, então as cruzes por mais pesadas que o sejam, não hão de pesar mais. O
amor absorverá tudo. Até lá, porém, sofrereis muito, porque não é num instante
que a al-ma chega assim a se desapegar de todas as coisas para não agir senão
por amor. Jesus vê com muito prazer os vossos esforços. Ó, se Jesus fosse mais
conhecido na terra! Mas é tão esquecido! Pelo menos vós, amai-o, crescei sempre
neste amor para agradá-lo. Trabalhai sem descanso para chegardes até lá onde
Ele vos quer ver.
(16 de setembro) — Como se compreende muito pouco na terra o desapego
que Jesus quer de uma alma que deve ser toda dele! Algumas se julgam santas
porque experimentam um amor mais sensível do que ordinariamente; mas, todas
estas sensibilidades naturais nada são. É mister que a alma se eleve, se
desapegue pouco a pouco, de tudo que a cerca, e sobretudo de si mesma, de seu
amor próprio, das suas paixões, a fim de chegar à união divina e só Jesus sabe
quanto custa à natureza chegar até lá! O coração há de ser triturado a fim de
sair dele todo o amor humano, e é difícil! Poucas almas compreendem estas
coisas! Vós que compreendeis um pouco de tudo isto, por misericórdia de Jesus,
vós a quem Ele tanto ama, entrai corajosamente neste caminho da abnegação e da
morte de vós mesma. Voai por cima da terra, e de tudo que vos cerca, para vos
abismardes na santíssima vontade de Deus. Não perder de vista esta santa
vontade de Deus nem um minuto! Não penseis que com isto não podereis cumprir as
vossas obrigações, absorta neste pensamento. Haveis de ver que acontece
justamente o contrário. A alma quanto mais unida a Jesus, tanto mais será exata
no cumprimento dos seus deveres. Aquele a quem ama fará tudo por ela. Será um com
ela. E então, não estará bem dirigida e ajudada no que faz? Quanto bem pode
fazer uma alma interior! Aliás, tudo o que se fizer fora disto, é inútil. A
alma unida a Jesus tem direito sobre o seu coração, é senhora deste coração e
Ele nada lhe recusa.
Refleti bem nisto que vos estou dizendo! Uma só das vossas ações
oferecidas para meu alívio, com pureza de intenção, quando estais bem unida a
Jesus, me alivia mais do que diversas orações vocais. Quanto mais depressa vos
aperfeiçoardes, tanto mais depressa chegareis a me livrar do purgatório.
É verdade que a Madre Superiora sofreu muito nestes últimos dias, mas um
dia de grande sofrimento como ela o experimenta algumas vezes, é mais
proveitoso para a alma dela e para a comunidade, do que dez dias ou mais de boa
saúde, em que pode trabalhar e fazer tudo o que é de seu cargo.
(2 de outubro) — Dizei muitas vezes no dia: “Meu Deus, realizai em mim
os vossos desígnios, e dai–me a graça de não pôr obstáculo a vossa vontade! Meu
Jesus, eu quero o que vós quereis, como quereis, e tanto tempo quanto
quiserdes!”
(3 de outubro — Domingo) — Ó, se vos fosse dado compreender na terra
como Jesus é tratado com indiferença e desprezo neste mundo! E não só pelo
mundo. Ele é insultado, ridicularizado, mesmo por aqueles que o deveriam amar.
É assim que se encontra indiferença nas comunidades, entre religiosos e
religiosas, sua gente escolhida! Lá, onde deveria ser tratado como amigo, como
Pai, como Esposo, o consideram e o tratam mais como um estranho.
Esta indiferença se encontra também no clero. Jesus é tratado como de
igual para igual. Os que deveriam tremer pensando na augusta missão que
receberam, a desempenham com indiferença e aborrecimento!
Quantos possuem o espírito interior? Um número muito pequeno. São
numerosos no purgatório os padres que expiam a sua vida sem amor e sua
indiferença. É preciso que eles expiem pelo fogo e em torturas de todas as
formas as suas negligências.
Eis o grande sofrimento do Coração de Jesus: a ingratidão dos seus. E no
entanto, o divino Coração está todo transbordando de amor e só quer difundi–lo.
Jesus quer encontrar algumas almas mortas para si mesmas. Jesus
derramará nelas ondas de amor mais do que já o fez com ninguém neste mundo. Ó,
como Jesus, como a sua misericórdia, como seu amor são pouco conhecidos neste
mundo!
Procura–se conhecer tudo, aprofundar–se em tudo, exceto no que traz a
verdadeira felicidade, a única coisa verdadeira… Que tristeza!
(14 de outubro — Durante minha ação de graças) – A menor infidelidade da
vossa parte, o menor esquecimento, e menor indiferença para com Jesus lhe é
mais sensível e mais lhe fere o coração tão bom, tão amoroso, do que uma
injúria de um inimigo. Vigiai–vos com grande cuidado, não deixeis passar coisa
alguma. Que Jesus possa vir e se achar feliz em vosso coração, para que o
consoleis das amarguras e desgostos que recebe no mundo. Procedei com Ele como
para com um pai, e o melhor dos pais e o mais dedicado dos esposos. Consolai-o,
reparai as injúrias que recebe cada dia. Tomai os interesses da sua glória e do
seu Sagrado Coração. Esquecei-vos diante dele, e fazendo assim, vossos
interesses se tornarão os seus, e Ele fará mais por vós do que vós com vossas
ocupações.
Olhai tranquilamente todas as coisas que vão passando em torno de vós.
Que nada vos detenha. Vossa única alegria, vosso único repouso só se encontram
em Jesus. Trabalhai só para ele, e seu amor vos dará coragem. Nunca haveis de
fazer demais por um Deus tão bom!
Amai tanto a Deus a ponto de nunca adquirir neste mundo o seu amor sem
sofrimento e sem mérito. Os sofrimentos da terra são meritórios, não os deveis
perder.
Muitas almas do purgatório contam convosco para as tirar do lugar dos
seus sofrimentos. Pensai bem nisto e rezai muito por elas de todo coração.
1881
Os sofrimentos do corpo e do coração são a herança dos amigos de Jesus
enquanto estão neste mundo. Quanto mais Jesus tem amor a uma alma, tanto mais a
faz participante das dores que Ele sofreu aqui por nosso amor. Feliz a alma
assim privilegiada! Quantos méritos não pode adquirir! E’ o caminho mais curto
para chegar ao céu. Não tenhais medo do sofrimento, ao invés, amai-o porque ele
nos aproxima mais perto daquele que amamos.
Já não vos disse um dia que o amor tornará doce o que vos parece agora
tão amargo porque não amais bastante? O meio mais infalível para chegar
depressa à união com Jesus, é o amor, mas o amor unido ao sofrimento. Se
soubésseis como o sofrimento é bom para alma! São as mais doces carícias que o
divino Esposo faz àquela que ama e com quem quer se unir intimamente. Jesus
envia à alma que ama, sofrimento sobre sofrimento, penas sobre penas, a fim de
desapegá–la de tudo que a cerca… Então pode lhe falar ao coração.
(Abril) — Jesus não vos deixará em paz enquanto não tiverdes chegado à
perfeição que Ele quer de vós. Voltai–vos para todos os lados; enquanto a vossa
vontade não for uma só vontade com a vontade de Deus, enquanto não fizerdes
todas as ações sob o olhar de Deus, não tereis paz nem a calma interior.
O Manuscrito do Purgatório- 1880
(Janeiro) — Noite de Natal — Milhares de almas deixam o lugar da
expiação para o céu. Muitas ficaram, e eu sou do número das que ficaram. Dizeis
que a perfeição de uma alma é bem longa. É verdade. Estais admirada de que não
obstante tantas orações eu ainda fique tanto tempo sem gozar da presença de
Deus. Ai! a perfeição de uma alma no purgatório não vai mais depressa do que na
terra.
Há algumas almas que só têm alguns pecados veniais a expiar. É um número
pequeno o delas. Estas não ficam muito tempo no purgatório.
Algumas orações bem feitas, alguns sacrifícios, as livram em pouco
tempo. Porém, quando são almas como eu, e é o caso de quase todas, que passaram
a vida quase nula e que se ocupam pouco ou quase nada da sua salvação, é
preciso neste caso recomeçar a vida no lugar da expiação, aperfeiçoar a alma de
novo, amar, desejar aquele que na terra não amamos bastante. Eis porque a
libertação destas almas muitas vezes se prolonga por muito tempo.
Deus ainda me concedeu uma grande graça: a de vir pedir orações. Eu não
a merecia e sem isto eu ficaria aqui anos e anos, como a maior parte.
– As religiosas e as outras da mesma Congregação, têm relações entre si?
Resposta: – No purgatório como no céu as religiosas da mesma família não
estão sempre juntas. As almas não merecem todas a mesma penitência nem a mesma
recompensa. Entretanto, elas se reconhecem no purgatório. Podem também com
permissão de Deus se comunicarem entre elas.
– Pode-se receber uma oração, um pensamento de um amigo defunto e lhe
dar a conhecer a saudade que se tem dele?
Resposta: – No purgatório como no céu, pode-se fazer chegar até aqui a
lembrança e as saudades da terra, mas como vos disse, não são úteis às almas do
purgatório, porque elas sabem e conhecem as pessoas que se interessam por elas
na terra. Deus permite algumas vezes que delas se possa receber algum conselho,
alguma advertência. Assim, o que eu vos disse diversas vezes a respeito de São
Miguel, foi da parte de Deus, e também o que vos disse do vosso Pai espiritual.
Todas as comissões que me destes, algumas vezes, para o outro mundo, eu as fiz
sempre, mas tudo isto está subordinado à vontade de Deus.
– As faltas são conhecidas no purgatório por todos como serão no dia do
juízo?
Resposta: – Nós não conhecemos no purgatório as faltas dos outros,
exceto quando Deus o permite para certas almas, mas segundo seus desígnios, e
isto para muito poucas almas…
– Tendes de Deus um conhecimento mais perfeito do que o nosso?
Resposta: — Ó, que pergunta! Sim, nós o conhecemos muito melhor, e o
amamos muito melhor, e também muito mais! Ai! E é isto o que causa nosso maior
tormento! Na terra não se sabe o que é o Bom Deus! Fazem dele uma ideia muito
estreita; mas nós, ao deixarmos nosso invólucro de carne, de barro, então, nada
entrava mais a liberdade de nossa alma. É então, e só então, que conhecemos a
Deus, sua bondade e suas misericórdias e seu amor! Depois desta visão tão
clara, esta necessidade tão grande de se unir a Deus, a alma tende a se voltar
para Ele, e é repelida porque não é bastante pura. Eis o sofrimento!… É o mais
duro e mais amargo dos sofrimentos. Ó se nos fosse permitido voltar à terra
depois que conhecemos assim ao bom Deus, que vida não haveríamos de levar! Mas…
inúteis arrependimentos!… E no entanto, na terra não se pensa nisto e se vive
na cegueira!. . . Não se dá importância para a eternidade! A terra é uma
passagem onde só se recebe um corpo que por sua vez há de voltar à terra. E só
pensam e desejam a terra e não pensam no céu! E Jesus e o amor de Jesus sempre
esquecidos!
— No purgatório as almas se consolam mutuamente no amor de Deus, ou cada
uma delas é completamente isolada em cada sofrimento?
Resposta: — No purgatório nossa única consolação, nossa única esperança
é só Deus. Na terra Deus permite que a gente seja consolada às vezes nas penas
do corpo e do espírito por um coração amigo. Se neste coração não encontra
ainda o amor de Jesus, as consolações são vãs e perdidas, mas aqui, as almas
estão abismadas em Deus na vontade divina, e só Deus pode aliviar a dor que
padecem… Todas as almas são torturadas, cada uma segundo a culpa que têm, mas
todas têm uma dor comum que ultrapassa as demais: a ausência de Jesus que é
nosso alimento, nossa vida, nosso tudo. E estamos separadas dele por nossa
culpa!
Depois de uma ação, não é preciso voltar atrás e andar perdendo tempo em
examinar se a fez bem ou mal. É certo que é preciso examinar as ações de cada
dia a fim de as fazer sempre melhor, mas que isto não seja à custa da
tranquilidade da alma. Deus ama muito as almas simples. É preciso ir a Ele com
grande simplicidade, boa vontade sempre pronta a se sacrificar por Ele, e lhe
dar prazer. Deveis proceder para com Jesus como uma criancinha com sua mãe,
confiando na bondade dele, entregando-lhe nas mãos divinas todos os vossos
interesses espirituais e corporais, e depois, procurá-lo sempre em tudo,
agradar em tudo sem vos preocupardes com outra coisa.
Deus não olha tanto as grandes ações, os atos heroicos, como uma ação
simples, um pequeno sacrifício, contanto que estas ações sejam feitas por amor.
Quantas vezes um pequeno sacrifício conhecido só de Deus e da alma que o
praticou, não se torna mais meritório que um outro muito maior que foi
aplaudido! É mister sermos bem interiores para não tomarmos para nós os elogios
que se nos fazem.
Deus procura almas vazias de si mesmas, para enchê-las de seu divino
amor. Encontra muito poucas. O amor de si não deixa lugar para Jesus. Não
deixeis passar nenhuma ocasião de vos mortificar, principalmente no interior.
Jesus tem muitas graças para vos conceder na quaresma, preparai-vos por grande
fervor e um grande amor. Amai a Jesus, principalmente. Ele é tão pouco amado
pelo mundo e é tão ultrajado!
A Santíssima Virgem vos ama muito. Da vossa parte amai-a também de todo
coração e procurai glorificá-la o mais que vos for possível.
Nunca chegareis a compreender bem a bondade de Deus. Se alguém
refletisse bem algumas vezes, seria suficiente para ficar santo; mas neste
mundo não se conhecem bem a misericórdia e a bondade do coração de Jesus! Cada
um as mede segundo o seu modo de ver, e esta maneira é defeituosa. Daí vem que
se reza tão mal!
Sim, poucas pessoas sabem rezar como Jesus o quisera. Falta-se à
confiança, e no entanto, Jesus só nos ouve depois do ardor dos nossos desejos e
na medida do nosso amor. Eis porque muitas vezes as graças que se pedem ficam
sem efeito.
É preciso ver tudo como provindo da bondade de Jesus: o que aflige como
o que consola. É o amor que tudo faz para nosso bem, o bem dos seus amigos,
Deus quer de nós principalmente amor e que luteis assim contra vós mesma,
contra vossas más inclinações, e procedeis com espírito de fé. Pois bem, a fé
cederá à realidade. É mister proceder como se Jesus estivesse sempre presente.
E que isto vos seja uma coisa natural, apesar de ser tão sobrenatural!
— As promessas feitas em favor daqueles que rezam o terço de São Miguel
são verdadeiras?
Resposta: — As promessas são reais, mas não se deve acreditar que as
pessoas que rezam o terço por rotina e sem procurar fazê-lo com perfeição,
sejam logo tiradas do purgatório. Seria, um erro. São Miguel faz muito mais
ainda do que promete, mas os que estão condenados a um longo purgatório, ele
não os retira assim tão depressa! É verdade que a lembrança da devoção ao Santo
Arcanjo alivia muito as almas, mas que sejam de todo libertadas do purgatório,
não. Eu que o diga, eu posso bem servir de exemplo!… A libertação imediata só a
terão as pessoas que trabalharam corajosamente para a sua perfeição, e que
tiveram pouca coisa a expiar no purgatório.
A França é bem culpada, e infelizmente ela não está só! Neste momento
não há um reino cristão que não procure aberta ou surdamente expulsar Deus do
seu seio. As sociedades secretas e o diabo fomentam estas revoltas. É agora a
hora do príncipe das trevas. Deus há de mostrar que só Ele é o Senhor único!
Talvez não seja feito isto com doçura, e fará sentir o seu poder, mas nos
próprios castigos Jesus é misericordioso. São Miguel há de intervir na luta
pessoal da igreja. Ele é o chefe desta Igreja tão perseguida, mas que não será
aniquilada como pensam os maus. Quando há de intervir São Miguel, eu não o sei.
É preciso rezar muito nesta intenção, invocar o Arcanjo lembrando-lhe os
títulos que tem, pedir-lhe a intercessão junto daquele sobre o qual tem tanto
poder!
Que não se esqueçam da Santíssima Virgem! A França é o seu reino
privilegiado. Ela o salvará. Fazem muito bem em pedir, por toda parte, rosários
e terços. E esta oração é a mais eficaz nas necessidades presentes!
No purgatório nós não recebemos as indulgências que nos são aplicadas,
senão à maneira de sufrágio e como Deus o permite, e segundo as suas divinas
disposições. É verdade que não temos apego ao pecado, mas não estamos sob o
reino da misericórdia, mas sob o império da justiça, e desta justiça recebemos
o que Deus quer que nos seja aplicado.
(Maio) — Trabalhai sem descanso e com todas as vossas forças para a
vossa perfeição. Tendes bastante firmeza de caráter para vencer todas as
dificuldades que se opõe à vossa união com Jesus, até que chegueis lá onde Ele
quer.
Vossa vida será um martírio perpétuo. Custa muito renunciar–se a cada
instante. É um martírio contínuo, mas neste martírio se experimentam as mais
doces alegrias. A alma sofre, mas aquele por quem ela sofre lhe concede a cada
sacrifício, a cada renúncia, uma graça que a anima e encoraja a caminhar sempre
avante, e a se entregar sempre mais. Nada agrada tanto a Nosso Senhor como ver
uma alma que se esforça, não obstante todos os obstáculos que se encontram no
caminho, para poder se entregar cada vez mais para a glória e pelo amor de
Deus.
Estais aflita por ver que Deus é insultado em Paris, mas estas pessoas
não sabem o que fazem, e Jesus se sente mais insultado e ofendido com os
pecados que cometem as almas que lhe são consagradas e não são o que deveriam
ser, do que com as injúrias daqueles que não são seus amigos.
Jesus quisera o amásseis com um amor de criança, isto é, com a ternura
de uma criança que só quer agradar aos seus paizinhos queridos, e, no entanto,
sois tão fria para com Jesus! Não é isto que Ele espera de vós, a quem tanto
ama!
Não dirigis vossa pureza de intenção como Deus o quer. Assim, ao invés
de oferecer de um modo vago as intenções, podeis fazer com mais fruto tendo as
intenções bem determinadas. Por exemplo: quando tomais a refeição dizei: “Meu
Jesus, alimentai a minha alma com a vossa Santa graça, assim como eu alimento
agora meu corpo”.
Quando lavais vosso rosto ou vossas mãos: “Meu Jesus purificai a minha
alma como eu o faço com meu corpo”. E assim em cada uma das ações. Habituai–vos
a falar sempre a Jesus com o coração. Que Ele seja tudo no que fazeis ou
dizeis.
É preciso nunca se desculpar. Que vos adianta que vos julguem culpada,
quando não o sois? E se reconheceis uma falta, humilhai-vos e… silêncio! Não
vos desculpeis nem em pensamento.
Só as ações feitas com grande amor, sob o olhar de Deus, para cumprir a
sua santa vontade, só elas terão a recompensa imediata, ao passar pelo
purgatório. Que cegueira há no mundo a este respeito!
O Manuscrito do Purgatório- 1879 parte II
1879 parte II
— Que
distância há entre a terra que habitamos e o purgatório?
Resposta: —
O purgatório está no centro do globo. A terra mesma não é um purgatório? Entre
as pessoas que nela moram, umas aí fazem o seu purgatório inteiramente pela
penitência voluntária ou aceita. Estas, depois da morte, vão diretamente para o
céu. Outras, começam o purgatório na terra, porque a terra é um lugar de
sofrimento, mas estas almas como não têm bastante generosidade, vão acabar o
seu purgatório da terra no purgatório real.
— As mortes
repentinas são uma justiça ou uma misericórdia de Deus?
Resposta: —
Estas espécies de mortes às vezes são justiça e outras misericórdia de Deus.
Quando uma alma tem o temor de Deus e Deus sabe que ela está preparada para
comparecer diante d’Ele, para lhe poupar os horrores da angústia que poderia
ter nos últimos momentos, Deus a retira deste mundo com uma morte repentina.
Às vezes
também Deus toma estas almas por justiça. Não ficam de todo perdidas, mas sem
os últimos sacramentos, ou recebendo-os às pressas, sem estarem preparadas para
a última viagem, seu purgatório é bem mais doloroso e se prolonga muito.
Outros
encheram a medida de seus crimes, abafaram a voz de todas as graças divinas e
Deus as tira da terra a fim de que não excitem mais a vingança divina.
— O fogo do
purgatório é um fogo como o da terra?
Resposta: —
Sim, com esta diferença: o fogo do purgatório é uma purificação da justiça
divina e o da terra é bem “doce” comparado com o do purgatório. É uma sombra
junto dos grandes braseiros da divina justiça.
– Como uma
alma pode se queimar?
Resposta: —
Por uma justa permissão de Deus. A alma foi verdadeira culpada, pois o corpo
nada mais fez que obedecê-la (que malícia, ter um corpo morto?); a alma sofre
como se ela tivesse corpo para sofrer.
— Dizei-me o
que se passa na agonia e depois? A alma encontra a luz nas trevas? Sob que
forma se pronuncia a sentença?
Resposta: —
Eu não tive agonia, como bem sabeis, mas eu posso vos dizer que no último
momento decisivo, o demônio emprega toda a sua raiva em torno dos agonizantes.
Deus, para dar mais mérito às almas, permite que elas sofram as últimas provas
nestes últimos combates, sobretudo as almas fortes e generosas, a fim de que
tenham um lugar mais belo no céu. Muitas vezes, no fim da vida, naqueles
transes da morte, naquelas lutas terríveis contra o anjo das trevas (fostes
testemunha disto…), saem elas vitoriosas. Deus não permite que uma alma que lhe
foi dedicada na vida, pereça nestes últimos momentos.
As pessoas
que amaram a Santíssima Virgem e a invocaram toda a vida, recebem dela muitas
graças nas últimas lutas. Acontece o mesmo para as que foram devotas de São
José e de São Miguel, ou de algum santo. Nesta hora, então, é que a gente é
muito feliz de ter um intercessor junto de Deus neste momento penoso! Há almas
que morrem tranquilas, sem nada experimentarem do que acabo de vos dizer. Deus
tem seus desígnios em tudo. Faz ou permite tudo para o bem particular de cada
um.
Como hei de
vos descrever o que se passa depois da agonia? Não é possível compreender o que
se passa então. Vou procurar explicar da melhor maneira que puder.
A alma, ao
deixar o corpo, se encontra toda tomada, toda investida, se assim posso me
exprimir, de Deus. Ela se encontra numa tal claridade, que num instante percebe
toda a sua vida e o que ela mereceu. É em meio desta visão clara que se
pronuncia sua sentença. Se é uma alma culpada, e por conseguinte merece o
purgatório como eu, ela fica de tal maneira esmagada sob o peso das suas faltas
que ficam para apagar, que ela por si mesma se atira no purgatório. A alma vê o
bom Deus, mas está aniquilada na sua presença. É só então que a gente compreende
o bom Deus, o seu grande amor pelas almas, e que desgraça é o pecado aos olhos
da Majestade Divina! Eu vi também meu Anjo da Guarda.
Para vos dar
a entender como é que São Miguel leva as almas ao purgatório, porque uma alma
não se leva, eu vos digo que é neste sentido que ele está presente na execução
da sentença.
Tudo quanto
se passa no outro mundo é um mistério para o vosso!
— E quando
uma alma vai direto para o céu?
Para esta
alma a união começada com Jesus na terra, continua no céu, na morte, eis o céu,
mas a união do céu é muito mais intima que a da terra.
Tendes muita
razão de não gostar dos êxtases. É preciso aceitá-los quando Deus os envia, mas
Ele não quer que a gente os deseje. Não são estas coisas que levam ao céu. Uma
vida mortificada, e humilde, é muito mais para se desejar e é muito mais
segura. É verdade que diversos santos tiveram revelações de Deus, que lhes dava
isto depois de longos combates, e de uma vida de renúncia, ou ainda porque
queria se servir deles para grandes coisas, tendo em vista a sua maior glória.
Todavia, tudo isto se fez sem ruído, sem brilho, no silêncio da oração e quando
eram descobertos, ficavam envergonhados e não falavam disto senão por
obediência. Pelo que me dizeis, podeis ficar tranquila.
Eis como se
pode conhecer quando uma graça vem de Deus.
Estas graças
vêm como uma onda que vos surpreende num belo dia, como urna chuva em pleno dia
claro, que se despeja sobre a alma, quando o céu parece mais sereno. Não se
deve temer então haver procurado isto, pois nem se pensou nisto às vezes.
Haveis de ter observado isto diversas vezes.
É muito
diferente isto das graças que julgam serem dadas por Jesus, e, pelo contrário,
não são mais do que trabalho da imaginação que as produziu. Estas devem ser
temidas porque o demônio se aproveita, de um cérebro fraco, de um temperamento
mole e de um juízo pouco equilibrado, e ilude estas pobres almas que entretanto
não pecam, contanto que se submetam às pessoas que as dirigem. E posso vos
dizer que há muitas destas neste mundo de hoje… O demônio procede assim para
lançar a religião ao ridículo.
Poucas
pessoas amam a Deus como Ele quer. Elas se procuram a si mesmas, julgando
procurar a Deus, e sonham com uma santidade que não é verdadeira.
—
Dizei-me então em que consiste a verdadeira santidade?
Resposta: —
Já o sabeis, mas já que desejais, vou repetir o que já foi dito diversas vezes.
A verdadeira
santidade consiste em se renunciar de amanhã à noite, viver de sacrifício.
Saber pôr de lado a toda hora o “eu” humano, deixar que Deus trabalhe como
queira em nós. Receber, com uma profunda humildade, as graças que Ele nos dá,
reconhecendo-se indigna delas. Estar quanto possível sempre na presença de
Deus. Fazer todas as ações sob o divino olhar e não procurar outra testemunha
para os próprios esforços. Ter a Deus como única recompensa, e todas as coisas
que eu já vos disse. Eis a santidade que Jesus exige e quer das almas que
querem viver só para Ele. O resto não é mais que ilusão.
Certas almas
fazem, pelo sofrimento, o seu purgatório na terra; outras por amor, porque o
amor tem também um martírio. A alma que procura amar verdadeiramente a Jesus,
acha que, apesar dos seus esforços, ela não o ama na medida dos seus desejos.
Isto é para a alma um martírio perpétuo, causado unicamente pelo amor, e não é
um martírio sem grandes dores! É como já vos disse, um pouco daquele estado da
alma do purgatório que impele incessantemente para Deus, seu único desejo, e se
vê repelida porque sua expiação não está acabada!
— Se eu não tivesse falado e ninguém tudo o que me dizeis desde que
estou vos ouvindo, qual seria o resultado? Sabeis que eu tenho um grande desejo
de guardar segredo, guardar isto tudo só comigo?
Resposta: —
Sois livre de o fazer ou não, mas se ainda não falastes disto, eu vos aconselho
a que o façais, porque Deus nunca permitiu que a perfeição de ninguém viesse
diretamente do céu. Ela habita na terra, e quer que na terra mesmo ela se
aperfeiçoe, segundo os conselhos que recebe para isto. Fizestes bem em confiar
o que vos custava tanto dizer. E demais, tudo isto não vem de vós, e Deus, que
de tudo sabe tirar proveito para a sua glória, dirige tudo para proveito
daqueles que Ele ama.
(Novembro-Dezembro) — O dia e a oitava dos Defuntos
trazem uma alegria no purgatório e se livram muitas almas?
Resposta: — No dia dos Mortos muitas almas deixam o lugar de expiação
para o céu, e por uma grande graça do Bom Deus, só neste dia todas as almas
sofredoras, sem exceção, têm parte nas orações públicas da Santa Igreja, até
mesmo as do grande purgatório. Entretanto, o
alívio de cada alma é proporcionado ao seu mérito. Umas recebem mais, outras
menos. Entretanto, todas aproveitam esta graça excepcional. Muitas almas,
pobres almas, só recebem este único alívio pela justiça de Deus, durante os
longos anos que passam no purgatório.
– Entretanto, não é no dia dos mortos que sobem mais almas ao céu. É
na noite de Natal?
Há muitas
coisas que eu vos poderia dizer, mas eu não tenho permissão.
É preciso
que me interrogueis, porque então eu posso responder. Eu estou bem aliviada
pelas orações do Reverendo Padre. Dizei-lhe que lhe agradeço pelas orações que
fez e que mandou fazer por minha intenção. Eu rezo sempre por ele. Espero fazer
mais ainda quando eu estiver no céu. Dizei-lhe também que eu sei que ele reza
por mim e pelas almas do purgatório.
Por
permissão de Deus há um sofrimento maior para as almas, quando as orações que
se fazem por elas não lhes podem ser aproveitadas.
No
purgatório não se recebem as orações da terra senão na medida em que Deus quer
que sejam aproveitadas às almas. Depende da disposição de Deus.
Quanto ao
tempo da nossa libertação, não sabemos nada. Se soubéssemos o fim dos nossos
sofrimentos, seria um alívio, uma alegria para nós, mas não! Vemos bem que
nossas dores diminuem quando a nossa união com Deus se torna mais íntima, mas
em que dia? (segundo a terra, porque não há dias), e em que dia estaremos todos
reunidos? Não o sabemos, é o segredo de Deus!…
As almas do
purgatório não têm conhecimento do futuro, a não ser que Deus lhes queira dar
isto. Algumas almas o possuem, umas mais, outras menos. Mas o que adianta saber
o futuro para nós, a menos que se trate da glória de Deus e do bem de algumas
almas?
Não se
admirem se o demônio e seus satélites têm algumas vezes conhecimento de coisas
que se realizam no futuro. O diabo é um espírito e, por conseguinte, tem mais
astúcias e conhecimentos do que qualquer pessoa na terra, à exceção dos santos,
aos quais Deus ilumina com suas luzes. Ele, o diabo, procura rondar por toda
parte, procurando o mal. Ele vê o que se passa, no mundo, e segundo a sua
sagacidade, pode prever coisas que se vão realizar. Eis a única explicação.
Desgraçados
são aqueles que se entregam ao demônio e o consultam! É um pecado que desagrada
a Deus, e muito! (Não está aí uma condenação do espiritismo, que muitas vezes é
uma consulta ao diabo? – Nota do tradutor).
— As
almas podem alguma vez se enganarem?
Resposta: —
Sim, mas não quanto às coisas que existem, só quanto ao futuro. Pode acontecer,
por exemplo, que Deus na sua Justiça queira castigar um reino, uma província,
uma pessoa, é uma intenção que Ele manifestou. Todavia, se alguma pessoa
daquele reino, daquela província pela oração ou por outros meios, desarma a
Divina Justiça, Deus dará a graça, concederá a graça ou diminuirá o castigo,
segundo as previsões da sua infinita sabedoria. Muitas vezes permite que os
grandes acontecimentos sejam preditos antes ou os dá a conhecer a algumas almas
a fim de que elas previnam e afastem o castigo. A misericórdia de Deus é tão
grande, que Ele não castiga senão em caso extremo. Assim para aquela pessoa de
que me falaste outro dia. Deus me fez conhecer que não lhe infligirá castigo,
senão pela metade, se ela permanecer nas mesmas disposições. Eis como a gente
pode às vezes parecer que se engana.
– Há
muitos protestantes salvos?
Resposta: —
Pela misericórdia de Deus, um certo número de protestantes se salva, mas o
purgatório deles é longo e rigoroso. Eles não abusaram da graça, é verdade,
como muitos católicos, mas não tiveram as graças insignes dos Sacramentos e
outros socorros da verdadeira religião, o que faz com que a sua expiação se
prolongue por muito tempo no purgatório.
Eu falo mais
baixo do que de costume, porque há oito dias vós falais muito baixo com Deus na
recitação dos Salmos. Quando rezardes mais alto, eu falarei também mais alto.
—
Conheceis no purgatório a perseguição que está sofrendo a Igreja?
Resposta: —
Sabemos que a Igreja está sendo perseguida e rezamos pelo seu triunfo, mas
quando será ele? Eu o ignoro. Talvez algumas almas o saibam. Eu não o sei ..
No
purgatório as almas não ficam só ocupadas com seus sofrimentos. Elas rezam
pelos grandes interesses de Deus, pelas pessoas para abreviar seus sofrimentos.
Louvam, agradecem a Nosso Senhor as misericórdias infinitas para com elas,
porque o limite do purgatório e do inferno para muitas almas foi bem extremo, e
por um pouco não se condenaram! Imaginai qual não há de ser o reconhecimento, a
gratidão destas almas que foram assim arrancadas de Satã!
Eu não vos
posso explicar como vemos nós a terra, de modo muito diferente do vosso modo de
ver. Isto só se pode entender quando a alma deixa o corpo. Então a terra que
ela acaba de deixar não lhe há de parecer mais do que um pontozinho no
horizonte sem fim da eternidade que se abre para ela.
Eu recebo
mais alívio de uma das ações de graças feita com uma grande união a Jesus, do
que de uma oração vocal. O que Deus mais ouve? Tudo o que é feito com espírito
interior. Quanto mais íntima é a união de uma alma com Deus, mais esta alma é
ouvida. Uma alma intimamente unida a Jesus, é dona do seu Coração Divino.
Deveis procurar sempre esta união que Jesus espera de há muito tempo de vós. Se
quereis agradá-lo, eis o único meio: aproximar-se sempre mais do seu Coração,
por uma grande atenção aos menores desejos da sua Vontade Santíssima. É preciso
que Ele vos vire e revire como bem queira, sem nunca encontrar resistência da
vossa parte. Então haveis de ver e compreender sua bondade!
Procurai
trabalhar atentamente só por Deus. Não procureis outro para testemunha de
vossas ações.
(8 de
dezembro — 2 horas da tarde — Imaculada Conceição) — Ai! quantas vidas parecem
cheias de boas obras e no entanto na hora da morte estarão vazias! Se soubésseis
quão poucas são as pessoas que agem só por Deus e que praticam seus atos só por
Deus! Na morte, então ai! quando a gente não está mais cego, quanto
arrependimento! Ai! se refletissem algumas vezes no que é a eternidade! Que é
esta vida comparada com este dia sem noite para os eleitos, e esta noite que
não há de ter fim dos condenados! Ama-se tanta coisa na terra, apegam-se a tudo
neste mundo exceto a aquele que unicamente deveria merecer nossa afeição e ao
qual recusamos nosso amor! Jesus nos tabernáculos espera os corações que o
amam, e não os encontra…
— No
purgatório se ama?
Resposta: —
Sim, mas é um amor de reparação, e se na terra nós tivéssemos amado a Deus como
deveríamos, não seríamos tão numerosas e não haveria tantas almas no lugar da
expiação!
— No
céu Jesus é bem amado?
Resposta: —
No céu se ama muito a Deus. Lá Deus é desagravado, mas não como na terra. Jesus
deseja o amor na terra, na terra onde veio para se aniquilar em cada
tabernáculo, a fim de que fosse mais fácil chegarem-se a Ele. E no entanto, não
fazem isto, não o procuram nem amam!…
Eu vos disse
que há almas que fazem o seu purgatório ao pé dos altares. Elas ficam ali pelas
faltas que cometeram nas igrejas. Estas faltas que foram diretamente a Jesus
presente nos tabernáculos, são punidas com muita severidade no purgatório. As
almas que ficam diante do tabernáculo em adoração, lá estão em recompensa da
devoção ao Santo Lugar. Elas sofrem menos do que se estivessem no purgatório
mesmo, e Jesus, que elas contemplam com os olhos da alma e da fé ao mesmo
tempo, lhes alivia com sua presença real o que elas padecem.
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