7. O espiritismo, tal como foi codificado por Allan Kardec, surgiu claramente como
movimento oposto à Igreja. No dia 15 de abril de 1860 um "espírito" comunica a Allan Kardec:
- "O espiritismo é chamado a desempenhar imenso papel na terra. Ele reformará a legislação ainda tão freqüentemente contrária às leis divinas; retificará os erros da história; restaurará a religião de Cristo que se tomou, nas mãos dos padres, objeto de comércio e de tráfico vil; instituirá a verdadeira religião, a religião natural, a que parte do coração e vai diretamente a Deus, sem se deter nas franjas de uma sotaina, ou nos degraus de um altar..." (p. 299).
E no dia 9 de agosto de 1863 recebe Kardec este aviso "do além":
- "Aproxima-se a hora em que te será necessário apresentar o espiritismo qual ele é, mostrando a todos onde se encontra a verdadeira doutrina ensinada pelo Cristo. Aproxima-se a hora em que, à face do céu e da terra, terás de proclamar que o espiritismo é a única tradição verdadeiramente cristã e a única instituição verdadeiramente divina e humana" (p. 308).
8. O espiritismo se apresenta como "terceira revelação". A primeira, dizem os espíritas, veio por Moisés; a segunda por Jesus Cristo; e a terceira através dos "espíritos", principalmente do "Espírito da Verdade", o "Consolador" prometido por Jesus (cf. Jo 16,12-13 ), que teria sido o espírito guia de Allan Kardec, segundo a mensagem que ele teria recebido a 25-3-1856, ou, como lhe foi revelado no dia 14-9-1863: "Nossa ação, principalmente a do Espírito da Verdade, é constante ao teu derredor e tal que não a podes negar" (p. 309).
De fato, Allan Kardec, em A gênese, cap. I, sobre o caráter da revelação espírita, sustenta ser o espiritismo "a terceira das grandes revelações" (n. 20). Segundo ele, a primeira, de Moisés, revelou aos homens a existência de um Deus único e os dez mandamentos (n. 21); a segunda, de Cristo, mostrou que Deus não é o Deus terrível, ciumento e vingativo de Moisés; e revelou a imortalidade da alma e a vida futura (n. 22-25). Continua então Allan Kardec, no n. 26:
- "Entretanto, o Cristo acrescenta: 'Muitas das coisas que vos digo agora ainda não as compreendeis e muitas outras teria a dizer, que não compreenderíeis; por isso é que vos falo por parábolas; mais tarde, porém, enviar-vos-ei o Consolador, o Espírito de Verdade, que restabelecerá todas as coisas e vo-las explicará todas' (S. João, caps. XIV, XVI; S. Mat., capo XVII)".
Observe-se que esta citação é inexata e, como tal, não se encontra em parte nenhuma dos Evangelhos. Nem consta que Jesus teria dito que o Espírito da Verdade "restabelecerá todas as coisas". Esta afirmação foi feita por Jesus com relação a Elias (cf. Mt 17,11). Da arbitrária citação feita, conclui Allan Kardec:
- "Se o Cristo não disse tudo quanto poderia dizer, é que julgou conveniente deixar certas verdades na sombra, até que os homens chegassem ao estado de compreendê-las. Como ele próprio o confessou, seu ensino era incompleto, pois anunciava a vinda daquele que o completaria; previra, pois, que suas palavras não seriam bem interpretadas, e que os homens se desviariam do seu ensino; em suma, que desfariam o que ele fez, uma vez que todas as coisas hão de ser restabelecidas: ora, só se restabelece aquilo que foi desfeito".
Mais adiante, no n. 42, Allan Kardec garante aos seus leitores:
- "O espiritismo realiza todas as promessas do Cristo a respeito do Consolador anunciado. Ora, como é o Espírito da Verdade que preside ao grande movimento da regeneração, a promessa da sua vinda se acha por essa forma cumprida, porque, de fato, é ele o verdadeiro Consolador".
O espiritismo seria, por conseguinte, o Consolador.
A verdade, porém, é que a promessa de Jesus acerca do Espírito da Verdade não foi tão vaga para um futuro tão incerto e distante. Jesus se dirigia diretamente aos Apóstolos que estavam então com ele na última ceia: "Rogarei ao Pai e ele vos dará outro Paráclito, para que convosco permaneça para sempre, o Espírito da Verdade... O Paráclito, o Espírito, que o Pai enviará em meu nome, é que vos ensinará tudo e vos recordará tudo o que eu vos disse" (10 14,16-17.26). E pouco antes de sua ascensão mandou aos Apóstolos: "Eis que eu vos enviarei o que meu Pai prometeu do Alto" (Lc 24,49). E lhes disse ainda: "O Espírito Santo descerá sobre vós e dele recebereis força" (At 1,8). Alguns dias depois, na festa de Pentecostes, quando estavam reunidos na sala de Jerusalém, "de repente veio do céu um ruído semelhante ao soprar de impetuoso vendaval, e encheu toda a casa onde se achavam. E apareceram umas como
línguas de fogo, que se distribuíram e foram pousar sobre cada um deles. Todos ficaram cheios do Espírito Santo" (At 2,1-4).
Era a vinda do Espírito da Verdade.
9. O espiritismo tem a pretensão de ser religião. Já vimos a comunicação ("do além") do dia 9-8-1863, proclamando que "o espiritismo é a única tradição verdadeiramente cristã e a única instituição divina e humana". Vimos também a comunicação, sempre "do além", de 15-4-1860, segundo a qual o espiritismo "instituirá a verdadeira religião, a religião natural, a que parte do coração e vai diretamente a Deus, sem se deter nas franjas de uma sotaina, ou nos degraus de um altar".
No dia 1º de novembro de 1863, Allan Kardec fez na Sociedade Parisiense de Estudos spíritas um discurso sobre o tema: "É teu. Por isso permanecei nesta cidade. até serdes revestidos da força o Espiritismo uma Religião?" (reproduzido em Reformador, março de 1976, pp. 78-82). Apresentou então um resumo da Doutrina Espírita, terminando com estas palavras:
- "Eis o Credo, a religião do espiritismo, religião que pode conciliar-se com todos os cultos, isto é, com todas as maneiras de adorar a Deus. Esse é o laço que deve unir todos os espíritas numa santa comunhão de pensamentos, enquanto se espera que ele ligue todos os homens sob a bandeira da fraternidade universal".
Aqui no Brasil, a Federação Espírita, por seu Conselho Nacional, em sua reunião de 5-7-1952, declarou oficialmente e por unanimidade que "o espiritismo é religião". Em outra oportunidade a mesma Federação fez esta declaração:
- "Os espíritas do Brasil, reunidos no II Congresso Espírita Internacional Panamericano, com expressões de maior respeito à liberdade de pensamento e de consciência, afirmam que, no Brasil, a Doutrina Espírita, sem prejuízo de seus aspectos científicos e filosóficos, é fundamentada no Evangelho de Cristo, certo de ser o Consolador Prometido de que nos falam aqueles mesmos Evangelhos. Por isso é que nós outros, que vivemos no Brasil ligados à doutrina espírita, consideramo-la a religião".
No prefácio ao livro Religião, de Carlos Imbassahy (de 1944; cito a edição de 1982, da FEB), escrevia o Sr. Guillon Ribeiro, então presidente da Federação Espírita Brasileira:
- "Surgindo, como dissemos, em cumprimento de uma das promessas do Cristo, que personifica a única Igreja verdadeiramente universal, o espiritismo é, sem dúvida, a revivescência do vero cristianismo, agora desempecido de todos os véus da letra, de todas as obscuridades do mistério, do manto maravilhoso do milagre, as três principais geratrizes dos dogmas. Nenhuma outra doutrina, conseqüentemente, lhe pode disputar a qualidade de religião.
Tão predominante é nele essa qualidade, que não há tê-lo por 'uma' religião, mas como 'a' religião, no mais lato sentido do vocábulo".
O atual presidente da Federação, o Sr. Francisco Thiesen, insiste, na obra Allan Kardec,
vol. III, 1982, p. 53:
- "Os que se atêm ao fato de que o espiritismo é a religião - não apenas mais uma religião - sabem, como sabia o insigne Allan Kardec, que é de todo intolerável, além de contraproducente, pretender competir com qualquer das religiões - manifestações fragmentárias da revelação -, pois o espiritismo em verdade as abrange".
Assim leio no órgão oficial da Federação Espírita Brasileira, Reformador, junho de 1979,
p. 19: "Não há fugir: se o espiritismo, na conceituação de seu Codificador, realiza todas as promessas do Cristo a respeito do Consolador, vindo até a completar o ensino do Cristo, e se o grande intérprete do sentir das entidades espirituais nos assevera que o espiritismo evangélico é o Consolador, ilógico seria, portanto, que não aceitássemos o espiritismo como religião" .
___________________________________
Fonte: Espiritismo – orientação para católicos
Frei Boaventura Kloppenburg
7ª ed. 2002
Frei Boaventura Kloppenburg
7ª ed. 2002
Nenhum comentário:
Postar um comentário