Honrando Cristo Senhor nosso, de
muitos modos, em vida, a seu estimado Pai, continuou a honrá-lo também depois
de morto, mandando logo aos Arcanjos São Miguel e Gabriel que conduzissem sua
alma em companhia de muitos Coros de Anjos para o repouso do Limbo ou Seio de
Abraão, onde esperavam as almas dos Patriarcas, Reis, Profetas e mais Justos
pela redenção do gênero humano. Ali entrou o Bem-aventurado José com o especial
caráter de legado e como precursor de Jesus Cristo, para os consolar e animar
de novo suas esperanças.
Que alegres festas fariam,
contempla um Varão pio e douto, à puríssima alma de São José aqueles Santos
Padres, que ali estavam, sabendo dos Anjos quem ele era, as dignidades e
prerrogativas, que no mundo lograra? Como o cercariam todos, e lhe diriam
contentes: Oh alma venturosa de tão ditoso corpo, cujos olhos mereceram ver e
gozar o que nós há tanto tempo suspiramos; informai-nos, alma felicíssima, da
vinda do Messias ao mundo e de suas perfeições e excelências. Dizei-nos se está
já chegado o prazo e o fim deste nosso tão dilatado desterro. De tudo lhe daria
o Santo Patriarca mui plena e exata informação.
Nesta feliz menção sentia a alma de
São José a ausência de Cristo, e tanto mais quanto amava a Jesus mais que
todos; passando o tempo em contínuas súplicas, orando ao Céu que viesse o
Senhor tirá-lo daquelas prisões, em que estava, até que o Redentor do mundo
concluindo a redenção do gênero humano, triunfou da morte, e desceu glorioso ao
Limbo, como Rei soberano e vitorioso.
É crível que o Senhor depois que
todos o adoraram, e ele abraçou a todos, tratasse a São José seu estimado Pai,
com maior carinho e atenção. Ao entender do iluminado espírito de São Francisco
de Salles, falaria assim a Cristo o venturoso São José: “Senhor, e Redentor
meu, lembrai-vos, se é do vosso agrado, que, quando baixastes do Céu à terra,
vos recebi em minha casa e em minha família, e que, depois que nascestes, vos
recebi entre os meus braços; agora que
haveis de subir ao Céu, levai-me convosco. Eu vos recebi na minha família,
recebei-me agora na vossa; e como eu tive cuidado de alimentar-vos, enquanto
durou a vida mortal, cuidai agora de mim e conduzi-me à vida eterna”.
Assim o fez o Senhor como Filho
amantíssimo e agradecido, ressuscitando-o juntamente no dia da sua prodigiosa
Ressurreição, em corpo glorioso. Diz o Evangelista São Mateus, no capítulo 27,
que ressuscitaram como Jesus Cristo muitos corpos de Santos, os quais,
levantando-se e saindo de suas sepulturas depois de Cristo ressuscitado, vieram
à Santa Cidade de Jerusalém e apareceram a muitos; e, entre estes que
ressuscitaram, não há outro, que com mais razão pudesse gozar deste privilégio que
o glorioso São José.
A razão é persuasiva; porque, sendo
o fim deste prodígio testemunhar aos de Jerusalém que Jesus Cristo havia
ressuscitado verdadeiramente, é crível que fossem aqueles justos, que pouco
tempo antes tivessem falecido e fossem conhecidos em Jerusalém, e ninguém
melhor que São José, o qual, na Cidade e em seus contornos se tinha feito
conhecido de todos e era reputado por Pai de Jesus. Também é muito verossímil
que os Justos, que ressuscitaram, fossem aqueles, que tinham maior conexão com
Cristo ou por parentesco, ou por virtudes, e em nenhum outro se achavam mais
unidas estas condições, que no gloriosíssimo Patriarca São José.
É tradição da Igreja, recebida e
celebrada por todos ou fiéis e Doutores sem controvérsia, que a primeira pessoa,
a quem Cristo pareceu ressuscitado e glorioso, foi a sua Mãe Santíssima;
porque, segundo a regra do Apóstolo, assim como tinha sido a primeira nas
dores, o fosse também nas consolações; e, como na companhia do Senhor vinha São
José, como piamente cremos, é indubitável que na Virgem seriam iguais os
júbilos com a vista alegre do Filho e do Esposo ressuscitado. Então podemos
dizer que também ressuscitará o esposo da Virgem Maria, assim como de Jacó diz
a Escritura que ressuscitara, quando soube ser vivo seu filho José, que tinha
chorado como morto.
Nenhum Santo há que se atreva a
declarar os extremos de alegria e gozo inefável, com que a cheia de graça foi
também cheia de glória nestes dias de seu maior júbilo, dando e recebendo
parabéns da Ressurreição do Filho e do Esposo. O Filho, para consolar
inteiramente a Mãe do trabalhos passados com a glória presente, lhe diria que
já era tempo de primavera festiva e alegre, que já nasciam e renasciam flores
do mesmo sepulcro, trocando-se as suas chagas em lírios vistosos; e, entre as
belas flores do ameno jardim de Nazaré resplandecentes e formosas, lhe
mostraria o Senhor, em traje de jardineiro, a açucena cândida de seu
felicíssimo Esposo, o sempre Virgem São José.
Acrescenta São Bernardino de Sena,
dizendo que Cristo Senhor nosso levara consigo ressuscitado a São José, cheio
de grande glória, para que aliviasse a pena de sua Esposa Maria Santíssima, e
que lho mostrara entre todos os Santos Padres com um especialíssimo diadema de
ouro na cabeça em forma de Cruz, significando assim como era superior aos mais
Santos, como o ouro aos outros metais.
Não é pequena a controvérsia e mui
debatida entre antigos e modernos sobre a natureza dos Justos, que
ressuscitaram com Cristo, se foi no estado de vida mortal, como sucedeu a
Lázaro, ou no de vida gloriosa para nunca mais morrer. De certo nada está
decidido, e a respeito há duas opiniões. A primeira afirma que aqueles Santos
ressuscitaram por pouco tempo, e para tornarem outra vez a morrer. Seguem-na
Santo Agostinho, São Tomás.
A segunda opinião, porém, é que
aquela ressurreição dos Justos fora para vida imortal e gloriosa, e pela qual
militam muitos Doutores. A razão é, porque de outra maneira ficariam aqueles
Bem-aventurados em pior condição, do que quando estavam no escuro cárcere do
Limbo, se ficassem na vida terrestre para morrerem outra vez. Das mesmas
palavras do Evangelista, que diz apareceram a muitos esses Santos
ressuscitados, e não a todos, se infere que eles tinham corpos glorificados, em
cujo poder estava manifestar-se, ou ocultar-se, quando e como queriam, para
confirmar a evidência da Ressurreição de Cristo.
E, como este Senhor dizia que as
suas delícias era estar com os filhos dos homens, é de crer, diz o grande
Suares, que tivesse deles alguns companheiros de sua glória em corpo e alma,
para que, assim como se manifesta a Divina Justiça havendo no Inferno alguns
homens em corpo e alma, antes de geral ressurreição dos condenados, como Dathan
e Abiron, Levitas sediciosos, assim convinha que, para demonstração da Divina
misericórdia e Redenção copiosíssima de Jesus Cristo, recebesse no Céu alguns
Justos glorificados em corpo e alma, antes da ressurreição universal dos
Bem-aventurados.
Assim sendo, faz-se crível que o
Senhor, no dia da sua admirável Ascensão, levasse consigo para a Jerusalém
Celeste o glorioso São José em corpo e alma, para gozar dos prêmios inefáveis
da Bem-aventurança. Pregando isto em Pádua, São Bernardino de Sena, diz André de
Soto que, quando o Santo discorria sobre o assunto, viu o auditório
resplandecer sobre a cabeça do Santo um Cruz de ouro; e acrescenta Carthagena
que nenhuma dificuldade tem em dar crédito a este prodígio, pois que o mesmo
Santo dissera as seguintes palavras:
“Piamente se há de crer que o
piedosíssimo Filho de Deus honrasse com semelhante privilégio a seu Pai
virginal, assim como honrou a sua Santíssima Mãe; e, assim como levou a Virgem
gloriosa para o Céu em corpo e alma, assim também no dia, em que ressuscitou,
levou consigo o Santíssimo José gloriosamente ressuscitado, para que, da mesma
sorte que os membros da Sacra Família, Jesus, Maria e José viveram juntos na
terra em vida trabalhosa e em união de graça, assim em amorosa glória reinem no
Céu e corpo e alma; ou, como diz Riquelio, para que assim como há no Céu uma
Santíssima Trindade de Pessoas na natureza Divina, Pai, Filho e Espírito Santo,
houvesse também na terra outra adorável Trindade de Pessoas, a saber: Jesus,
Maria, José”.
- - - - - - - - - - - -
A vida de São José pela Associação de Adoração
Contínua a Jesus Sacramentado - Livraria Francisco Alves, 1927
Nenhum comentário:
Postar um comentário