Manuscrito do Purgatório- 1874



(24 de março, 29 domingo de Páscoa) – Ide muitas vezes quanto vos for possível, amanhã, diante do Santíssimo Sacramento. Como eu vos acompanho, terei de estar perto do bom Deus, e isto me alivia.
(Anunciação) – Estou agora, no segundo purgatório. Desde minha morte eu estava no primeiro, onde se sofrem dores muito grandes. Sofre-se também muito no segundo, porém, menos que no primeiro.
Sede sempre um apoio da vossa Superiora.
(Maio) — Eu estou no segundo purgatório desde o dia da Anunciação da Santíssima Virgem. Neste dia, vi pela primeira vez a Santíssima Virgem, porque no primeiro purgatório a gente não a vê. A visita de Maria nos anima, e depois esta boa Mãe nos fala do céu. Enquanto a vemos, nossos sofrimentos parecem diminuídos.
Ai! como desejo ver o céu! Ó que martírio sofremos desde que conhecemos o bom Deus!
O que eu penso… Deus o permite para o vosso bem e para meu alívio. Ouvi bem o que vos vou dizer: Deus tem grandes desígnios, graças para vos conceder. Quer Ele que salveis um grande número de almas. Se por vosso procedimento puserdes obstáculo a isto, um dia haveis de responder por todas as almas que poderíeis ter salvo.
É verdade que não sois digna, mas Deus permitiu isto tudo… Ele é o Senhor e concede as suas graças a quem lhe apraz.
Fazeis muito bem em rezar e mandar rezar para São Miguel. A gente é muito feliz na hora da morte por ter confiança, em alguns santos, para que sejam nossos protetores junto de Deus naquele terrível momento.
Lembrai às vossas filhas as grandes verdades eternas. É preciso abalar as almas de vez em quando com estas verdades.
Não deveis viver senão para Deus. Procurai em toda parte e sempre a glória de Deus.
Quanto bem não podeis fazer às almas!
Nada deveis fazer que não seja para agradar a Deus. Antes de cada ação, recolher-se um momento e ver se é coisa que agrade a Deus. Tudo pelo vosso Jesus. Ó, amai-o muito!
Sim, eu sofro, mas o meu maior tormento é não ver a Deus. É um martírio contínuo que me faz sofrer mais do que o fogo do purgatório. Se mais tarde chegardes a amar a Deus como Ele o quer, haveis de sentir um pouco deste langor que faz desejar a união com o objeto do seu amor: o bom Jesus.
Sim, nós vemos algumas vezes a São José, mas não tantas vezes como a Nossa Senhora.
É preciso que fiqueis indiferente para com tudo, exceto para com Deus. Eis como chegareis ao cume da perfeição a que Jesus vos chama.
Madre N. não teve as Missas que mandou dizer por ela. As religiosas não têm o direito de dispor dos seus bens. É contra a pobreza.
Deus nunca recusa as graças que lhe pedem numa oração bem feita.
O purgatório das religiosas é mais longo e rigoroso que o das pessoas do mundo, porque abusaram mais das graças.
Sim, Deus ama muito a Madre Superiora. Vede que Ele lhe dá uma boa cruz para carregar. Eis a melhor prova do seu amor por ela.
Ninguém pode imaginar o sofrimento que se tem no purgatório! Ninguém pensa nisto neste mundo. As comunidades religiosas também se esquecem disto. Eis porque Deus quer que aqui se reze, especialmente pelas almas do purgatório, e que se inspire esta devoção às alunas, a fim de que elas por sua vez falem dela no mundo.
Não tenhais medo das fadigas. Desde que sejam por Deus, sacrificai tudo por Ele.
Obedecei à vossa Superiora prontamente. Que ela vos faça virar por todas os lados como queira. Sede sempre humilde. Humilhai-vos sempre até o centro da terra, se isto fosse possível.
M. está no purgatório; está no purgatório porque ela paralisou o bem que as Superioras poderiam ter feito, por suas palavras astuciosas.
Tomai como prática a presença de Deus e a pureza de intenção.
Deus procura almas devotadas que o amem só por Ele. Há tão pou-cas! Quer Ele que sejais do número de suas verdadeiras amigas. Pouca gente ama a Deus. Muitos julgam que o amam, mas, na realidade só amam a si próprios. Eis a verdade…
Não, nós não podemos ver a Deus no purgatório… Então seria já o céu!
Quando uma alma procura a Deus sinceramente, por amor e verdadeiramente no seu coração, Ele nunca permite que seja ela enganada.
Entregai-vos, sacrificai-vos, imolai-vos por Deus. Nunca podereis fazer demais por Ele.
Pensai bem que só depois que a gente se encheu bem de piedade é que pode difundi-la para os outros.
Não tenhais respeito humano, ainda mesmo para com as Irmãs mais antigas. Dizei sempre alguma coisa quando se tratar de defender a Superiora.
Não, eu não vejo o bom Deus quando Ele está exposto. Sinto sua presença. Vejo como vós, com os olhos da fé, mas a nossa fé é muito mais viva do que a vossa. Nós sabemos, sim, nós sabemos bem o que é o bom Deus!
Tende sempre Deus convosco. Dizei-lhe tudo como a um amigo e vigiai muito o vosso interior.
Para se preparar bem para a santa Comunhão é preciso amor antes, durante e depois durante a ação de graças. Amor, sempre amor.
Deus quer que não penseis senão nele, que não vivais senão para Ele, e não sonheis senão com Ele, não vos volteis senão para Ele.
Mortificai vosso espírito, vossa língua, isto será muito mais agradável a Deus do que as mortificações do corpo que muitas vezes procedem de nossa própria vontade.
É mister proceder para com Deus como para com um pai, um amigo cheio de ternura, um esposo querido.
É preciso derramar toda a ternura de vosso coração sobre Jesus, sobre Ele tão só, e dar tudo, inteiramente tudo!
Sim, cantareis por toda a eternidade as misericórdias infinitas de Deus para convosco.
É preciso amar tanto a Jesus, e de tal modo, que Ele encontre em vosso coração uma doce mansão onde possa repousar (se assim posso dizer), das ofensas que recebe em toda parte. É mister que o ameis pelos indiferentes, pelas almas relaxadas e covardes e por vós em primeiro lugar. É preciso amá-lo tanto de modo que o vosso exemplo toque.
(12 de dezembro) — Se amardes a Deus, Ele não vos há de recusar nada. Quando uma pessoa ama realmente a uma outra, sabeis muito bem como ela vira e revira em torno dela para obter um sim, para que ela peça alguma coisa e obtenha logo o que deseja. Assim faz Deus para convosco. Ele vos concederá tudo quanto lhe pedirdes.
Deus quer que vos ocupeis só com Ele, com seu amor, e em cumprir sempre a sua vontade santíssima.
Quando a gente se ocupa com Deus, é mister se ocupar também com a salvação das almas. Não haveria grande mérito em se salvar sozinho.


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