A SANTA COMUNHÃO PELOS MORTOS
Depois da Santa Missa...
Sim, depois da Santa Missa, não
há sufrágio melhor e mais poderoso para socorrer as pobres almas que a Santa
Comunhão. Escreveu São Boaventura: “Que a caridade te leve a comungar, porque
nada há tão eficaz para proporcionar descanso aos que padecem no purgatório”.
É verdade que a Eucaristia como
alimento espiritual é destinada aos vivos. É o cibus viatorum — alimento dos
viajores, no expressivo e belo dizer da Liturgia. Tem por fim sustentar a alma
na peregrinação terrena, fortificá-la na luta contra os inimigos. Como pode
ser um auxílio e sufragar os mortos? Discutiram os teólogos esta questão, mas
todos estão de acordo que muito mérito e muitas obras boas faz quem recebe o
Corpo de Cristo e esta união íntima da alma com seu Deus á torna mais agradável
e mais poderosa para interceder pelos mortos, e torna a Comunhão um dos mais
poderosos e úteis sufrágios depois da Santa Missa. Dizia Tobias: “Põe o teu
pão e o teu vinho sobre a sepultura do justo”. Como se aplica bem esta passagem
da Escritura à Comunhão pelos mortos! É o Pão de Vida eterna e o Vinho
transubstanciado no Sangue de Jesus Cristo que vamos colocar em nosso coração
para implorarmos a misericórdia pelos nossos queridos e saudosos mortos! A
lembrança dos mortos unida à Santa Eucaristia é tão bela e consoladora! Não é
só pelo Sacrifício do Corpo e do Sangue de Jesus Cristo que se podem aliviar
as almas do purgatório. A Sagrada Eucaristia como sacramento pode ser de grande
alívio para os defuntos, principalmente quando os fiéis vivos se unem para
aplicar o fruto de uma Comunhão geral. É uma prática autorizada pela Igreja. A
Comunhão dignamente recebida é muito proveitosa para os fiéis defuntos.
Quantos atos bons não se praticam numa só Comunhão! Preparação habitual pelo
estado de graça que muitas vezes custa tanto ao cristão conservá-lo,
preparação próxima pelos atos de fé, esperança e de amor, enfim, os
sacrifícios que tornam meritória para os defuntos como sufrágio, a Comunhão. E
demais, aquela união íntima da alma com seu Criador e Redentor nos momentos
depois da Comunhão, não fazem de quem comunga um mediador entre Deus e as
pobres almas, para pedir, com fervor, o alívio dos mortos?
Diz Santo Ambrósio que “a
Eucaristia é um sacramento de descanso e paz para os defuntos e ao mesmo tempo
um banquete”. Logo, a Comunhão pode aliviar os mortos, na opinião do Santo
Doutor. São João Crisóstomo chama a Comunhão auxílio dos defuntos. E São
Cirilo, o maior auxílio dos defuntos — maximum defunctorum juvamen.
Se soubéssemos quantas graças
de santidade podemos atrair para nossas almas com a Santa Comunhão, com a
participação do Corpo e do Sangue de Cristo, quanto consolo e alívio podemos
dar aos que sofrem no purgatório, sentiríamos um desejo ardente de comungar
muitas vezes pelos nossos mortos e aplicar em sufrágio das pobres almas
sofredoras todos os méritos que podemos adquirir com as nossas comunhões
fervorosas. Procuremos fazer boas Comunhões, lembrando-nos de quanto melhor as
fizermos, tanto mais aliviaremos os mortos.
A Comunhão mensal pelas almas do purgatório
Sejamos práticos. Precisamos
socorrer os mortos e santificar nossa alma.
A Sagrada Eucaristia é nosso
tesouro da terra e é nossa, nosso alimento o Sacramento dos viajores, dos que
peregrinamos por esta vida em demanda da eternidade. Para nosso proveito
espiritual, e, em sufrágio das pobres almas, vamos comungar com mais
frequência. A Comunhão mensal pelas almas não seria um incentivo poderoso para
a nossa vida espiritual e um grande alívio para os mortos?
É celebre a sentença do Papa
Alexandre VI: “Si quis pro animabus in purgatorio detentis, animo illis
proficiendi, orationem fecerit, obligat eas ad antidota isve gratitudinem” —
Todo o que reza, e muito mais ainda quem comunga pelas almas detidas do
purgatório, com o desejo de aliviá-las as obriga à gratidão e remuneração.
A prática da Comunhão mensal
pelos fiéis defuntos é muito antiga. Em algumas regiões é muito concorrida e
produz frutos maravilhosos. Começou este piedoso costume em Roma, no
pontificado do Papa Paulo V, que se mostrou muito favorável a ela e ele mesmo a
pôs em prática, na Cidade Eterna, com frutos surpreendentes. Era incrível como
os fiéis afluíam às igrejas cada mês para sufragar seus mortos queridos pela
Santa Comunhão. Os sucessores de Paulo V continuaram a devoção que se
desenvolveu tanto a ponto de só em Roma se ver num dia trinta mil Comunhões
pelas almas. A prática passou de Roma para outras cidades da Itália, depois
para a França e muitos países europeus.
Ora, entre nós onde o povo é
tão devoto das almas do purgatório, por que não se há de generalizar o dia da
Comunhão mensal pelas almas? Cada Comunidade religiosa, cada paróquia deveria
ter o seu dia mensal das almas. O dia da Comunhão pelas almas. De preferência
deveria se escolher uma segunda-feira, quando possível. Nas paróquias talvez
um dos domingos, para favorecer o povo. Ó, quem nos dera tivéssemos cada mês,
um dia dos mortos, um dia para as santas almas! Missa, Comunhão geral,
sufrágios e orações pelos mortos! Entretanto, se esta prática não se faz
coletivamente, que nos impede fazê-la em particular, e estimular outros a
fazerem ó mesmo? Sejamos apóstolos da Comunhão mensal pelos defuntos. Vamos à
Mesa Santa levar algum refrigério ao purgatório, pelas nossas orações e
sacrifícios em união com Jesus Hóstia. Dizer com Jesus no coração: Dai-lhes,
Senhor, o descanso eterno e brilhe para elas a perpétua luz! Oferecer o Sangue
Preciosíssimo de Jesus ao Eterno Pai, para o alívio das santas almas!
Não podemos fazer tudo isto
numa Comunhão? Há pessoas piedosas e compassivas que oferecem cada
segunda-feira uma Comunhão pelas almas. É a Comunhão semanal pelos fiéis
defuntos. Tanto melhor. De vez em quando novenas de Comunhões pelas almas.
Como fazem bem a nós e às pobres almas, estas práticas tão edificantes e de
tão grande valor! Façamos muitas Comunhões por nossos mortos. Propaguemos o
uso da Comunhão mensal pelas almas!
Alguns exemplos
Temos tocantes exemplos para
nosso estímulo na prática da Comunhão pelos mortos. Santa Madalena de Pazzi
perdera um irmão, e ela o vira no sofrimento do purgatório, em meio de grandes
tormentos. Pôs-se a rezar e sofrer por ele.
Um dia, diz esta pobre alma
sofredora à irmã: “Minha irmã, eu padeço e necessito de cento e sete Comunhões
para me livrar do purgatório”. Santa Madalena de Pazzi com todo fervor começou
logo a série de Santas Comunhões pela libertação daquela alma querida e o
conseguiu. Costumava a Santa exclamar em êxtase: “Ó Sangue precioso de Jesus Cristo!
Piedade, Senhor! Misericórdia! Livrai as almas da prisão de fogo!”. E oferecia
o Sangue de Jesus pelas almas e comungava muitas vezes por elas.
O Venerável Luís de Blois,
conta que um piedoso servo de Deus foi visitado por uma alma do purgatório
que lhe fez conhecer os tormentos horríveis que padecia. Estava sofrendo muito
por ter recebido a Santa Comunhão sem preparação devida. “Meu amigo, diz a
pobre alma num gemido, eu te rogo que faças por minha alma uma Comunhão bem
fervorosa”. O amigo piedoso assim o fez e sem demora. Esta boa Comunhão obteve
o que havia pedido a pobre alma, que se viu livre do suplício. Apareceu cheia
de gratidão a feliz alma salva. “Graças, mil graças, meu querido amigo. Vou
contemplar a face de meu Deus para sempre!”.
Não podemos duvidar da eficácia
da Santa Comunhão para alívio dos mortos. Na vida de uma serva de Deus, Maria
Luisa de Jesus[1] se conta que num dia da Festa do Corpo de Deus, na hora da
Santa Comunhão, Nosso Senhor lhe apareceu e disse: “Eis o meu corpo que eu
entreguei à morte para remissão do gênero humano e que permanece no Sacramento
do Altar”. Jesus, diz a vidente, me fez recitar nove vezes: “Louvado e
agradecido seja a cada momento o Santíssimo e Diviníssimo Sacramento, e depois
me disse: “Toma todas as indulgências e vai ao purgatório aliviar as almas que
lá estão prisioneiras”.
No momento da Santa Comunhão,
Nosso Senhor diz à sua serva que tome uma chave simbólica, metade ouro e
metade ferro, traduzindo pelo ouro a misericórdia e pelo ferro a Justiça, e vá
libertar as prisioneiras do purgatório.
Que tocante e belo simbolismo!
Na hora de nossa Comunhão pelos fiéis defuntos, por nossas orações fervorosas
e pelos méritos deste ato tão sublime, como que recebemos das mãos de Nosso
Senhor a chave de ouro da Misericórdia e de ferro da Justiça, para podermos
com ela pagarmos a dívida das pobres almas e abrir as portas do purgatório.
Não só a Comunhão, mas nossas
adorações e visitas ao Santíssimo podem aliviar muito as pobres almas. Quantas
indulgências não tem a devoção eucarística! Vamos aproveitá-las pelos defuntos.
Exemplo
Santa Teresa e a alma de D. Bernardino
Na vida de Santa Teresa lemos
um acontecimento que nos mostra como Nossa Senhora recompensa seus devotos.
Um jovem fidalgo, de nome
Bernardino de Mendoza, muito devoto de Nossa Senhora do Carmo, desejava dar a
Nossa Senhora uma prova de seu amor. Por isso ofereceu a Teresa uma casa que
possuía perto da cidade de Valadolid para que ela instalasse ali um convento
de Nossa Senhora do Carmo. A Santa no começo não se sentia muito disposta a
aceitar o donativo para não abrir convento fora da cidade. Mas como a oferta
era feita de muito boa vontade e em louvor de Nossa Senhora, não queria privar
do merecimento o jovem fidalgo a quem a Virgem Santíssima de certo ajudaria a
converter-se para uma vida cristã e virtuosa. Levada por esta esperança,
aceitou a doação da casa.
Cerca de dois meses depois, o
fidalgo caiu gravemente enfermo. Perdeu a fala e não pôde confessar-se, mas
deu sinais de arrependimento dos seus pecados, pouco depois faleceu. Teresa
estava em outra cidade distante dali. Mas Nosso Senhor apareceu-lhe e disse:
“Minha filha, a salvação deste homem correu grande risco, mas tive dele
compaixão e aceitei-o com misericórdia à vista da sua devoção à minha Mãe e da
homenagem que lhe prestou dando a casa para ser fundado um convento em seu
louvor. Mas ele só sairá do purgatório no dia em que for celebrada a primeira
Missa neste novo convento”.
Desde então Teresa tinha continuamente
diante dos olhos os sofrimentos desta alma e ardia em desejos de instalar o
novo convento. Mas apesar de sua boa vontade, apareciam muitas dificuldades que
retardavam os trabalhos da adaptação da casa e o começo da construção da nova
igreja. Um dia, quando ela estava no convento de São José de Medina, Nosso
Senhor lhe disse: Apressa-te, pois esta alma sofre muito. A Santa fez novos
esforços e empregou toda energia para vencer os empecilhos e apressar as obras.
Enfim, pôde ser lançada a primeira pedra da nova igreja e Teresa alcançou a
permissão de ser celebrada no lugar uma Missa campal.
Entretanto, não julgou que a
alma do fidalgo já ficasse livre do purgatório por esta Missa, pois as palavras
de Nosso Senhor tinham sido muito claras. Urgiu, pois, por todos os meios a
execução rápida da construção e afinal viu-a concluída.
Durante a primeira Missa, à
hora da Comunhão o sacerdote aproximou-se de Teresa e das outras Irmãs para
dar-lhes a Sagrada Hóstia. No momento em que Teresa recebeu Nosso Senhor, ela
viu a seu lado o falecido fidalgo com o rosto todo resplandecente; cheio de
alegria e de mãos postas, ele lhe agradeceu o que tinha feito para livrá-lo do
purgatório. Depois ela viu-o elevar-se ao céu.
Contando este fato em um de
seus livros, Santa Teresa acrescenta: "Ó que grande importância tem toda
homenagem que se presta à Mãe de Deus! Quem poderia descrever quanto ela agrada
a Deus e quão grande é a misericórdia de Nosso Senhor!”.
[1] Vie — Servante de Dieu
Souer Marie Louise de Jesus — Naples, 1897
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Fonte: Tenhamos Compaixão das Pobres Almas! 30 meditações e exemplos sobre o Purgatório e as Almas. Monsenhor Ascânio Brandão
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