A ORAÇÃO PELOS MORTOS
Saudade e oração
Não julguemos que lembrar
nossos mortos é ter apenas deles uma saudade que aos poucos vai decrescendo em
intensidade, à medida que passam os anos. Chorar nossos mortos e perpetuar-lhes
a lembrança no mármore, na tela, no livro é permitido, sim. Porém, não
fiquemos só nisto. Juntemos à saudade a oração. Não basta chorar, precisamos
orar. E nunca se precisa tanto de oração como depois da morte. No purgatório
as pobres almas estão como o paralítico da piscina que dizia a Jesus: — Hominem
non habeo! Senhor, eu não tenho um homem que me lance na piscina para ser
curado.
Dependem aquelas almas santas
de nossos sufrágios, de nossas orações e sacrifícios. Deus as entregou à
nossa caridade. Sempre é eficaz a nossa oração pelas almas.
“É infinitamente mais útil e
eficaz a oração pela libertação dos defuntos que padecem no purgatório, que a
oração pelos pecadores da terra, cuja perversidade e más disposições paralisam
os esforços para os salvar. As santas almas não põem obstáculo algum à eficácia
das orações que por elas fazemos.” Tal é a opinião do piedoso oratoriano Pe.
Faber.
Juntemos à nossa imensa saudade
dos mortos nossos queridos, a oração e sempre a oração.
Escreveu o Pe. Sertillanges: “A
lembrança dos mortos sem a oração, é uma lembrança fria, um triste pensamento.
É uma exploração do nada. Porém com a oração, é um vento que sopra em direção a
Deus, é uma ascensão nas asas da esperança”. (Le probléme de la prière. Revue
de Jeunes — Nov. 1915.)
Oremos pelas almas benditas que
padecem no purgatório! Demos-lhe a esmola de nossas preces fervorosas e da
riqueza das indulgencias do tesouro da Igreja.
Dizia São Francisco de Sales:
“Vós que chorais inconsoláveis a perda de vossos entes queridos, eu não vos
proíbo de chorar, não! Chorai, mas procurai adoçar vossas lágrimas com o suave
bálsamo da oração que muito mais do que todas as demonstrações exteriores de
pesar, pode concorrer para aliviar as almas que a morte vos arrebatou”.
Esta é também a linguagem da
Igreja, nossa Mãe. Não proíbe nossas lágrimas. É tão humano chorar! Todavia não
fiquemos tão só num pranto estéril e desesperado. Oremos! Juntemos ao pranto
nossas orações. Saudade e oração. Choremos nossos mortos como cristãos
verdadeiros.
Meio fácil
Sim, é o mais fácil dos meios
de socorrer os mortos, a oração. Alguns podem achar difícil o jejum, ou a
mortificação, podem se queixar da pobreza que: não lhes permite dar esmolas,
mas quem pode se excusar e desculpar-se de não poder orar?
A mais curta oração feita com
as devidas disposições é um alívio para os fiéis defuntos. Quem não pode
bradar: dai-lhes, Senhor, o descanso eterno!
Fez Nosso Senhor tantas
promessas à oração! “Pedi e recebereis, batei e se vos há de abrir. É preciso
sempre orar”. A oração de Marta e Maria leva Jesus a ressuscitar Lázaro. Nossas
preces pelos defuntos hão de tirar as pobres almas daquele estado de morte em que
se encontram.
As lágrimas, as flores, os
mausoléus pomposos nada aproveitam aos mortos. É melhor rezar por eles. “Poupai
vossas lágrimas, dizia São João Crisóstomo, pelos defuntos e dai-lhes mais
orações”. Escreve Santo Ambrosio numa das suas cartas a Faustinus, que acabava
de perder a irmã: “É preciso assisti-la com orações mais do que chorá-la, e
convém recomendar a sua alma muito a Deus na oração. Chora menos e reza mais”.
Repitamos também esta
recomendação a tantos que choram seus mortos sem se lembrarem de uma prece, de
uma Santa Missa, de uma obra de caridade para sufragar-lhes as pobres almas.
Quantas orações tão belas e eficazes e poderosos para o sufrágio dos nossos
mortos! O Padre Nosso, a Ave Maria, o De Profundis, o Ofício dos mortos. A
Igreja, nossa Mãe, nos dá exemplo de oração pelos defuntos. Termina muitas
vezes as suas preces litúrgicas como as Horas canônicas pela súplica tocante:
“Fidelium animas per misericordiam Dei requiescat in pace”. E as almas dos
fiéis pela misericórdia de Deus descansem em paz! Desde os tempos primitivos, e
já nas catacumbas, a prece pelos defuntos era conhecida e praticada na Igreja.
Encontram-se nas pedras inscrições como estas: Vitório, que Deus refrigere o
teu espírito! Antonia, doce alma, que Deus te de o refrigério! Que Cristo te
ponha na paz! Que tua alma repouse em Deus! Sempre as súplicas a Deus pedindo
refrigério, luz e paz para os mortos. É muito agradável a Deus a oração pelos
mortos.
Um dia, Santa Gertrudes rezava
com fervor pelos defuntos, quando Nosso Senhor lhe fez ouvir estas palavras:
“Eu sinto um prazer todo especial pela oração que me fazem pelos fiéis
defuntos, principalmente quando vejo que à compaixão natural se junta a boa
vontade de a tornar mais meritória. A oração dos fiéis desce a todo instante
sobre as almas do purgatório como um orvalho refrigerante e benéfico, como um
bálsamo salutar que adoça e acalma suas dores e ainda as livra das suas
prisões mais ou menos rapidamente, conforme o fervor da devoção com que é
feita”. Noutra ocasião, disse Nosso Senhor a sua serva querida: “Muitíssimo
grata me é a oração pelas almas do purgatório, porque por ela tenho ocasião
de libertá-las das suas penas e introduzi-las na glória eterna”.
Eis aí um meio tão poderoso de
ajudar as pobres almas, e tão fácil, tão ao nosso alcance! Oremos e muito pelas
pobres almas!
Oremos pelos fiéis defuntos!
Sim, já que a oração é tão
poderosa para socorrer os mortos, aliviar as penas das pobres almas, vamos em
socorro do purgatório! “A oração da alma fervorosa, diz São Bernardo, sobe até
o céu e de lá não desce sem ser ouvida. Se pede amor de Deus, vem dele cheia;
se pede humildade, esta logo a vem adornar; si pede a libertação das almas do
purgatório, tem igualmente todo poder para alcançá-la”.
São João Damasceno escreve:
“Não vos poderia narrar tantos testemunhos encontrados na vida dos santos
pelos quais se provam claramente as vantagens da oração que se fazem pelos
defuntos! Não é em vão que se reza pelos mortos!”.
Todas as orações são úteis para
as almas, mas algumas mais do que outras. Por exemplo, as orações canônicas do
Breviário ou Divino Ofício são muito mais valiosas e eficazes. Que valor não
terá uma prece oficial da Igreja pelos mortos! Depois, aproveitemos o tesouro
da Via Sacra, acompanhando os mistérios dolorosos da Paixão do Salvador e
oferecendo o Preciosíssimo Sangue para refrigério do purgatório. Que dizer do
Rosário? Que tesouro da Igreja padecente!
Apliquemos todas as
indulgências do Rosário pelas almas. Uma jovem libertada do purgatório pelo
rosário de São Domingos, apareceu a este servo da Virgem e lhe disse: “Em nome
das almas do purgatório eu vos conjuro, pregai por toda parte e fazei conhecer
a toda gente a devoção do Rosário. Que os fiéis apliquem às pobres almas as
indulgências e os outros favores espirituais desta devoção tão santa. A
Santíssima Virgem e os Anjos e Santos se alegram com o Rosário, e as almas
libertadas por ele rezam no céu pelos seus libertadores”.
Façamos novenas e orações em
comum pelos mortos, principalmente logo depois que deixaram eles este mundo.
Há o piedoso costume de se fazer uma novena pelo falecido, começando logo no
dia seguinte ao da morte ou do enterro. Durante nove dias se reúne a família em
torno de um altarzinho para implorar a misericórdia do Senhor pelo defunto.
Multipliquemos fervorosas preces pelos nossos mortos queridos e pelas almas
mais abandonadas. “Minha filha, dizia certa vez Nosso Senhor a Santa Lutgarda,
não posso resistir às tuas súplicas. A alma pela qual pedes logo estará livre
dos seus sofrimentos”. Ó, não será esta a resposta que nos dará Nosso Senhor
também, si orarmos com todo fervor de nossa alma, com toda caridade pelos
defuntos?
— Que faz aí, menino?
pergunta-lhe o bispo.
— Eu rezo um Padre Nosso e um
De Profundis pela alma de minha mãe, que aqui está sepultada.
Entendeu logo o santo prelado
que a oração singela do pequenino era o anzol de ouro e o Padre Nosso e o De
Profundis o fio misterioso que vira em sonho. Tal é a nossa oração pelos
mortos.
Exemplo
Santa Margarida de Cortona e as almas do purgatório
A grande pecadora que foi
Margarida de Cortona e que convertida veio a ser a Madalena dos últimos tempos,
pela admirável penitência e a grande santidade a que chegou, era uma grande
devota das santas almas do purgatório. Desde que se converteu dedicou-se,
cheia de caridade, a socorrer as almas sofredoras. Nosso Senhor lhe permitiu
ver muitas vezes a triste condição destas almas para lhe excitar a compaixão e
interceder por elas. Dois negociantes foram assassinados, e por misericórdia de
Maria Santíssima, da qual eram fervorosos devotos, alcançaram uma contrição
perfeita na hora derradeira e se salvaram. Apareceram à Santa e lhe disseram:
— “Escapamos da eterna
condenação pela especial proteção de Maria Santíssima, mas teremos que padecer
um horrível purgatório para expiar nossas injustiças e mentiras e pecados, ó
Serva de Deus, nós vos pedimos que mandeis avisar nossos amigos e parentes que
façam restituições de nossos maus negócios e dêem muitas esmolas aos pobres em
paga de nossas injustiças. Ajudai-nos, Margarida, com vossos sufrágios”.
A Santa se empenhou muito com
orações e penitências em socorrer estas pobres almas. E assim fazia sempre
que Nosso Senhor lhe revelava a necessidade e as aflições de algumas almas do
purgatório. Quando faleceu o pai da Santa penitente, ofereceu ela por aquela
alma querida muitas orações e toda sorte de sufrágios, penitências e santas
Comunhões.
Deus Nosso Senhor lhe fez
conhecer que as suas orações aliviaram as almas do seu pai e da mãe, e que
tiveram muito abreviados dias de purgatório.
Também ao saber da morte de uma
criada, Gillia, que durante muito tempo ficou com ela, Margarida não cessou de
recomendar esta alma da pobrezinha a Nosso Senhor. Foi-lhe revelado que a
criada ficaria no purgatório apenas até a festa da Purificação de Nossa
Senhora e logo seria levada ao céu pelos Anjos.
Na hora da morte, Santa
Margarida de Cortona viu uma multidão de almas com esplendor da glória do céu
que vinham ao encontro da sua benfeitora, cheias de gratidão. Era a recompensa
da sua dedicação e devoção às almas do purgatório.
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