Encarnação do Verbo Divino e
Visita da Virgem Maria
à Sua Prima Santa Isabel
Corria o quarto mês depois dos
Desposorios, quando o Senhor, encontrando na puríssima Virgem todas as virtudes
heroicas correspondentes ao seu agrado, quis estender o braço da Onipotência à
maior de suas obras, dispondo a Encarnação inefável do Verbo Divino no virginal
seio de Maria Santíssima.
Para isto, entrando já o tempo
alegre da primavera, a 25 de Março, enviou Deus o Arcanjo São Gabriel por
embaixador de tão alto mistério, o qual por sua natural sutileza, penetrando a
clausura da porta, apareceu, em forma humana e refulgente, à ditosíssima
Virgem, que estava só e recolhida, orando no cubículo interior da sua pobre
casa de Nazaré. Saudou-a com uma profunda veneração e com termos mui novos e
especiais, como a sua Rainha e Senhora, em quem adorava os mistérios altíssimos
de seu Criador. Deu-lhe a saber que o Verbo Divino tinha resolvido tomar a
forma de homem para remir e salvar a humanidade e a tinha escolhido para sua
Mãe augusta, ficando sem detrimento, antes muito mais pura, a sua virginal
integridade, concorrendo para isso a virtude do Espírito Santo, que também era
a do Altíssimo.
Ouvindo a Virgem o que lhe
anunciava o Anjo, se turbou, e ele, para alentar a sua humilde modéstia e
corroborar a sua fé na Onipotência divina, lhe advertiu que sua prima Isabel
também havia concebido um filho sem embargo de a ter posto a natureza em
esterilidade e os anos em velhice.
Confortada a Virgem com as palavras
do Anjo, e esperando este pela sua resposta e consentimento, pôs a Rainha dos
céus os joelhos em terra e, erguendo o coração e as mãos a Deus, aniquilando-se
diante dele, disse, com profunda humildade: Eis aqui a serva do Senhor, faça-se
em mim segundo a sua palavra; e no mesmo instante, por virtude do Espírito
Santo, concebeu Maria Santíssima em seu puríssimo seio ao Filho de Deus,
dignando-se o Verbo eterno, sem horror, de trocar o seio celestial do Pai pelo
sagrado seio virginal de sua Mãe, passando a Virgem Maria de consorte de um
pobre carpinteiro a ser Esposa do Arquiteto do Céu, como ponderou Santo
Agostinho.
Há dúvida com relação à hora em que
se realizou essa divina embaixada, se pela manhã, ao meio dia ou à tarde,
nascendo daí o louvável costume que a Igreja tem em dizer àquelas horas a
saudação angélica da Ave Maria. Pensam alguns que fora à meia noite em ponto.
Executado o profundo mistério da
Encarnação do Verbo, e certificada a soberana Virgem pela embaixada do Anjo de
que Santa Isabel, sua prima, havia já seis meses, gozava a milagrosa fortuna da
fecundidade, concebendo também um filho, que seria grande diante de Deus e dos
homens, resolveu, inspirada pelo Espírito Santo, ir visitá-la imediatamente,
porque entendeu ser este o beneplácito do Altíssimo, o qual, com a presença do
Verbo eterno, queria santificar esse filho, sendo esse um dos principais
intentos desta visita.
A Virgem Maria partiu, pois, a 28
de Março para a cidade de Karem, onde residia sua prima, indo acompanhada de
alguma parenta ou amiga, ou fazendo parte de alguma caravana, tendo de
percorrer trinta léguas até as montanhas da Judéia, por caminhos ásperos e
fragosos.
Chegada à casa de Santa Isabel foi
recebida por ela com a saudação: “Bendita sois vós entre as mulheres, bendito é
o fruto do vosso ventre. Donde me vem a honra de ser visitada pela Mãe do meu
Senhor. Porque mal a vossa saudação me feriu os ouvidos, a criança que eu
trago, estremeceu. E bem-aventurada sois vós que crestes, porque se hão de
cumprir aquelas coisas que vos foram ditas da parte do Senhor”.
A Virgem Maria, ao ouvir a saudação
de Santa Isabel, deixa transbordar seu coração e entoa esse admirável cântico
de profissão de fé, hino de humildade de gratidão, profecia do futuro – o
Magnificat.
Sucedeu esta misteriosa visita poucos dias
depois da Encarnação do Verbo, pelos fins de Março, ou princípios de Abril, mas
a Igreja determinou que se celebrasse esse mistério a 2 de Julho, porque,
realizando-se a festa da Encarnação em tempo de Quaresma, em que a Igreja está
toda ocupada em celebrar a Paixão de Jesus Cristo, não era próprio, nem justo
celebrar com galas esse acontecimento. A
estada da Virgem Maria em casa de sua prima Santa Isabel foi de perto de três
meses, e os documentos evangélicos levam a crer que não assistira ao nascimento
de São João Batista por dizer São Lucas que ai estivera perto de três meses e
não três meses como seria preciso para completar os nove da gestação de Santa
Isabel, e por mencionar sua volta a Nazaré antes do nascimento de São João
Batista e mesmo pelo decoro e pudicícia da Santa Virgem.
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Fonte: A vida de São José pela
Associação de Adoração Contínua a Jesus Sacramentado. Livraria Francisco Alves.
1927.
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