Havia já a soberana Senhora
chegado ao nono mês da maravilhosa Conceição do Verbo Divino, quando se
publicou em Nazaré a notícia de que mandava Cesar Augusto, imperador segundo
dos romanos, que naquele tempo regia grande parte do mundo conhecido, e gozava
de suma paz no seu império, que todos os seus vassalos se alistassem naquelas
cidades onde tinham sua origem, a fim de pagarem certo tributo em sinal de
reconhecimento e vassalagem.
Remeteu o Imperador esta ordem a
Quirino, Governador da Síria, o qual, por edito público, a fez promulgar em
todas as províncias da sua jurisdição.
Para obedecer pronto a este
decreto, viu-se São José obrigado a passar a Belém, que era o solar de toda a
estirpe régia de Davi, donde o Santo procedia.
Este era o ambicioso projeto do
Imperador Augusto; mas a providência incompreensível de Deus dispôs que
juntamente fosse Maria Santíssima, não sendo obrigada, com seu esposo São José,
não só para que ali nascesse o Verbo Divino humanado, segundo a profecia de
Miquéias, que no capítulo 5, versículo 3, claramente anunciara que o Messias
havia de ter Belém por pátria, mas para ficar por aquele meio descrito, nos
fatos romanos, a família e progênie de Jesus Cristo enquanto homem, de cujo
assentamento se valeram São Justino Mártir e Tertuliano para convencerem os
ímpios.
Distava Belém de Nazaré trinta
léguas com pouca diferença, indo a Virgem Maria montada em um jumento, que São
José guiava, e acompanhados de um boi, para suprir com a venda da carne do
mesmo os gastos do tributo e da viagem e para solenizar o dia em que nascesse
feito homem o Primogênito do Pai Eterno, distribuindo-a pelos pobres.
Seriam cinco horas da tarde do dia
quinto da sua jornada, quando São José e a Virgem chegaram a Belém, e entrando
na cidade para buscarem abrigo, e descansarem de tão larga viagem, não foi
possível achar aposento. Seguia a honestíssima Rainha e seu Esposo, de porta em
porta, procurando agasalho entre o tumulto de muita gente que ali havia
concorrido para obedecer ao Decreto do Imperador romano.
Caminhando pela cidade, chegaram à
casa onde estavam os oficiais do registro público, e ali se alistaram e pagaram
o competente tributo. Logo prosseguiram em sua diligência, buscando cômodo em
outras muitas casas, mesmo de parentes e amigos, e em todas respondiam ao
pacientíssimo São José, como diz São Lucas, que não havia lugar para se
hospedarem.
Grande foi a aflição da Senhora,
vendo-se entre tanta multidão de gente contra o seu gênio modesto e retraído;
porém, o Santo e fidelíssimo São José sentia muito mais aquela extrema
impossibilidade, em que se via, de não poder acomodar sua Santíssima Esposa,
donzela tão delicada, que ainda não tinha feito quinze anos, a quem ele amava,
e venerava sobre tudo, vendo estar tiritando, em uma noite tão fria, a
formosura dos Anjos, exposta a todos os rigores do tempo, sem descanso, sem
casa, sem abrigo; mas, sem dúvida, não foi pequena a glória para o nosso Santo
achar-se entre as trevas da noite, aspereza da estação, desprezo dos parentes,
e, desamparado dos amigos, ser ele só o único e fiel amparo e consolação da
Rainha dos céus e Senhora do mundo.
A ingratidão dessa gente deu motivo
a que São José e sua Esposa para sair da cidade e procurarem uma caverna, que
estava junto aos muros, para a parte do Oriente, na qual, como receptáculo
comum, costumavam albergar-se os pastores e pobres peregrinos. Esta concavidade
estava aberta no penhasco, e a ela seguia-se outra que servia de redil com uma
manjedoura feita na mesma penha.
Uma vez entrados, os santos Esposos
puseram-se de joelhos, dando graças ao Senhor pelos altos juízos, com que
dispunha os seus Mistérios, e logo começaram ambos a limpar a gruta com grande
e santa emulação. São José acendeu uma pequena fogueira porque o frio era
grande, e acercaram-se dela para receber algum calor, e do pobre sustento, que
levavam, comeram, ou cearam com incomparável alegria de suas almas. Depois
deram graças a Deus, e a Virgem rogou a seu Esposo José que se recolhesse a
descansar e dormir um pouco, pois já era alta noite.
Nessa ocasião, entra também a
Virgem em êxtases e, de repente, radiante de felicidade, aperta nos braços
contra o peito um menino, seu filho. Veio, como vêm os raios do sol, como a luz
atravessa o cristal e o ilumina com seus raios, fazendo sobressair a sua
transparência e pureza.
Pura, sem mácula, antes do parto,
pura e sem mácula ficou depois.
Voltando a si do êxtase, ouviu São
José o vagido de uma criança e correu pressuroso para junto de sua Virginal
Esposa, encontrando-a com seu divino Filho nos braços.
Foi São José o primeiro homem que
mereceu e gozou, neste mundo, ver, com os próprios olhos, nascido o que não tem
princípio, o imenso reduzido a lugar, o resplendor do Pai Eterno disfarçado na
fraqueza humana.
A Virgem depôs seu divino Filho
sobre as palhas da manjedoura, tendo por travesseiro uma pedra que cobrira com
panos e que ainda se mostra na Terra Santa e é reverenciada e beijada, com
devotas lágrimas, pelos peregrinos.
Junto estavam o jumento em que
tinha viajado a Virgem e o boi que os Sagrados Esposos levaram para festejar o
nascimento, e que com seus bafos aqueciam o divino recém-nascido. Sendo muito o
frio, a Virgem Maria cobriu o tenro corpo do Menino com o seu véu, e São José
com a sua capa.
A alegria e júbilos que teria a
soberana Senhora com o nascimento de seu amado Filho, não há entendimento ou
língua que o possa compreender ou declarar vendo a Deus incriado nascido no tempo,
ao Deus imenso e insensível apertado em seus braços, já adorando-o como Senhor,
já beijando-o como Menino; e sendo também incompreensíveis as consolações
celestiais, que, nesta ocasião, recebeu o bem-aventurado São José. Alegrava-se
o Santo, vendo aquela joia divina, que o Pai Eterno lhe havia confiado, e
considerando-se enriquecido com tão altos títulos de que Deus o havia feito
participante na pessoa de seu Filho, repartindo com ele a dignidade real e
fazendo-o não só guarda, aio e camarista do Rei da Glória, mas também pai legal
por o haver adotado como Filho, e Filho de sua Esposa, gerado por obra e graça
do Espírito Santo.
Alegrava-se pelos bens
incomparáveis de sua Esposa, tomando em seus braços a Jesus, doce prenda, em
que estava recopilada toda a onipotência do Pai Eterno, que, ainda que
pequenino no corpo, não só enchia todo o mundo, mas vinha para o reparar.
Alegrava-se e também se confundia,
vendo que, no segredo desta dignidade suprema de pai de Cristo, que o Altíssimo
lhe concedera por um privilégio de graça mui especial, não só ficara excedendo
a Patriarcas, Profetas, Evangelistas e Apóstolos, mas a todas as criaturas até
as angélicas, pois que a Mãe e o Filho de Deus, elegendo-o para esposo e pai,
quiseram, de algum modo, ser menos que ele.
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A vida de São José pela
Associação de Adoração Contínua a Jesus Sacramentado. Livraria Francisco Alves.
1927.
http://almasdevotas.blogspot.com.br/2012/03/9-de-marco-mes-dedicado-sao-jose.html
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