São José com a Virgem Santíssima e o
Menino Deus
fogem para o Egito da perseguição de Herodes
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Satisfeito os misteriosos atos da
Apresentação do Infante Jesus e Purificação de Maria Virgem, voltou a Sagrada
Família para Nazaré. Desde logo se começou a divulgar e crescer a fama das
maravilhas, que, em Belém e no Templo, haviam sucedido, até que, chegando o seu
rumor aos ouvidos do cruel Herodes, se excitou neste a indignação contra Jesus,
mandando, furiosamente, com lei bárbara e desumana, matar todos os meninos que
havia em Belém e seus contornos até a idade de dois anos. Achava-se o
fidelíssimo José dormindo, quando, aparecendo-lhe em sonhos o Arcanjo São
Gabriel, lhe declarou o ímpio projeto e a iminente perseguição de Herodes, e
lhe disse: Levanta-te e com o Menino e sua Mãe foge para o Egito, onde estarás
até que eu outra vez te avise, porque Herodes há de buscar o Menino para lhe
tirar a vida.
Era o Egito província cômoda e
oportuna para aquele refúgio, por ficar nos confins da Palestina e estar
sujeita ao domínio de outro Príncipe. E, como não era ainda tempo do Senhor
padecer, mas sim de se cumprir a profecia de Oséias no capítulo 2, foi aquela
fuga mistério e não temor. Frustrar-se-ia em Cristo Senhor Nosso toda a causa
da redenção do mundo, se permitisse que, em idade tão tenra, executassem nele
os seus inimigos todo o ódio e crueldade.
Despertou e levantou-se São José
cheio de cuidado com a admoestação do Anjo e, dando logo parte à Virgem Maria
daquele aviso, se sujeitou obediente e humilde aos ocultos decretos da
Providência.
Sem perda de tempo e sem socorro
nem provisão alguma para tão longa jornada mais que a viva fé na mesma
providência do Altíssimo, partiram. “Olhai, diz São Francisco de Salles,
falando de São José, como parte logo sem dizer palavra: não se inquieta, nem
pergunta ao Anjo que caminho tomará. Quem nos há de sustentar? Quem nos
receberá? Ele sai à ventura carregado das suas ferramentas para ganhar sua
pobre vida e a de sua família com o suor do seu rosto”. Tomaram os divinos
Peregrinos a derrota do Egito pelo caminho menos trilhado, por ser mais oculto
e, por isso, mais penoso. Partiram de Nazaré até Jerusalém percorrendo vinte e
sete léguas, de Jerusalém à cidade de Hebron oito, passando por junto de Belém,
onde diz a tradição pia que entrara São José para fazer algum provimento para
jornada tão dilatada; de Hebron à Gaza é jornada de um dia; de Gaza até o Cairo
há setenta léguas das quais cinquenta são desertas, e por este cálculo vieram a
caminhar muito mais de cem léguas, indo sempre São José a pé e a Virgem Maria
com o Menino ao colo, montada em jumenta na Palestina e em camelo nos desertos.
Este caminho tão dilatado foi muito
penoso para os perseguidos caminhantes, por ser a maior parte dele deserto e
cheio de areias ardentes, sem água e infestado de animais ferozes. Que sustos
não passariam a Virgem Santíssima e seu solícito Esposo com o receio de que
podia cair nas mãos dos verdugos e assassinos de Herodes o divino Infante!
Quantas vezes as pulsações mais apressadas de seus corações não lhes pareceriam
ser o tropel dos seus perseguidores!
Sendo esta jornada nos princípios
de Fevereiro, a todos os incômodos da viagem acrescia o frio intenso, com falta
de casas em que pudessem agasalhar-se.
Oh! Quanto neste cuidado servia a
Cristo o ditoso São José! São José não morreu por Cristo, mas defendeu a
Cristo, e nesta defesa, conservando-o, deu-lhe nova vida. Dar a vida pelo
Senhor não parece que seria tanto, como foi conservar ao Senhor a vida; porque
quanto mais valia a vida de Cristo, que a de José, tanto parece que fez mais em
conservar aquela vida preciosa, do que fizera em desamparar por seu amor a
própria; e ainda, se bem reparamos, tudo fez São José, porque não defendeu a
vida de Jesus Cristo sem expor a própria a evidentes perigos.
Foi São José nesta fuga o
verdadeiro Anjo Rafael para com Cristo, pois o livrou das garras e astúcias do
tirano Herodes, guiando-o pelos caminhos mais seguros e menos arriscados.
Em tudo parece que, para defesa de
Cristo nesta perseguição, não quis o Céu auxiliá-lo, para que tudo se devesse á
cuidadosa proteção de São José.
Não tinha o tenro Menino mais abrigo
e comodidade nesta longa jornada, que os braços da Virgem e os de seu
Santíssimo Esposo, cumprindo-se assim o que profetizara Isaias, que entraria o
Senhor pelas terras do Egito em uma nuvem ligeira, a qual era Maria Santíssima
e o glorioso São José.
Prosseguindo os celestes Peregrinos
a sua dilatada jornada, chegaram, enfim, às terras do Egito, e, assim que
passavam, os ídolos caiam de seus pedestais, quebrados em pedaços,
realizando-se o que havia profetizado Isaias, quando disse que entraria o
Senhor no Egito e seriam comovidos seus simulacros, com particularidade no
templo de Hermopolis, edificado nas margens do Nilo, no qual, entrando a Virgem
e seu santo Esposo com o Menino, caíram por terra seus malditos ídolos. Teve
São José a gloriosa felicidade de presenciar estes prodigiosos efeitos na ruína
da idolatria, um dos fins para que mandou o Anjo que fosse com o Menino ao
Egito.
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A vida de São José pela Associação de
Adoração Contínua a Jesus Sacramentado - Livraria Francisco Alves, 1927.
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