Havendo-se completado aquele
misterioso desterro da Sagrada Família no Egito pelo espaço de sete anos e
tendo fim as crueldades de Herodes na perseguição do Filho de Deus com a morte
infame de Rei tão ímpio, apareceu o Anjo a São José, estando ainda no Egito, e
lhe disse que, levando consigo ao Menino e sua Mãe, voltasse outra vez para as
terras de Israel, porque já eram mortos os que o perseguiam.
Determinou logo São José partir com
a sua amada Família, e nesta disposição de jornada se descobre uma grande
excelência do nosso Santo, pois, sendo o Menino Jesus verdadeiro Deus e sua
Santíssima Mãe tão superior em santidade a São José, não quis o Altíssimo que a
disposição desta jornada para a Galileia viesse do Filho nem da Mãe, e sim da
sábia providência de São José, como cabeça de família.
Preparou-se, pois, São José para a
viagem. Mas antes que prossigamos, é para ponderar as saudades que causaria
esta ausência aos egípcios, seus vizinhos e conhecidos, que, por tantos anos,
gozaram da amável presença e companhia de Jesus, Maria e José, e a quem o Santo
havia alumiado com os raios da sua doutrina, declarando-lhes, no seu próprio
idioma, como quem tinha o dom das línguas, muitas coisas da verdadeira
Religião, e dispondo-os para receber a Fé de Cristo com o seu exemplo, como é
provável!
Despedidos, finalmente, os Divinos
Forasteiros, começaram a experimentar nesta nova jornada novos trabalhos e
tribulações. Oh! Quantas vezes conhecia São José, por aqueles ermos da
Palestina, que o Menino Jesus ia com fome, e ele, desprovido de pão,
atravessava o bosque para tirar de suas árvores algum fruto silvestre, com que
pudesse alimentá-lo! Quantas vezes, entre os ardores e durezas de tão
inclemente clima, ia o Menino estalando à sede, e, achando-se distante dos
rios, corria ao cimo dos montes para ver se achava nos cálices das plantas
alguma água com que o pudesse saciar!
Muitas vezes ia o Menino tão
fatigado, que não podia dar um passo; então São José, tomando-o nos braços ou
sobre seus ombros, qual outro Atlante, o levava grande espaço de caminho,
parecendo-lhe que só ia descansado, quando lograva o excessivo gosto de que não
penasse o Menino; e, quando ele assim caminhava nos braços de São José, iam
ambos mais seguros, pois, à vista de tanta piedade, até o irracional e o
insensível lhe dariam passo obsequioso, e, reverentes, se apartariam os
perigos.
Algumas vezes, apanhou-os a noite
em solitária charneca, e São José, cuidadoso aio de Jesus e de Maria, compunha
com sua roupa um pequeno pavilhão para os cobrir e abrigar do rígido sereno.
Este era o desvelo, com que São José, verdadeiro Anjo da guarda de Jesus,
guiava e guardava aquelas duas preciosíssimas prendas celestes, que Deus lhe
confiara.
Chegando os Celestes Peregrinos ao
Reino de Israel, que estava dividido em várias Províncias e Governos,
encaminhava São José a sua derrota para Jerusalém, ou por entender ser mais
conveniente ao Filho de Deus, que vinha comunicar-se aos homens, o habitar na
principal e mais populosa cidade, ou porque, estando próxima a Festa da Páscoa,
quisesse ir assistir a ela no Templo e render a Deus as graças pela mercê que
lhe fizera de o aliviar daquele degredo do Egito.
Ouvindo, porém, dizer que, tanto
que morrera Herodes, fora logo aclamado Rei da Judéia seu filho Arquelau, e que
herdara do pai o mesmo gênio tirano, receou São José, como varão prudente,
continuar a jornada para Jerusalém, que era a capital de Judéia, por se lhe não
ir meter nas mãos. Nesta dúvida, admoestou-o em sonhos o Anjo, dizendo-lhe que
fosse para Galileia, a cujo aviso obedeceu o Santo, mudando de caminho e
retirando-se para Nazaré, que era Cidade sujeita a Herodes Antipas, que
governava a Galileia pacificamente, onde podia viver seguro, por ser ali mais
conhecido; e para que também se cumprisse, como diz São Mateus, o que tinham
dito os Profetas – que Cristo se havia de chamar Nazareno.
Nesta Cidade felicíssima se
estabeleceu para viver a Família mais augusta e venerável, que havia no mundo
como compêndio de toda a santidade. Ali se via a verdadeira Arca do Testamento
representada na pessoa da Virgem, e ali descansava Deus sobre os querubins, que
eram os braços de São José. Glorie-se muito embora a Sinagoga de lhe ter
Salomão edificado um Templo, em que aparecia a glória de Deus, porque, nesta
casa, ainda que pobre, mas melhor Templo que o de Salomão rico, onde habitava a
insigne Família de José, se viam, com a presença de Jesus e de Maria, vivas e
verdadeiras espécies de tudo, que os hebreus lograram somente em figura. Era
esta casa de Nazaré um céu místico, onde resplandeciam os melhores três astros,
Cristo como Sol, a Virgem Maria como Lua e São José como Estrela.
Do Menino se não lê coisa alguma
até a idade de doze anos. Conta-se, porém, e é verossímil, que o Menino Jesus
ia buscar água a uma fonte, que ainda existe, e, humilde, o Senhor do Universo
ajudava a seus pais, porque não tinham outrem que os servisse.
Sem embargo do Evangelho não
declarar também coisa algum da vida que fez o bem-aventurado Santo neste tempo,
pode-se bem inferir quão edificante seria ele nos exercícios de piedade,
principalmente dizendo-nos São João Crisóstomo que o Santo com a Virgem se
erguiam pela meia noite, a louvar a Deus religiosamente, e que esse era o seu
costume. Consta mais por tradição que ele subia de Nazaré ao Monte Carmelo, que
lhe ficava na distância de duas léguas, não só para visitar os seus Religiosos
habitantes, como os devotos lugares do Santo Monte, o que fazia principalmente
aos sábados e nos princípios dos meses, em que os povos circunvizinhos
costumavam concorrer ao Carmelo, levando o Santo consigo, como piamente se crê,
ao Menino Jesus e sua querida Esposa.
A estes pios e devotos exercícios
acrescentava São José outros de excelentes virtudes, que o constituíam em uma
perene contemplação do céu, concorrendo juntamente com o suor do seu rosto para
alimentar ao mesmo Filho de Deus e a sua Mãe Santíssima, a qual tomava também
por sua conta servi-lo e cuidar da sua pobre comida com incomparável atenção e
benevolência.
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A vida de São José pela Associação de
Adoração Contínua a Jesus Sacramentado - Livraria Francisco Alves, 1927.
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