Depois que
os Celestes Forasteiros passaram por várias povoações no Egito, chegaram
finalmente ao lugar denominado Mathuréa, distante dez mil passos de Heliópolis,
hoje, Cairo, e ali fixaram sua residência, acomodando-se em uma pobre casinha,
hoje reduzida a Igreja, que os Cristãos Gofitos possuem, e os devotos
peregrinos, que por ali passam, muito veneram. Os Mouros têm este sítio em
grande estimação, não só pela horta de bálsamo, que ali há, mas pela fonte
deliciosa, que a fertiliza, sendo entre eles tradição antiquíssima ter ela
nascido milagrosamente para saciar a sede à Virgem e seu Santo Esposo.
Durante os três primeiros dias, não
teve a Rainha do Céu para si e seu Unigênito mais alimento, que o que pedia de
esmola seu Esposo fidelíssimo José, até que com o seu trabalho começou a
granjear algum sustento, e pôde também fazer uma cama, em que se reclinava a
Mãe de Deus, e o berço do Menino, porque o Santo Esposo não tinha outra cama
mais que a terra dura. Logo no dia seguinte ao da sua chegada, fora o solícito
São José comprar instrumentos do seu ofício para uso fabril do seu trabalho, e
a Virgem Maria também buscou cuidadosa em que pudesse ajudá-lo com o labor das
suas preciosas mãos.
Ao Santo se lhe originara uma
grande perseguição da vizinhança pela manobra da sua arte, porque mal
acostumados aqueles moradores egípcios a sentir o áspero ruído da serra, do
martelo e da enxó, com que o Santo trabalhava, o criminaram de perturbador;
porém a humildade e a modéstia de São José o defendeu e livrou de tal sorte da
impostura, convertendo a acusação em benevolência, que o Juiz o fez conservar
na própria casa.
Mas verdadeiro trabalho foi o que
padeceu São José, quando via que os egípcios adoravam os ídolos infames, e
deixava de conhecer ao verdadeiro Deus, que tinham entre si, lastimando também
não pouco os opróbrios e maus tratamentos, que daquela gente perversa padecia a
Virgem Sacratíssima; porém recompensava o glorioso Patriarca São José estes e
outros contratempos com a incomparável dita, que recebia, quando tomava em seus
braços ao Divino Infante; quando, com profunda submissão, lhe fazia aquelas
afetuosas carícias, de que a inocente infância se deleita. A Virgem Maria, para
fazer os ofícios domésticos, entregava o Menino ao Esposo Santo, para que o
entretivesse, e o Esposo para isto suspendia o seu trabalho. É de considerar
que regalos receberia, quando o tomava e tratava! Quão suaves seriam seus
abraços! A graça, que acharia nos inocentes atos peculiares à infância!
Que júbilo e alegrias não experimentaria
seu coração, quando ouvia ao Menino Jesus pronunciar ainda com a língua
balbuciante a primeira palavra, que foi chamar-lhe Pai! Esta primeira palavra
do Menino Deus, como cheia de eficácia Divina, infundia no coração de São José
novo amor e reverência. Pôs-se de joelhos aos pés do Infante Jesus com
humildade profunda, e deu-lhe graças, porque a primeira voz, que lhe tinha
ouvido, fora a denominação de Pai.
Não era São José pai natural de
Cristo, mas só adotivo; porém o singular amor, que lhe tinha, excedia,
incomparavelmente, a todo o afeto, com que os pais naturais amam a seus filhos,
e por este amor incomparável e recíproco na relação de pai a filho se há de
inserir o excesso de alegria, em que se viu a sua alma, ouvindo-se chamar repetidas
vezes pai do mesmo Filho do Pai Eterno. Já São José era nas excelências grande
antes que o Menino Deus lhe pudesse chamar pai e a Sacratíssima Virgem esposo;
mas, depois que o amor social o juntou a ambos e o uniu com o amor de um e
outro, a que eminente grandeza não subiu? Não há vozes humanas, que possam
explicar, devidamente, esta prerrogativa de São José.
Como o nosso glorioso Santo foi ab
aeterno constituído por Deus para a alta dignidade de vigilante pedagogo e
nutrício de seu unigênito Filho, é naturalmente crível que o Santo o ensinaria
a andar, e para isso o tomaria pela mão, alternando o Menino os lugares, ora da
esquerda, ora da direita, com os passos dúbios, e ainda trêmulos e titubeantes.
Estas e outras ações, ainda que pueris, a que o sumo Deus e Verbo Eterno se
quis sujeitar por nosso amor, eram de grande ponderação e júbilo para São José.
Algumas vezes o Menino se
entretinha com as ferramentas na oficina de São José, pedindo que lhas pusesse
ao ombro para as levar, por graça misteriosa, de uma para outra parte, até que,
cansadinho, se lançaria aos braços de pai, onde recostado adormeceria, e o
Santo, com afetuosa ternura acalentando-o, lhe cantaria novos e doces hinos.
Não seria de pequeno contentamento
para o glorioso São José, quando visse também que as egípcias atraídas pela
singular beleza do Menino e da amável forasteira sua Esposa, iam fazer-lhe
companhia alguns espaços de tempo, levando-lhe suas galantarias e mimos, e
tendo por boa dita beijaram-lhe os pés e as mãos de branca neve. Desta sorte,
suavizava São José ditosíssimo os trabalhos do seu desterro, ganhando o
sustento para si e para aquele soberano Aluno, que todas as coisas sustenta, o
qual, para maior excelência do Santo, é crível que algumas vezes lhe pediria
pão como faz o filho ao pai, e dele o receberia com reverência. Oh! Que
graciosa alternativa! O pai com a sua educação conservava ao Filho, e o Filho
servia ao pai; mas como Senhor de tudo alimentava ao mesmo, que lhe dava o
alimento.
Que gozo, finalmente, não encheria
o coração de São José ver a Mãe de Deus ao seu lado entretida também em tecer a
lã, ou o linho, para coser, ajudando assim a sustentação de sua casa; e ao
Filho querido sentado junto a ela, dando a seu coração alívio com seus divinos
colóquios? Desta forma se ia criando o Verbo Eterno, alimentado entre os dois
lírios, ou cândidas açucenas da pureza de São José e da Virgem Maria no penoso
desterro da sua pátria.
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A vida de São José pela
Associação de Adoração Contínua a Jesus Sacramentado - Livraria Francisco
Alves, 1927.
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