5º Dia- Mês do Sagrado Coração




QUINTO DIA
Oremos pelas almas fracas que estão a ponto de se deixarem arrastar para o mal.
Pai Nosso ... Ave Maria ... Glória ...
Jaculatória: “Coração de Jesus, que tanto nos amais, fazei que vos amemos cada dia mais”.

Jesus e o pai aflito que pede a cura de seu filho
O Coração de Jesus não pôde resistir às lágrimas, sobretudo às que se derramam pelos outros… “Vai, diz ele a este pai aman­te, vai, teu filho está salvo”. Ah! quem é que não terá em torno de si almas cujo estado seja bem mais perigoso, ainda que diferente­mente, que o desta criança?…para curá-las, ide a Jesus, orai, chorai e esperai com toda a confiança… — Fazei-me ouvir depressa, meu Deus, em favor daqueles que amo e cuja santificação desejo, estas palavras: “Consola-te… todos eles vivem para o céu”.
“Eu me mortificarei hoje, abstendo-me de dizer qualquer palavra que desagrade a Jesus”.

EXEMPLO
O castelo de Villargoix, em Côte d’Or, pertence a uma nobre família cristã, onde o cumprimento dos deveres religiosos é tradicional e, de tempos imemoriais, se ob­serva o costume de fazer em comum a oração da noite, recitando-a, em voz alta, o chefe da família, reunidos ao toque do sino todos os parentes e os domésticos. Muito naturalmente, pois, entrou aí o culto ao Coração de Jesus; e com ele vieram bênçãos e graças particu­lares sobre a casa. Um dia, o proprietário, marquês de Belathier Lantage, tendo a seu lado um filho, exami­nava a construção já adiantada de uma abóbada que devia ligar duas partes do castelo, quando se ouviu um medonho estalo. O marquês aterrado, tem, entretanto, a inspiração de fazer um voto ao Sagrado Coração: num momento a abóbada se faz em pedaços e cai em terra, mas o piedoso cristão se vê são e salvo sobre uma barra de ferro solidamente encravada na parede, en­quanto o filho, sem o sentir, escorrega suavemente ao longo de uma grossa trave, que o depõe sem um arranhão sobre a relva.
Em cumprimento do seu voto, o marquês dedicou sua capela ao Sagrado Coração, gravando sob a santa ima­gem a seguinte inscrição: “Eles me constituíram o guarda de sua casa”; e a devota família dizia agrade­cida: “O Coração de Jesus nos guarda, e nós montamos guarda ao Coração de Jesus”.
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Excertos do livro: Mês do Sagrado Coração de Jesus - Padre José Basílio Pereira - 2a. edição, 1913.



4o. Dia - Mês do Sagrado Coração de Jesus



QUARTO DIA
Oremos em união com as pessoas que hoje comungaram.
Pai Nosso ...
Ave Maria ... 
Glória ...
Jaculatória: “Coração de Jesus, que tanto nos amais, fazei que vos amemos cada dia mais”.

Jesus e a Samaritana
Lá vos estou vendo, Senhor, oprimido de fadiga, assentado à borda do poço de Jacó, aguardando os que passam, dizendo a todos: “Dai-me de beber; tenho sede do vosso coração, dai-mo; tenho sede da vossa inocência, conservai-ma…” Ah! Jesus meu, quantas vezes não vos tenho eu recu­sado esta esmola, para dar às leviandades, às paixões, às vaidades…e vós não desanimastes, continuáveis a pedi-la sempre… Sim, Jesus meu, vos quero dar este alívio que me pedis, e do qual pareceis carecer…Que quereis de mim no dia de hoje? fideli­dade no cumprimento dos meus deveres, amor nas minhas orações?… Eis-me aqui, Senhor…pedi o que quiserdes.
“Recitarei, com mais atenção, as mi­nhas breves orações, durante o dia”.

EXEMPLO
O Pe. Ludovico de Casória, encontrando uma vez, absorta em profundo estudo, a ilustre napolitana Cata­rina Volpicelli, disse-lhe : “Virá um tempo em que fecharás todos os livros. Jesus te abrirá o livro de seu Coração, que diz infinito amor a cada página, a cada palavra”. E assim foi: Catarina, meditando, junto ao sagrado tabernáculo, inflamou-se de tanto fervor que, deixando tudo, foi encerrar-se entre as perpétuas adora­doras do SS. Sacramento. O Senhor, porém, dispunha a seu respeito maiores coisas, e quis que, obrigada a sair do convento por motivo de saúde, fizesse no mundo ainda mais do que teria podido fazer no claustro. Ar­dendo em santo zelo, empregou no serviço de Deus quanto era, tinha e podia: o talento, os estudos, os raros dons da natureza e da graça, o rico patrimônio, suas obras, a própria vida, tudo ofereceu e sacrificou ao Sagrado Coração, com um ato solene que assinou com o próprio sangue, chamando-se vítima e escrava do divino amor. Fundou o instituto das Servas do Sa­grado Coração e, em Nápoles, o santuário do Coração de Jesus, sede do Apostolado de que ela foi a primeira Zeladora. Criou a “Voz do Coração de Jesus”, periódico mensal da Santa Liga, instituiu a obra da Adoração Reparadora, e da assistência às igrejas pobres, o Or­fanato das meninas, várias congregações de piedade para as jovens, a Biblioteca para a divulgação dos bons livros, quem poderia enumerar todas as obras que realizou sob o impulso onipotente da caridade divina? 
Era, todavia, tão humilde, que se tinha como a. última e ínfima entre as servas do Sagrado Coração; e nunca a sua devoção arrefeceu um instante, pois, ainda na hora extrema da vida, quando, placidamente e com inefável sorriso nos lábios, estava para voar à pátria celeste, quis novamente oferecer-se como vítima ao Divino Coração com o ato solene que o Sumo Pontífice chamou “voto heroico”.

Fonte: Mês do Sagrado Coração de Jesus - Padre José Basílio Pereira - 2a. edição, 1913.




3o. Dia - Mês do Sagrado Coração de Jesus



  
TERCEIRO DIA
Oremos por aquelas pessoas a quem Deus reserva no presente dia alguma dolorosa provação. 
Pai Nosso ... Ave Maria ...  Glória ...
Jaculatória: “Coração de Jesus, que tanto nos amais, fazei que vos amemos cada dia mais”.

Jesus e a pobre viúva de Naim que chorava seu filho
Afigura-se-vos, na vossa primeira ida­de, que nunca sofrereis grandes dores… Mas ai! também vos chegarão essas penas, que dilaceram o coração arrancando-lhe tudo o que ele ama. Lembrai-vos então que há sobre a terra um Deus previdente, que vê todas as dores: Jesus, —é quem vos conso­lará. É principalmente na comunhão que ele nos diz: “Não choreis… eu vos conduzirei aonde estão aqueles que amais; vinde, não me deixeis”.—Dai-me, meu Deus, o amor da Eucaristia !.é aí que se acha a conso­lação e a paz… sei que aí não me enga­nam… aí ouço, confortado, essas palavras: “Não chores”.
“Irei diligente fazer a minha visita ao SS. Sacramento”.

EXEMPLO
“Hás de ter sabido o que sucedeu, ultimamente, ao nosso Júlio, escrevia de Bretanha, em 1883, uma boa mãe cristã a outra sua amiga. Ele comandava o “Alceste”, navio à vela, e já avariado; tinha sob suas or­dens cerca de 500 homens. Voltando para Brest, foi sur­preendido por quatro tempestades terríveis, redemoinhos e vagas de 30 pés de altura que cercavam o navio. Uma rajada de vento despedaçou-lhe a vela grande; outra levou-lhe suas três chalupas; e assim é que chegou à baía dos Mortos, que tem esse nome pelos muitos si­nistros que nela ocorrem. Foi-lhe preciso passar o Goulet para entrar na enseada; e sabes quanto ele é estreito e perigoso. Junte-se a isto um mar medonho, um vento assustador, e noite escura, sem haver piloto e estando ocultos os faróis pela altura das vagas; mas o nosso bom Júlio tinha feito pregar na popa de seu navio uma imagem do Sagrado Coração e, cheio de confiança nessa proteção, prometeu uma missa em ação de graças, se che­gasse ao porto de salvamento com toda a equipagem; e assim aconteceu. Imagina o que minha pobre Cecília passou, mas ouve também o que me escreve: “Tive ontem um desses momentos de felicidades que fazem es­quecer todos os sofrimentos passados. Dizia-se a missa, em ação de graças, em S. Luís: e Júlio, de uniforme, tinha ao pé o seu segundo oficial, protestante conver­tido pelo prodígio que viu; depois todos os oficiais, acompanhados de suas mulheres e parentes: e atrás deles a equipagem, todos perfilados militarmente e numa atitude respeitosa. Foi um ato de fé público, que muito me comoveu e deixou em todos ótima impressão”.



2º. Dia - Mês do Sagrado Coração de Jesus




SEGUNDO DIA

Oremos pelas almas que estão em pecado e não pensam em se confessar.
Pai Nosso ...
Ave Maria ... 
Glória ...
Jaculatória: “Coração de Jesus, que tanto nos amais, fazei que vos amemos cada dia mais”.
Jesus e Lázaro
De pé, junto do túmulo do amigo, Jesus está chorando… Ó Jesus, muito amor tendes vós aos vossos amigos! Quanto me enternecem as vossas lágrimas! como de­monstram a ternura do vosso piedosíssimo Coração! Elas suscitam em mim uma recor­dação que me punge e ao mesmo tempo me comove: a daqueles dias em que, morta a minha alma à graça, ainda corríeis a vê-la e choráveis sua sorte…O meu Anjo da Guarda, testemunha de vossas lágrimas, di­zia, lembrando a observação dos judeus: “Como Jesus ama esta alma!” Agradeço-vos, meu Deus, a vossa imensa bondade! Lázaro seguiu-vos…do mesmo modo quero que todas as faculdades de minha alma, que todo o meu ser sejam empregados em vosso serviço para começar já hoje.
“Serei fiel em cumprir os meus deveres para agradar a Deus”.

EXEMPLO
Em Lião, refere o Pe. Trouiller em 1893, um chefe de família, arredio das práticas religiosas desde muitos anos, achava.se gravemente enfermo. Atacado como fora de uma apoplexia, propôs-lhe um dos parentes que aceitasse a visita de um padre. Irritado, respondeu que não. Repetindo-se o ataque, um amigo esforçou-se por trazê-lo a melhor resolução: retorquiu, vivamente, que não lhe falasse mais no assunto, sob pena de briga­rem. Entretanto, os progressos do mal eram rápidos, e o perigo iminente. A família, então, angustiada, recorreu ao Coração de Jesus, refúgio dos pecadores e abismo de misericórdia.
O enfermo acabava de sofrer terceiro ataque. Deram-lhe um escapulário do Sagrado Coração, que tocara em Paray uma das mais preciosas relíquias de S. Margarida Maria, e uma pessoa que o doente prezava teve a ins­piração de trazer a vê-lo um sacerdote que ele conhecia e estimava. Com surpresa de todos, a visita foi logo aceita; e, depois de longa conferência, o Padre retira­va-se, declarando que seu penitente podia receber os últimos sacramentos.
No dia seguinte, (uma quinta-feira santa), a zelosa senhora que oferecera o precioso escapulário, voltando a visitar o remisso, encontrou-o sentado numa poltrona, tendo nas mãos um livro de orações que recitava devotamente. Uma. bem ornada mesa esperava a Sagrada Eu­caristia que, dentro de poucos instantes, viria encher de graças a alma do pobre pecador. E, com a saúde espi­ritual, o Coração de Jesus restituiu-lhe a saúde do corpo.
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 FonteMês do Sagrado Coração de Jesus - Padre José Basílio Pereira - 2a. edição, 1913.


Mês do Sagrado Coração de Jesus - Exercícios Cotidianos

EXERCÍCIO COTIDIANO


Invocação do Espírito Santo

Vinde, Espírito Santo, enchei os corações dos vossos fieis e acendei neles o fogo do vosso amor.
V. — Enviai o vosso Espírito e tudo será criado.
R. — E renovareis a face da terra.

ORAÇÃO
Deus, que esclarecestes os corações de vossos fieis com as luzes do Espírito Santo, concedei-nos, por esse mesmo Espírito, conhecer e amar o bem e gozar sempre de suas divinas consolações. Por Jesus Cristo Nosso Senhor. Amém

Oração preparatória
(100 dias de indulgência — Leão XIII, indulto de 10 de dezembro de 1885)

Senhor Jesus Cristo, unindo-me à divina intenção com que na terra pelo vosso Coração Sacratíssimo rendestes louvores a Deus e ainda agora os rendeis de contínuo e em todo o mundo no Santíssimo Sacramento da Eucaristia até a consumação dos séculos, eu vos ofereço por este dia inteiro, sem exceção de um instante, à imitação do Sagrado Coração a Bem aventurada Maria sempre Virgem Imaculada, todas as minhas intenções e pensamentos, todos os meus afetos e desejos, todas as minhas obras e palavras.
 Amém.

Lê-se a intenção própria do dia, recitando em sua conformidade
um Pai Nosso, uma Ave Maria, o Glória a jaculatória: Coração de Jesus, que tanto nos amais, fazei que vos amemos cada dia mais. 

Em seguida
a Meditação correspondente ao dia e, depois, a Ladainha do Sagrado Coração.

LADAINHA DO SAGRADO CORAÇÃO
Senhor, tende piedade de nós.
Jesus Cristo, tende piedade de nós.
Senhor, tende piedade de nós.
Jesus Cristo, ouvi-nos.
Jesus Cristo, atendei-nos.
Deus Pai dos céus, tende piedade de nós.
Deus Filho, Redentor do mundo, tende piedade de nós.
Deus Espírito Santo, tende piedade de nós.
Santíssima Trindade, que sois um só Deus, tende piedade de nós.
Coração de Jesus, Filho do Pai Eterno, tende piedade de nós.
Coração de Jesus, formado pelo Espirito Santo no seio da Virgem Mãe, tende piedade de nós.
Coração de Jesus, unido substancialmente ao Verbo de Deus, tende piedade de nós.
Coração de Jesus, de majestade infinita, tende piedade de nós.
Coração de Jesus, templo santo de Deus, tende piedade de nós.
Coração de Jesus, tabernáculo do Altíssimo, tende piedade de nós.
Coração de Jesus, casa de Deus e porta do céu, tende piedade de nós.
Coração de Jesus, fornalha ardente de caridade, tende piedade de nós.
Coração de Jesus, receptáculo de justiça e amor, tende piedade de nós.
Coração de Jesus, abismo de todas as virtudes, tende piedade de nós.
Coração de Jesus, digníssimo de todo o louvor, tende piedade de nós.
Coração de Jesus, rei e centro de todos os corações, tende piedade de nós.
Coração de Jesus, no qual estão todos os tesouros da sabedoria e ciência, tende piedade de nós.
Coração de Jesus, no qual habita toda a plenitude da divindade, tende piedade de nós.
Coração de Jesus, no qual o Pai celeste põe as suas complacências, tende piedade de nós.
Coração de Jesus, de cuja plenitude nós todos participamos, tende piedade de nós.
Coração de Jesus, desejo das colinas eternas, tende piedade de nós.
Coração de Jesus, paciente e misericordioso, tende piedade de nós.
Coração de Jesus, rico para todos os que vos invocam, tende piedade de nós.
Coração de Jesus, fonte de vida e santidade, tende piedade de nós.
Coração de Jesus, propiciação para os nossos pecados, tende piedade de nós.
Coração de Jesus, saturado de opróbios, tende piedade de nós.
Coração de Jesus, atribulado por causa de nossos crimes, tende piedade de nós.
Coração de Jesus, feito obediente até a morte, tende piedade de nós.
Coração de Jesus, atravessado pela lança, tende piedade de nós.
Coração de Jesus, fonte de toda a consolação, tende piedade de nós.
Coração de Jesus, nossa vida e ressurreição, tende piedade de nós.
Coração de Jesus, nossa paz e reconciliação, tende piedade de nós.
Coração de Jesus, vítima dos pecadores, tende piedade de nós.
Coração de Jesus, salvação dos que em vós esperam, tende piedade de nós.
Coração de Jesus, esperança dos que em vós expiram, tende piedade de nós.
Coração de Jesus, delícia de todos os Santos, tende piedade de nós.
Cordeiro de Deus, que tirais os pecados do mundo, perdoai-nos, Senhor.
Cordeiro de Deus, que tirais os pecados do mundo, ouvi-nos Senhor.
Cordeiro de Deus, que tirais os pecados do mundo, tende piedade de nós.
V. — Jesus, manso e humilde de coração,
R. — Fazei o nosso coração semelhante ao vosso.


ORAÇÃO
Onipotente e sempiterno Deus, olhai para o Coração de vosso diletíssimo Filho e para os louvores e satisfações que ele vos tributa em nome dos pecadores, e àqueles que invocam vossa misericórdia, concedei benigno o perdão, em nome do mesmo Jesus Cristo, vosso Filho, que convosco vive e reina juntamente com o Espírito Santo por todos os séculos dos séculos. Amém.

Para concluir, a seguinte fórmula de consagração
(300 dias de indulgência. Leão XIII, Decreto de 28 de maio de 1887)

Recebei, Senhor, minha liberdade inteira. Aceitai a memória, a inteligência e a vontade do vosso servo. Tudo o que tenho ou possuo, vós mo concedestes, e eu vo-lo restituo e entrego inteiramente à vossa vontade para que o empregueis. Dai-me só vosso amor e vossa graça, e serei bastante rico e nada mais vos solicitarei.
Doce Coração de Jesus, sede meu amor. (300 dias — Pio IX).
Doce Coração de Maria, sede a minha salvação. (300 dias — Pio IX).

(7 anos e 7 quarentenas de indulgência cada dia e uma indulgência plenária no fim).

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Excertos do livro: Mês do Sagrado Coração de Jesus - Padre José Basílio Pereira - 2a. edição, 1913.

1º. Dia - Mês do Sagrado Coração de Jesus




MEDITAÇÕES
- I -
Os terníssimos afetos do Coração de Jesus

PRIMEIRO DIA
Oremos para que em todo este mês não se cometa um só pecado mortal em nossa família. 
Pai Nosso ...
Ave Maria ... 
Glória ...
Jaculatória: “Coração de Jesus, que tanto nos amais, fazei que vos amemos cada dia mais”.

Jesus e as criancinhas
Jesus está assentado e, em redor dele, estão os discípulos; lá adiante, por entre a multidão, seu olhar paternal descobre umas criancinhas que tímidas se aconchegam às mães; Jesus estende-lhes os braços como a chamá-las.
Os pequenos compreendem esse convi­te afetuoso e logo correm a Jesus que os abraça, abençoa, detém junto de si e lhes fala do céu. Os Apóstolos, temendo que eles incomodassem o divino Mestre, queriam afastá-los… “Não, diz Jesus, deixai que as criancinhas se cheguem a mim”.
Que cena tocante! Ó Jesus, também eu sou criança e também, como elas, corro a vós; acariciai-me, abençoai-me, falai-me do céu.
Se me conservar simples, inocente, afável, me haveis de querer: não é assim meu Jesus? Afastai-vos, pois, pensamentos, de­sejos, afeições que arrancareis do coração o que agrada a Jesus.
“Preparar-me-ei devotamente para a minha próxima Comunhão”.

EXEMPLO
“Deixai os pequeninos virem a mim, porque deles é o reino dos céus. Foram certamente essas palavras partidas do Coração de Jesus que ditaram a seu Vigário na terra o decreto sobre a Comunhão dos meninos, mandando que se lha dê logo que neles se acenda o lume da razão e saibam distinguir entre o pão da alma e o do corpo; e os fatos providencialmente se tem encarregado de provar que, ao invés de retardar a primeira Comunhão para além do primeiro decênio da vida, é justo, muitas vezes, permiti-la até no primeiro lustro… Um desses casos é o de Nellie, chamada “a pequena violeta do SS. Sacramento”, morta aos 4 anos e meio de idade, a 2 de fevereiro de 1908, no convento do Bom Pastor, em Cork na Irlanda, e cuja “vida” corre impressa num volume de 225 páginas sob os auspícios e bênçãos de Pio X. Nellie, a primeira vez que viu a Sagrada Hóstia exposta, exclamou radiante: “Ali está o Deus Santo!” E dizia depois muitas vezes: “É preciso que vá hoje à casa de Deus Santo: eu quero con­versar com Ele”. Abraçando com efusão as pessoas que haviam comungado, sem que lho houvessem dito, lhes declarava: “Eu sei que hoje recebeste o Deus Santo”. Quando, ferida de uma enfermidade mortal, lhe anun­ciaram que faria a sua primeira Comunhão, deu um grito de alegria, exclamando: “Terei então breve o Deus Santo em meu coração!” E, no curso de sua dolorosa enfermidade, recebeu muitas vezes a Hóstia Sacrossanta, recolhendo-se em fervorosas ações de graças que dura­vam duas e três horas, e suportando seus padecimentos até o fim, com uma resignação admirável e edificante, nunca, vista em criança de sua idade.
“A Revista do Coração Eucarístico” de julho de 1911 menciona também o caso de certa aluna de uma casa religiosa de Roma, onde se asilaram cerca de cem meninas escapas ao terremoto de Messina. Admitidas à audiência pelo Papa, quando este falava, sentiu-se mais de uma vez puxado pelas vestes, e perguntou: “Quem é que me sacode assim?” Uma voz argentina responde logo: “Sou eu”. Era uma pequena de 5 anos; as supe­rioras quiseram repreendê-la, mas Pio X acudiu: “Povera fanciulla, que queres de mim?’— “Eu tenho cin­co anos ; queria fazer minha primeira Comunhão, e as Religiosas não querem!”— “Não sabes talvez bastante o catecismo”, observou o Papa sorrindo. — “Examinai, replicou ela, eu responderei”. O Pontífice fez-lhe di­versas perguntas, e as respostas foram satisfatórias; admirado, voltou.se para as Irmãs, e disse: “Dai-lhe a santa Comunhão amanhã”.
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Excertos do livro: Mês do Sagrado Coração de Jesus - Padre José Basílio Pereira - 2a. edição, 1913.
v

Academia da Congregação Maria de Nossa Senhora Auxiliador e de São José

 O Nome a Jesus e os Sonhos de José
“Ela dará à luz um filho, a quem porás o nome de Jesus, porque ele salvará o seu povo de seus pecados. Tudo isto aconteceu para que se cumprisse o que o Senhor falou pelo profeta: Eis que a Virgem conceberá e dará à luz um Filho, que se chamará Emanuel (Is 7,14), que significa: Deus conosco. Despertando, José fez como o anjo do Senhor lhe havia mandado e recebeu em sua casa sua esposa. E, sem que ele a tivesse conhecido, ela deu à luz o seu filho, que recebeu o nome de Jesus” (Mt 1,21-25)
Sabemos que para o povo bíblico o nome designa a própria natureza do ser, as suas qualidades e a missão da pessoa. No livro do Gênesis (17,5) Javé trocou o nome de Abrão para Abraão porque o tornou pai de uma multidão.
Dar o nome ao filho é um direito inerente à missão dos pais, pois estes exercitam a autoridade sobre eles, e de certo modo designam a personalidade deles. De fato, Abraão deu o nome aos seus filhos Israel (Gn 16,15;); Isac (Gen 17,19); Raquel ao filho José (Gn 30,22-24); Ana ao Filho Samuel (1 Sam 1,20); Zacarias a João (Lc 1,55-64).
Na verdade, nesta ótica bíblica, José ao impor o nome a Jesus, o introduziu na descendência davídica com a sua consequente messianidade, assim como assumiu sobre ele os direitos de pai.
De fato, São João Crisóstomo coloca na boca do anjo do anúncio a José, estas palavras:
“Sem bem que tu, José, não tens nada a ver com a geração... te confiro igualmente aquilo que é próprio de um pai, impor-lhe o nome; te confio Jesus para que sejas aqui na terra o seu pai” (In Matthaeum homilia IV: MG 57,46-47).
Os sonhos estão presentes na história dos Patriarcas, tais como: Abraão (Gn 15,.12); Jacó (Gn 31,10-18); José (37,5-10), etc. No NT são apresentadas situações de visões mas que no contexto parecem sugerir sonhos (At 16,9; 27,23; 18,9; 23,11), além daquelas referências de Mateus, onde se descreve a vocação de José (1,18-25), A fuga para o Egito (2,13-15), A volta do Egito (2,19-23), etc.
            Ligado aos sonhos de José estão os anjos, os mensageiros de Deus. São várias as passagens do NT que fazem referências aos anjos (Lc 1,11; 2,9; At 5,19; 8,26; 12,7.23; 22,43; Mt 4,11 etc.).
O beato Paulo VI evidencia neste fato, São José como modelo de escuta da vontade de Deus, onde por “três vezes no evangelho, se fala de colóquios de um anjo com José durante o sono. O que quer dizer isso? Significa que José era guiado, aconselhado no íntimo, pelo mensageiro celeste. Havia uma ordem da vontade de Deus que se antepunha às ações e portanto o seu comportamento normal era movido por um arcano diálogo do que fazer: José, não temas; não faças isso; partas, voltes!
Vemos (nele) uma estupenda docilidade, uma prontidão excepcional de obediência e de execução. Ele não discute, não hesita, não reivindica direitos ou aspirações. Lança-se na execução da palavra que lhe foi dirigida” (Homilia 19/3/1968).
Portanto, José regulou a sua vida como a sua consciência, iluminada pelo o que o Espírito de Deus lhe ditava. Ele comporta-se conforme as inspirações que lhe vinham do alto. Como conclusão pode-se dizer que os sonhos de São José conforme nos apresenta o evangelista Mateus, podem ser considerados como um meio de revelação divina. Eles podem ser considerados evidentes inspirações divinas que o guiava para o desenvolvimento de sua responsabilidade de pai legal de Jesus.
Os sonhos de José narrados por Mateus evidenciam este fato, pois estes referem-se aos “mistérios” da vida de Jesus, ou seja, nascimento, permanecia no Egito e residência em Nazaré, mistérios estes, dos quais São José foi indispensável “ministro”.
De fato, nos episódios de sua vocação (Mt 1,18-25), José resolve suas dúvidas diante da maternidade de Maria, quando o anjo o coloca junto a ela para assegurar a messianidade de Jesus através da descendência davídica e depois para dar-lhe o nome. Da mesma forma, a permanência no Egito é para salvar a vida física de Jesus ameaçada por Herodes, mas dentro do “mistério” é a redenção da humanidade operada naquela região de antiga escravidão através do Filho e do intervento do Pai: “do Egito chamei o meu Filho” (Mt 2,15).
Este sentido de disponibilidade e de obediência de José é lembrado por são João Paulo II propondo-o como modelo para toda a Igreja... “Logo no princípio da Redenção humana, nós encontramos o modelo da obediência encarnado, depois de Maria, precisamente em José, aquele que se distingue pela execução fiel das ordens de Deus” (RC 30).

31 de Março - Mês Dedicado à São José São José, a Igreja e as Almas



São José, pai da Igreja e das Almas
A divina casa que São José governou com autoridade de pai continha as primícias da Igreja nascente. Da mesma forma que a Santíssima Virgem é mãe de Jesus Cristo, Ela é mãe de todos os cristãos que adotou no monte Calvário, em meio dos supremos sofrimentos do Redentor; e Jesus Cristo é como o primogênito dos cristãos, que, por adoção e redenção, são seus irmãos.
“Sobre esta grande multidão de cristãos, que compõem a Igreja, sobre esta imensa família espalhada por toda a terra, José, por ser esposo de Maria e pai de Jesus Cristo, possui uma autoridade paterna” (Leão XIII, Encíclica Quamquam plurie).
Esta origem do patronato de São José nos deve torná-lo caro e venerável. São José, por suas ligações com Jesus e Maria é, por direito divino, o Patrono universal da Igreja e Patrono particular de cada um de nós. E os decretos dos Soberanos Pontífices não fazem mais que declarar o que ele é, proclamando-o Patrono da Igreja Católica.
Eis porque esse patrocínio, mil vezes bendito, se manifesta, pelo incomparável poder de que dispõe, pela universalidade das graças que pode obter, pela sua influência no céu, na terra e no purgatório, superior ao patrocínio de todos os Santos e de todos os Anjos; suas raízes mergulham na ordem hipostática, é uma manifestação magnífica das prerrogativas de São José na Santa Família.
Assim, pois, devemos ter confiança completa em seu patrocínio, quer quanto ao que diz respeito à Igreja, quer quanto a nós. Esse patrocínio é universal, para toda a Igreja, e particular para cada um de nós.

São José, protetor e defensor da Igreja e de cada Alma
São José salvou a vida de Jesus. “Foi São José que preservou da morte o Menino ameaçado pelo ódio de um rei, procurando para ele o refúgio” (Leão XIII).
E Deus quer que essa proteção e defesa paterna sejam a origem, o penhor, a inauguração de seu ministério paterno no curso dos séculos. “Como cercara santamente a Família de Nazaré com sua proteção, cobre agora com seu celeste patrocínio e defende a Igreja de Jesus Cristo” (Leão XIII).
Nos perigos que ameaçam sempre a Igreja militante e a cada um de nós, tenhamos confiança no patrocínio de São José, a quem devemos recorrer em nossas orações quotidianas.

São José, pai nutrício da Igreja e de cada Alma
Pai nutrício de Jesus, São José é, por isso, Pai nutrício da Igreja e de cada alma. José no Egito forneceu trigo ao povo judaico, e São José nos preparou o pão celeste. Por vontade de Deus, foi graças a ele que nossa nutrição principal pôde descer do céu. Foi graças a ele que o Verbo se fez homem por uma conceição virginal, cresceu e se preparou para a imolação que o havia de triturar por nossas almas, como o trigo é triturado para alimento dos nossos corpos. O Pão divino começou a ser imolado sob os olhos de São José, na companhia dele, pela pobreza, trabalho, sacrifício... Sobre a Cruz foi somente a consumação das imolações de Nazaré e de Belém.
Na Igreja, esta casa de Deus, inaugurada na casa de Nazaré, há outros socorros dos quais a nossa vida tem necessidade, tais como os Sacramentos. A São José devemos pedir a recepção digna desses Sacramentos.
Ainda mais, é de São José que esperamos esta nutrição tão necessária, que se chama a doutrina cristã – a qual por intercessão de São José pedimos que seja muito abundante e proveitosa e que nosso apostolado seja por ele abençoado.
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A vida de São José pela Associação de Adoração Contínua a Jesus Sacramentado. Livraria Francisco Alves. 1927.


30 de Março - São José como intercessor

Grande deve ser, no Céu, o poder de São José sobre os elementos materiais que pode impedir nos sejam nocivos ou fazer que nos sejam úteis; sobre os demônios, neutralizando seu ódio e desmanchando seus embustes e perfídias; sobre os bons Anjos que pode enviar para nos socorrer.
Mas, acima de tudo, tem ele o poder da oração, como pai de Jesus e esposo de Maria Santíssima, e esse poder é geral para todas as nossas necessidades e não particular, como é atribuído aos demais santos.
Invocam-se os santos, diz São Francisco de Salles, para necessidades particulares, como se as graças e o dom dos milagres fossem partilhados entre eles e cada um tivesse uma parte limitada; mas São José tem o remédio geral para todas as necessidades do corpo e da alma, no crédito absoluto que tem junto de Nosso Senhor.
Todos esses pensamentos estão contidos na admirável oração a São José que legou Leão XIII:
“Recorremos a vós em nossa tribulação, ó bem-aventurado José, e, depois de ter implorado o socorro de vossa santa Esposa, solicitamos, com confiança, vosso patrocínio. Pela afeição que vos uniu à Virgem Imaculada, Mãe de Deus, e pelo amor paterno de que cercastes Jesus Cristo, vos suplicamos que olheis, com bondade, para a herança que Jesus Cristo conquistou com seu sangue e que nos assistais com vosso poderoso socorro em todas as nossas necessidades. Protegei, ó sábio Guarda da divina Família, a raça eleita de Jesus Cristo; preservai-nos, ó pai amantíssimo, de toda manha de erro e de corrupção; sede-nos propício e assisti-nos do alto do céu, ó nosso poderoso libertador, no combate em que estamos empenhados com o poder das trevas; e, do mesmo modo que livrastes, outrora, o Menino Jesus do perigo da morte, defendei hoje a Igreja de Deus dos embustes do inimigo e de toda a adversidade. Concedei-nos vossa perpétua proteção, afim de que, com vosso exemplo e por vosso socorro, possamos viver santamente, piedosamente morrer e obter a beatitude eterna do céu. Assim seja.”
São José é, ainda, mais que intercessor, é nosso corredentor. O título de esposo de Maria, Mãe dum Deus Redentor, dá a São José o título de corredentor, tomando, aliás, esta palavra em sentido essencialmente diferente do sentido que tem com relação a Maria Corredentora. Quer isso dizer que São José foi, com efeito, associado como causa, ou ao menos como condição indispensável com relação ao plano divino da Encarnação Redentora; e isso não se pode dizer de nenhum outro santo.
Os outros santos estão depois da ordem hipostática, ou amo menos fora dela. Eles tem com relação a ela, cada um tomado a parte, uma função superrogatória.

O Verbo não quis se encarnar para nos resgatar sem a coparticipação de São José.
Não queremos terminar estas considerações sem repetir o que escreveu Santa Tereza, em que, para propagar a devoção a São José, vale por tudo o que temos dito:
“Tomo por advogado e protetor a São José, e recomendo-me instantemente a ele. Seu socorro manifestou-se do modo mais visível. Esse terno pai de minha alma, esse amado protetor, apressou-se em me tirar do estado em que desfalecia meu corpo, bem como me livrou de perigos maiores de outro gênero, que ameaçavam minha honra e minha salvação eterna. Para cúmulo de felicidade, tem-me sempre ouvido além de minhas preces e de minhas esperanças. Não me lembro de lhe ter pedido, até este dia, coisa alguma, que me não tenha concedido. O Altíssimo dá somente graça aos demais santos para nos socorrer em tal ou qual necessidade; mas o glorioso São José, eu o sei por experiência, estende seu poder a tudo. Nosso Senhor quer nos fazer entender por aí, que, assim como ele lhe foi submisso na terra do exílio, reconhecendo nele a autoridade dum pai adotivo e dum governador, igualmente se apraz ainda em fazer sua vontade no céu, ouvindo todos seus pedidos... Conhecendo hoje, por uma tão longa experiência, o admirável crédito de São José junto de Deus, quereria persuadir todo o mundo a honrá-lo com um culto particular. As pessoas, dadas à oração, deveriam principalmente sempre amá-lo com uma filial ternura... Quem não encontrar quem lhe ensine a orar, escolha este admirável santo por mestre...” (Vida de Santa Tereza, escrita por ela mesma).
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A vida de São José pela Associação de Adoração Contínua a Jesus Sacramentado 

29 de Março - Mês Dedicado à São José São José, pai e educador





 O Filho de Deus quis ser criado e educado por São José. Que sublime missão! Vossos exemplos e lições admiráveis, desnecessários aliás para o Menino Jesus, que tinha as Virtudes e os Dons do Espírito Santo desde o primeiro instante, sirvam para nós de modelo.
            Em todas as condições de tempo e de lugar, encontramos em São José o modelo mais perfeito: o modelo de vida interior, da contemplação, que transforma a vida pela prática das virtudes; o modelo da vida exterior nas santas viagens, nos trabalhos; o modelo das santas alegrias, das cruzes aceitas e suportadas, em união com Jesus, encontramos nele que é “a Consolação dos desgraçados”; o modelo da fé mais singela e firme encontramos nele que é “fidelíssimo”; o modelo da mais completa confiança em Deus e do mais perfeito abandono; o modelo da caridade mais desinteressada, de esquecimento completo de si mesmo, da dedicação a toda prova; o modelo da coragem nas dores encontramos nele que é o “Espelho da paciência”; o modelo de uma pureza digna da Virgem das virgens e do Santo dos santos encontramos nele que é o “Guarda das virgens”; o modelo da humildade mais profunda; o modelo das virtudes familiares, encontramos nele que é a “Glória da vida da família” e o “sustentáculo das famílias”; o modelo da elevação e da dignidade santas na nobreza; o modelo da resignação em trabalhos rudes encontramos nele que é o “modelo dos operários”; o modelo da vida a mais santa na desgraça encontramos nele que é o “Consolador dos desgraçados”; o modelo da melhor morte encontramos nele que é a “Esperança dos enfermos”, o “Patrono dos moribundos”. Os pais de família encontram em São José a mais bela personificação da vigilância e da solicitude paternas; os esposos, um perfeito exemplo de amor, de concórdia e de fidelidade conjugal; as virgens têm nele ao mesmo tempo o modelo, e o protetor da integridade virginal. Os nobres de nascimento aprendem de José a guardar, até o infortúnio, sua dignidade; os ricos aprendem, em suas lições, quais são os bens que devem desejar e adquirir a custa de toso seus esforços. Quanto aos proletários, aos operários, as pessoas de condição mediana, têm eles um direito especial de recorrer a José e procurar imitá-lo.
            São José, com efeito, de raça real, unido pelo casamento à maior e mais santa das mulheres, considerado como o pai do Filho de Deus, passa sua vida a trabalhar e tira de seu trabalho de artista o necessário par manter sua família.
            “É, pois, um fato que a condição dos humildes nada tem de abjeto, e não somente o trabalho do artista não desonra, mas pode, se si alia à virtude, ser muito enobrecido. José, satisfeito com o pouco que possuía, suportou as dificuldades inerentes a essa mediocridade de fortuna com grandeza d’alma, à imitação de seu Filho, que, depois de ter aceito a posição de escravo, sendo Senhor de todas as coisas, se sujeitou, voluntariamente, à indigência e à falta de tudo” (Leão XIII).

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A vida de São José pela Associação de Adoração Contínua a Jesus Sacramentado - Livraria Francisco Alves, 1927
http://almasdevotas.blogspot.com.br/search/label/S%C3%A3o%20Jos%C3%A9

28 de Março - Da glória que o Bem-aventurado São José goza no Céu entre os mais santos



         É opinião aceitável e recebida com aplauso da maior parte dos Autores, que o felicíssimo São José está no Céu em corpo e alma junto de sua amada Esposa Maria Santíssima em trono à esquerda de Jesus Cristo, pertencendo o da direita à Sua Santíssima Mãe. A razão substancial é, porque, como diz Santo Antônio, todos os Santos, na Jerusalém celeste e triunfante, se hão de colocar em suas ordens e hierarquias, de modo que nenhum deles esteja solitário.
            Conforme esta suposição, é conveniente que a soberana Rainha dos Anjos tenha na sua hierarquia quem a acompanhe; e não podendo ser a humanidade de Cristo, por estar colocada no trono da Divindade, é justo que seja a amável companhia de São José, porque só a ele, como Esposo seu e estimado Pai de Cristo, lhe compete este lugar entre todos os Anjos e Santos, nenhum dos quais o excedeu em dignidade, só à puríssima Virgem semelhante.
            Assim como a humanidade de Cristo Senhor nosso obteve mais abundante graça e glória, por estar mais chegada e imediata ao Verbo Divino, e depois Maria Santíssima, por estar mais próxima a seu Filho, da mesma sorte se julga, prudentemente, que o felicíssimo São José alcançou o terceiro lugar na abundância da graça, porque, depois da Virgem, foi o que esteve mais junto a Cristo, o que o tratou com mais familiaridade e teve com ele uma singularíssima união por muitos anos, além do singular parentesco, pois foi seu pai não só legítimo e próprio, mas Esposo verdadeiro de sua Mãe imaculada.
            Este lugar tão distinto e especial, que o nosso Santo ocupa na glória, lhe é tão próprio, que não pode competir a nenhum dos outros Bem-aventurados, ainda que sejam dos que gozaram das primícias do Espírito Santo, quais foram os Apóstolos, porque são tão singulares os títulos e predicados de São José, e a sua dignidade é de ordem tão elevada que não podem os outros entrar em paralelo, e assim excede a todos os demais Santos.
            A razão de tudo está em ser o ministério de São José comparado ao dos Apóstolos, constituído em classe separada, isto é, na ordem hipostática, ou concernente ao grande Mistério da Encarnação do Verbo Divino, que neste sentido excede a tudo.
           Funda-se mais esta superioridade da glória de São José na resposta, com que Jesus Cristo negou as duas cadeiras no Reino Celeste, que a mulher de Zebedeu lhe pedia para o seus dois filhos João e Tiago, porque já estavam destinadas pelo Pai Eterno para Maria Santíssima e para São José, uma à mão direita, outra à mão esquerda do Verbo Divino.
            Este excesso e vantagem, que Maria Santíssima e São José fazem aos outros Santos na glória, quis também dar a entender o Evangelista São Mateus no capítulo I, do seu Evangelho; porque piamente se pode crer, ou opinar que, pela mesma ordem, com que o Evangelista nomeia na terra estas três augustíssimas Pessoas – Jesus, Maria e José –, essa mesma guardam e observam na Bem-aventurança; donde o Doutor exímio disse bem que, ainda que não havia estado no Céu para ver a cadeira que ocupava gloriosamente São José, inferia, com graves fundamentos, que o lugar que tinha era tão superior, que dominava ao dos Apóstolos e mais Santos.
            A maior dificuldade, que neste pondo se encontra, é, se este excesso de glória, com que o nosso Santo supera os Apóstolos, se deva entender também com o grande Batista, Precursor de Cristo, e por ele canonizado pelo maior entre os nascidos de mulher, e de quem há tão frequentes louvores na Escritura e Santos Padres. São José alcançou mais perfeita graça que o Batista, pois teve mais excelente ministério, maior dignidade e ocasiões mais oportunas e frequentes para aumentar a mesma graça e amor a Deus.
            É certo que o verdadeiro conhecimento destas honras e distintas glórias que os Santos gozam no Céu em prêmio dos seus merecimentos e virtudes, só a Deus pertence, e que nos devemos abster destes paralelos; porém, com ânimo cheio de devoção e piedade, podemos supor sem temeridade, que, depois de Maria Santíssima, não há, no Céu, Santo que esteja mais próximo de Jesus Cristo nos graus da glória que o Bem-aventurado São José, donde o insigne Escobar proferiu esta proposição: José não é Deus, nem é Anjo; mas eu o vejo tão separado e distinto de todos os mais Santos, que constitui na Glória com sua amantíssima Esposa um coro muito especial.
            Daqui procede a distinta e profunda reverência, que todos os Bem-aventurados, na Corte Celeste, tributam ao glorioso São José. De sorte que, por todos estes fundamentos e razões, compete mais ao nosso Santo um resplendor singular, que, como insígnia de sua admirável dignidade, o distinga entre os outros Celestiais Cortesãos; e este é uma coroa de doze estrelas correspondentes a outras tantas prerrogativas, que engrandecem sua glória, para que, da mesma sorte que sua imaculada Esposa Maria Santíssima está no Reino da feliz eternidade coroada de doze estrelas, como Rainha dos Céus e dos Anjos, esteja também o Esposo pelo mesmo título analogicamente coroado com outras tantas brilhantes estrelas e excelências, para se verificar nele o vaticínio do Profeta Isaías.
            A primeira estrela ou excelência que se vê brilhar na coroa de São José, é a dignidade real semelhante à de sua Esposa, com quem se deve conformar em tudo que for possível. A segunda estrela é a excelência de sua digníssima eleição de pai reputado de Jesus Cristo e Esposo verdadeiro de sua Mãe. A terceira é o grande título, que o Evangelho lhe dá de Justo, que compreende em si todas as virtudes da perfeição. A quarta é a excelência de sua integridade e virginal pureza. A quinta é o amor singularíssimo, que lhe teve Maria Santíssima, sua Esposa, a sexta é o privilégio da íntima conversação e sociedade, que teve com sua Divina Esposa pelo espaço de trinta anos.
            A sétima estrela da coroa do glorioso São José é a felicidade de haver ocupado sua existência com Jesus e sua Santíssima Mãe. A oitava são as incomparáveis honras, que recebeu nesta vida de Jesus e Maria. A nona é a inefável consolação, que teve com a presença do Redentor enquanto viveu. A décima é o muito que foi estimado de sua amantíssima Esposa. A undécima é a união perfeita e mística, que teve com Deus pela Fé, pela contemplação e caridade. A duodécima é a parte que em sua alma teve toda a Santíssima Trindade.
            De todas estas doze brilhantes estrelas é composta a preciosíssima coroa de São José, a qual guarnecem também outras muitas resplandecentes prerrogativas, que são outros tantos júbilos de glória acidental, que o nosso Santo goza na Bem-aventurança, e com que se aumenta o resplendor formosíssimo da sua glória tão distinta entre os mais Cortesãos daquela Celestial Jerusalém.

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A vida de São José pela Associação de Adoração Contínua a Jesus Sacramentado. Livraria Francisco Alves. 1927.


27 de Março - Mês Dedicado a São José Desce a alma de São José ao Limbo: ressuscita gloriosamente com Cristo, e com ele sobre ao Céu em corpo e alma





          Honrando Cristo Senhor nosso, de muitos modos, em vida, a seu estimado Pai, continuou a honrá-lo também depois de morto, mandando logo aos Arcanjos São Miguel e Gabriel que conduzissem sua alma em companhia de muitos Coros de Anjos para o repouso do Limbo ou Seio de Abraão, onde esperavam as almas dos Patriarcas, Reis, Profetas e mais Justos pela redenção do gênero humano. Ali entrou o Bem-aventurado José com o especial caráter de legado e como precursor de Jesus Cristo, para os consolar e animar de novo suas esperanças.
            Que alegres festas fariam, contempla um Varão pio e douto, à puríssima alma de São José aqueles Santos Padres, que ali estavam, sabendo dos Anjos quem ele era, as dignidades e prerrogativas, que no mundo lograra? Como o cercariam todos, e lhe diriam contentes: Oh alma venturosa de tão ditoso corpo, cujos olhos mereceram ver e gozar o que nós há tanto tempo suspiramos; informai-nos, alma felicíssima, da vinda do Messias ao mundo e de suas perfeições e excelências. Dizei-nos se está já chegado o prazo e o fim deste nosso tão dilatado desterro. De tudo lhe daria o Santo Patriarca mui plena e exata informação.
            Nesta feliz menção sentia a alma de São José a ausência de Cristo, e tanto mais quanto amava a Jesus mais que todos; passando o tempo em contínuas súplicas, orando ao Céu que viesse o Senhor tirá-lo daquelas prisões, em que estava, até que o Redentor do mundo concluindo a redenção do gênero humano, triunfou da morte, e desceu glorioso ao Limbo, como Rei soberano e vitorioso.
            É crível que o Senhor depois que todos o adoraram, e ele abraçou a todos, tratasse a São José seu estimado Pai, com maior carinho e atenção. Ao entender do iluminado espírito de São Francisco de Salles, falaria assim a Cristo o venturoso São José: “Senhor, e Redentor meu, lembrai-vos, se é do vosso agrado, que, quando baixastes do Céu à terra, vos recebi em minha casa e em minha família, e que, depois que nascestes, vos recebi entre os meus  braços; agora que haveis de subir ao Céu, levai-me convosco. Eu vos recebi na minha família, recebei-me agora na vossa; e como eu tive cuidado de alimentar-vos, enquanto durou a vida mortal, cuidai agora de mim e conduzi-me à vida eterna”.
            Assim o fez o Senhor como Filho amantíssimo e agradecido, ressuscitando-o juntamente no dia da sua prodigiosa Ressurreição, em corpo glorioso. Diz o Evangelista São Mateus, no capítulo 27, que ressuscitaram como Jesus Cristo muitos corpos de Santos, os quais, levantando-se e saindo de suas sepulturas depois de Cristo ressuscitado, vieram à Santa Cidade de Jerusalém e apareceram a muitos; e, entre estes que ressuscitaram, não há outro, que com mais razão pudesse gozar deste privilégio que o glorioso São José.
            A razão é persuasiva; porque, sendo o fim deste prodígio testemunhar aos de Jerusalém que Jesus Cristo havia ressuscitado verdadeiramente, é crível que fossem aqueles justos, que pouco tempo antes tivessem falecido e fossem conhecidos em Jerusalém, e ninguém melhor que São José, o qual, na Cidade e em seus contornos se tinha feito conhecido de todos e era reputado por Pai de Jesus. Também é muito verossímil que os Justos, que ressuscitaram, fossem aqueles, que tinham maior conexão com Cristo ou por parentesco, ou por virtudes, e em nenhum outro se achavam mais unidas estas condições, que no gloriosíssimo Patriarca São José.
            É tradição da Igreja, recebida e celebrada por todos ou fiéis e Doutores sem controvérsia, que a primeira pessoa, a quem Cristo pareceu ressuscitado e glorioso, foi a sua Mãe Santíssima; porque, segundo a regra do Apóstolo, assim como tinha sido a primeira nas dores, o fosse também nas consolações; e, como na companhia do Senhor vinha São José, como piamente cremos, é indubitável que na Virgem seriam iguais os júbilos com a vista alegre do Filho e do Esposo ressuscitado. Então podemos dizer que também ressuscitará o esposo da Virgem Maria, assim como de Jacó diz a Escritura que ressuscitara, quando soube ser vivo seu filho José, que tinha chorado como morto.
            Nenhum Santo há que se atreva a declarar os extremos de alegria e gozo inefável, com que a cheia de graça foi também cheia de glória nestes dias de seu maior júbilo, dando e recebendo parabéns da Ressurreição do Filho e do Esposo. O Filho, para consolar inteiramente a Mãe do trabalhos passados com a glória presente, lhe diria que já era tempo de primavera festiva e alegre, que já nasciam e renasciam flores do mesmo sepulcro, trocando-se as suas chagas em lírios vistosos; e, entre as belas flores do ameno jardim de Nazaré resplandecentes e formosas, lhe mostraria o Senhor, em traje de jardineiro, a açucena cândida de seu felicíssimo Esposo, o sempre Virgem São José.
            Acrescenta São Bernardino de Sena, dizendo que Cristo Senhor nosso levara consigo ressuscitado a São José, cheio de grande glória, para que aliviasse a pena de sua Esposa Maria Santíssima, e que lho mostrara entre todos os Santos Padres com um especialíssimo diadema de ouro na cabeça em forma de Cruz, significando assim como era superior aos mais Santos, como o ouro aos outros metais.
             Não é pequena a controvérsia e mui debatida entre antigos e modernos sobre a natureza dos Justos, que ressuscitaram com Cristo, se foi no estado de vida mortal, como sucedeu a Lázaro, ou no de vida gloriosa para nunca mais morrer. De certo nada está decidido, e a respeito há duas opiniões. A primeira afirma que aqueles Santos ressuscitaram por pouco tempo, e para tornarem outra vez a morrer. Seguem-na Santo Agostinho, São Tomás.
            A segunda opinião, porém, é que aquela ressurreição dos Justos fora para vida imortal e gloriosa, e pela qual militam muitos Doutores. A razão é, porque de outra maneira ficariam aqueles Bem-aventurados em pior condição, do que quando estavam no escuro cárcere do Limbo, se ficassem na vida terrestre para morrerem outra vez. Das mesmas palavras do Evangelista, que diz apareceram a muitos esses Santos ressuscitados, e não a todos, se infere que eles tinham corpos glorificados, em cujo poder estava manifestar-se, ou ocultar-se, quando e como queriam, para confirmar a evidência da Ressurreição de Cristo.
            E, como este Senhor dizia que as suas delícias era estar com os filhos dos homens, é de crer, diz o grande Suares, que tivesse deles alguns companheiros de sua glória em corpo e alma, para que, assim como se manifesta a Divina Justiça havendo no Inferno alguns homens em corpo e alma, antes de geral ressurreição dos condenados, como Dathan e Abiron, Levitas sediciosos, assim convinha que, para demonstração da Divina misericórdia e Redenção copiosíssima de Jesus Cristo, recebesse no Céu alguns Justos glorificados em corpo e alma, antes da ressurreição universal dos Bem-aventurados.
            Assim sendo, faz-se crível que o Senhor, no dia da sua admirável Ascensão, levasse consigo para a Jerusalém Celeste o glorioso São José em corpo e alma, para gozar dos prêmios inefáveis da Bem-aventurança. Pregando isto em Pádua, São Bernardino de Sena, diz André de Soto que, quando o Santo discorria sobre o assunto, viu o auditório resplandecer sobre a cabeça do Santo um Cruz de ouro; e acrescenta Carthagena que nenhuma dificuldade tem em dar crédito a este prodígio, pois que o mesmo Santo dissera as seguintes palavras:
            “Piamente se há de crer que o piedosíssimo Filho de Deus honrasse com semelhante privilégio a seu Pai virginal, assim como honrou a sua Santíssima Mãe; e, assim como levou a Virgem gloriosa para o Céu em corpo e alma, assim também no dia, em que ressuscitou, levou consigo o Santíssimo José gloriosamente ressuscitado, para que, da mesma sorte que os membros da Sacra Família, Jesus, Maria e José viveram juntos na terra em vida trabalhosa e em união de graça, assim em amorosa glória reinem no Céu e corpo e alma; ou, como diz Riquelio, para que assim como há no Céu uma Santíssima Trindade de Pessoas na natureza Divina, Pai, Filho e Espírito Santo, houvesse também na terra outra adorável Trindade de Pessoas, a saber: Jesus, Maria, José”.

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 A vida de São José pela Associação de Adoração Contínua a Jesus Sacramentado - Livraria Francisco Alves, 1927