MARIA
SANTÍSSIMA, MAE E CONSOLADORA DO PURGATÓRIO
Maria pode
socorrer as almas
Um dia,
escreve Santa Brígida nas suas Revelações, disse-me a Virgem Santíssima:
Segundo
Santo Tomás de Aquino, duas coisas concorrem para que o sufrágio dos vivos
aproveitem aos mortos: a caridade que une a todos, e a intenção que tem eles de
socorrer os mortos. Quanto ao primeiro, nenhum meio existe maior de um vínculo
de caridade que o Santo Sacrifício da Missa, o Sacramento que é o vínculo dos
fiéis da Igreja. Quanto à outra, a oração, tem a vantagem de levar nossa
intenção diretamente a Deus quando se invoca a Divina Misericórdia.
Ora, quem
pode negar que os Santos do céu já purificados, possuam a caridade em estado de
perfeição na glória e a intenção reta de ajudar às benditas almas sofredoras?
Quem melhor do que eles conhece o sofrimento daquelas almas? Não há dúvida, os
Santos na glória podem e socorrem as almas do purgatório. Quanto mais a
Rainha dos Santos!
Contestaram
alguns com subtilidades teológicas que Maria nada poderia fazer pelas almas
entregues à Justiça Divina no purgatório. “Alguns autores, diz o piedoso Pe.
Faber, pretendem que a Santíssima Virgem não pode ajudar as almas do
purgatório senão de uma maneira indireta, porque não está mais em estado de
satisfazer por elas. Não gosto de ouvir isto. Não gosto que falem de uma coisa
que nossa terna Mãe não possa fazer”[3].
Como socorre Maria as almas sofredoras?
— “Meu
filho, meu filho, lembra-te dos defuntos!
— Sim,
minha Mãe, o farei doravante, respondeu o piedoso Irmão. E desde aquele dia se
entregou às boas obras e sacrifícios e orações pelas almas[5].
Quantas
vezes Nossa Senhora em tantas revelações particulares pediu orações pelos
mortos! Ainda em Fátima recomenda aos Pastorinhos a jaculatória: Meu Jesus,
perdoai-nos, livrai-nos do fogo do inferno, aliviai as almas do purgatório,
especialmente as mais abandonadas!”. Maria, pois, ajuda os fiéis do purgatório
inspirando sufrágios aos seus filhos da terra e depois, oferecendo por estas
almas cativas, não as satisfações atuais, pois no céu não há sofrimento nem
expiação, mas o que Ela padeceu e mereceu neste mundo. Haverá maior tesouro
depois dos méritos de Cristo que os méritos de Maria?
Maria
Santíssima, pois, por estes dois meios pode e realmente socorre as almas. A
Igreja, na sua liturgia, confirma esta piedosa crença e esta verdade
consoladora quando assim ora na Missa dos Defuntos: “Ó Deus que perdoais aos
pecadores e desejais a salvação dos homens, imploramos a vossa clemência por
intercessão da Bem-aventurada Maria sempre Virgem, e de todos os Santos em
favor de nossos irmãos, parentes e benfeitores que saíram deste mundo, a fim
de que alcancem a bem-aventurança eterna”.
Por terem
as almas maior precisão de socorro, escreve Santo Afonso de Ligório, empenha-se
a Mãe de Misericórdia com seio ainda mais intenso em auxiliá-las. Elas muito
padecem e nada podem fazer por si mesmas. Diz São Bernardino que Maria desce ao
cárcere do purgatório onde tem certo domínio e poder para aliviar e libertar
estas esposas de Jesus Cristo. Trás alívio às almas. Aplica-lhes o Santo esta
palavra do Eclesiástico: Caminho por sobre as ondas do mar[6]. Compara as
ondas às penas da purgatório, porque são transitórias, e por isso diferentes
das do inferno, que nunca passam. Chama-as 0ndas do mar porque são penas muito
amargas. Os devotos da Virgem, aflitos com estas penas, são por Ela visitados
e socorridos frequentemente. Eis, pois como socorre Maria as almas do
purgatório.
Nossa Senhora do Carmo, Mãe do purgatório
As
aparições da Virgem Misericordiosa a São Simão Stokler e ao Papa João XXII são
muito conhecidas e hoje a piedade de toda Igreja tem na devoção à Virgem do
Carmo um motivo para chamar a Nossa Senhora Mãe e Rainha do purgatório. Diz a
Mãe de Deus a São Simão: “Recebe, meu querido filho, este escapulário de tua
ordem como sinal distintivo da minha confraria e prova de privilégio que obtive
para ti e para os filhos do Carmo. Aquele que morrer revestido do escapulário
será preservado das penas do outro mundo. É um sinal de salvação, uma defesa
nos perigos, o penhor de paz e proteção especial até o fim dos séculos”.
Promete a Virgem a proteção aos seus fiéis devotos do escapulário. Esta promessa
foi confirmada setenta anos depois, após uma revelação feita por Maria ao Papa
João XXII. Declarou este Pontífice numa Bula, que estando em oração, Maria lhe
apareceu e disse: “João, Vigário de meu Filho, és devedor da alta dignidade a
que chegaste a mim, que pedi por ti. Eu te livrei dos laços dos teus
adversários; espero de ti uma confirmação da Ordem do Carmo, que me foi sempre
especialmente dedicada. Se entre os religiosos ou confrades, quando morrerem,
se acharem alguns cujos pecados tiverem merecido o purgatório, eu descerei como
terna Mãe no meio deles, no purgatório, no sábado que seguir a sua morte.
Livrarei aqueles que eu lá encontrar e os levarei à Montanha Santa, à feliz
morada da vida eterna”.
É Maria revelando-se Mãe carinhosa das
almas do purgatório.
A arte
cristã sempre representa a Virgem do Carmo estendendo o seu escapulário sobre o
purgatório onde as almas em meio das chamas expiadoras levantam os braços e
olhos suplicantes implorando a misericórdia da boa Mãe e procurando no escapulário
um meio de saírem das chamas.
Como isto é
significativo e simbólico! Não é esta a Missão da Virgem Santíssima, Consolo e
alívio e libertação do purgatório e o que encontram com segurança os devotos
verdadeiros de Maria Santíssima? Podemos crer no grande privilégio dos
Carmelitas. A Sagrada Congregação das Indulgências em 1.° de Dezembro de 1886
decidiu: “Seja permitido aos Padres Carmelitas pregarem ao povo que se pode
crer piedosamente na assistência que esperam os Irmãos e confrades da Irmandade
de Nossa Senhora do Carmo, a saber: que esta Senhora ajudará com suas orações
contínuas e sufrágios e méritos e com uma proteção especial depois da sua morte
(principalmente ao sábado, dia que lhe está consagrado pela Igreja), aos
irmãos e confrades falecidos na caridade, com a condição de que tenham levado
durante a vida 0 escapulário, guardado a castidade de seu estado, rezado 0
Ofício Parvo, ou se não puderam rezá-lo, que hajam observado os jejuns da
Igreja e abstido de carne nas quartas e sábados”.
Este
decreto foi publicado em Roma em 15 de Fevereiro de 1615 pelo Santo Ofício.
Ora, não é a Igreja confirmando a consoladora doutrina da assistência e
proteção de Maria sobre o purgatório? Invoquemos sempre a Mãe querida das
pobres almas do purgatório. Sejamos devotos da Virgem do Carmo e do Santo
Escapulário.
Exemplo
Maria liberta as santas almas nas suas
festas
Diz o
Venerável Dionizio Cartuziano que cada ano, nas grandes festas, a Mãe de Deus
desce ao purgatório e liberta muitas almas do sofrimento, levando-as para a
glória, sobretudo nas festas da Páscoa, do Natal e da Assunção. São Pedro
Damião conta a propósito um caso que diz ter ouvido de um sacerdote fidedigno.
Vou traduzi-lo do latim tal como o deixou escrito São Pedro Damião:
“Uma mulher
em Roma entrou no dia da Assunção na basílica erigida em honra da Santíssima
Virgem no Capitólio. Grande foi a sua surpresa ao ver ali uma das suas
vizinhas, que um ano antes havia morrido. Não podendo chegar-se a ela pela
multidão que enchia o templo, foi esperá-la ao sair da igreja numa das ruas
estreitas da cidade, por onde havia de passar.
— Não és
Marozia, minha vizinha, lhe perguntou, que morreu há cerca de um ano?
— Sim, sou
eu mesma.
— E como
estás aqui?
E Marozia
confessou que havia sofrido muito no purgatório por umas faltas da meninice e
acrescentou: ‘Hoje, porém a Rainha do mundo rogou por mim e tirou a mim e a
muitas outras almas do lugar da expiação e é tão grande o número das almas
libertadas, que sobrepuja aos habitantes de Roma. Eis porque visitamos, em ação
de graças, os lugares consagrados à nossa gloriosa Rainha’.
E como
prova da verdade da aparição, anunciou que a sua amiga dentro de um ano
morreria também. O que de fato aconteceu”.
Santa Francisca
Romana, favorecida com tantas visões, contemplou também, num dia da Assunção,
o triunfo de Maria e uma multidão de almas libertadas do purgatório pela
intercessão da Mãe de Misericórdia. — (S. Petr. Damian. Opusc. XXXIV — Disput. de variis apparition,
et miraculis. C. 3. P L. CXLV — 586-587.).
[1] Revel.
Sanct. Birgitae — I, VI.
[2] Idem —
Cap. X, I — Cap. XVI.
[3] Faber:
“Tudo por Jesus” — C. IX — Purgatório, 5.
[4]
Terrien, S. J. — La Mere de Dieu et La Mere de homes — Tom. II — Lib. X, cap. II.
[5] La
Puente — Vida del P. Baltazar Alvares — C. 44.
[6] Eccl.
XXXIV, 8 — “Glórias de Maria” — Santo Afonso — I. par. Cap. VIII.
__________________________________________________________________
Fonte:
Tenhamos
Compaixão das Pobres Almas!
30
meditações e exemplos sobre o Purgatório e as Almas, por Monsenhor Ascânio
Brandão
Livro de
1948 - 243 pags, Casa da U.P.C. Pouso Alegre
Nenhum comentário:
Postar um comentário