Os Santos Padres e os Concílios sobre o Purgatório


O Concílio de Trento (1545-1563)

   Desde Orígenes e Tertuliano, encontramos nos santos Padres a prova de que a crença do purgatório sempre existiu na Igreja, desde os tempos primitivos. As inscrições das catacumbas demonstram que oravam os primeiros cristãos pelos mortos. Tertuliano exorta uma viúva cristã a conservar pelo falecido esposo a mesma ternura, rezando por ele.
   Perguntaram a São João Crisóstomo o que era preciso fazer pelos defuntos. Respondeu ele: “É preciso ajudá-los com ardentes súplicas e especialmente com a prece litúrgica por excelência, o Santo Sacrifício da Missa”. Santo Ambrósio diz o mesmo, escrevendo a Faustino: “ Chorai menos e rezai mais. Derramai lágrimas, isto é permitido, mas não deixeis de recomendar ao Senhor a irmã que vos deixou”.
   Diversos Padres da Igreja afirmam claramente o que a Escritura e a tradição demonstram a existência do purgatório. Em Cartago, S. Cipriano, no século terceiro, fala do sufrágio dos mortos que ele recebera da tradição dos seus predecessores.
Santo Agostinho louva a Parchius porque em vez de rosas, lírios e violetas sobre os túmulo, derrama o perfume da esmola sobre os túmulos, derrama o perfume da esmola sobre as cinzas dos mortos queridos. E diz mais claramente, num sermão aos seus diocesanos de Hipona: “ Não há dúvida que as esmolas dos fiéis ajudam os defuntos a serem tratados mais docemente do que mereciam os seus pecados."
   O que aprendemos de nossos pais, diz o santo Doutor, e  que a Igreja Católica observa, é fazer memória no sacrifício dos que morreram na Comunhão do Corpo e do Sangue de Cristo, e rezar e oferecer por eles o Sacrifício. Pede orações no santo altar pela alma de Mônica, sua mãe.
Recorremos a Deus, diz São Gregório Nazianzeno, as almas dos fiéis que chegaram antes de nós ao lugar do repouso.
São Cirilio escreve:” Não é por lágrimas que se socorre um defunto, mas pelas orações e as esmolas. Não deixeis de assistir os mortos, rezando por eles”.
   E muitos outros Padres da Igreja afirmam claramente a existência do purgatório e a eficácia dos nossos sufrágios. Agora, vejamos a autoridade do Concílios. Inúmeras assembleias provinciais e ecumênicas afirmam o dogma do purgatório e recomendam os sufrágios e orações pelas almas. Assim os Concílios Provinciais de: 
  1. Cartago ano 312—Canon 29.
  2. Orleans ano 533—Canon 14
  3. Praga ano 563 — Canon 34
   Os Concílios Ecumênicos de Latrão, Florença e sobretudo o Concilio de Trento não definiu a natureza apenas do purgatório, mas afirmou os pontos essenciais do dogma da seguinte forma: Como a Igreja Católica de conformidade com a sagrada Escritura e a Antiga tradição dos Padres ensinou nos Concílios anteriores e no presente sínodo universal que existe um lugar de expiação, e que as almas ali encerradas podem ser aliviadas pelos sufrágios dos fiéis e principalmente pelo Sacrifício do Altar, O santo Concílio ordena aos bispos que tomem cuidado para que uma doutrina no que respeita ao purgatório, conforme a tradição dos Santos Padres e dos Concílios, seja acreditada e sustentada por todos os que pertencem a igreja e seja ensinada e pregada em toda parte.
   As questões difíceis e aruás neste ponto que não poderiam servir para a edificação e nem favorecer a piedade, devem ser evitadas nas exortações ao povo. É mister também evitar a exposição de opiniões incertas e com aparências de erro. E definido, conclui: se alguém disser que a graça da justificação, a culpa e a pena são de tal modo perdoadas ao penitente, que não resta pena temporal a sofrer neste mundo e no céu e no outro no purgatório antes de entrar no reino do céu, seja anátema. 
E outro Canon: “ Se alguém disser que o Santo Sacrifício da Missa não deve ser oferecido pelos vivos e os mortos, pelos pecados e penas, as satisfações e outras necessidades, seja anátema”.
   Eis ai toda a doutrina da Igreja sobre o Purgatório. Que se conclui então? Há só dois pontos, perfeita e claramente definidos, que somos obrigados a crer: 
1) — Existe um lugar de purificação temporária para as almas justificadas que saem desta vida sem completa penitência dos seus pecados.
2) — Os sufrágios dos fiéis e especialmente o Santo Sacrifício da Missa são úteis ás almas.
Eis aí, em síntese, a consoladora doutrina da Igreja sobre o dogma do purgatório.

* itálicos por nossa parte*
Fonte:
Tenhamos compaixão as pobres almas!
Mons. Ascânio Brandão

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