O Purgatório e os desgraçados hereges protestantes





              O dogma do purgatório tem como corolário várias verdades de fé as quais não se é obrigado a aceitar sob pena de pecado por não serem dogmas; mas negando a própria essência do Purgatório.
                A primeira verdade de fé relacionada com o purgatório é a da justificação. Esta é uma operação divina que apaga o pecado original e os pecados atuais- se os houver-, e faz passar o pecador do estado de pecado ao estado e de justiça.
                Desde o princípio, a Igreja tem ensinado que não somente a fé, mas também uma sincera conversão do coração, efetuada com caridade e contrição, é requerida para a justificação; ou seja, para nos tornar novamente justos aos olhos de Deus. “Segundo os protestantes [Lutero, Calvino], o homem tendo sido, depois do pecado original, privado do livre arbítrio e, por consequência, incapaz de toda boa obra, somente a fé, a fé sem obras, é a única condição da justificação; mas é a fé entendida no sentido dos inovadores, que não é a fé propriamente dita pela qual cremos, pela palavra do próprio Deus, em todas as verdades que revelou á sua Igreja, mas a confiança que nos faz crer que nossos pecados são apagados pela imputação; ou, se quiser, pela aplicação dos méritos de Jesus Cristo”.
                Pois “Lutero, afirmando que o homem está intrínseca e essencialmente corrompido pelo pecado original, não admite renovação  ou regeneração possível; e, portanto, diz que a justificação consiste em uma imputação da corrupção em atenção aos méritos de Cristo. O homem, pois, justificado legalmente, permaneceria pecador em seu interior. Se isto fosse  assim, o juízo de Deus deveria recair ou apenas sobre a realidade interna do homem, em cujo caso deveria condená-lo ao Inferno, ou sobre os méritos de Cristo, em cujo caso deveria levá-lo ao Céu imediatamente. Em qualquer caso, resultaria absurdo que Deus oferece a possibilidade de uma expiação ultraterrena que, de acordo com a lógica  luterana, seria intrinsecamente impossível. Daí a urgência com que Zwinglo exige de Lutero que negue a existência do purgatório; e daí também o Concílio de Trento, como vimos, se refere especialmente ao Purgatório no decreto da justificação, e depois d ter definido seu caráter extrínseco”.
               A doutrina protestante leva assim a excluir o Purgatório. Com efeito, Lutero, depois de alguns ataques iniciais, nos quais ainda não negava a existência do Purgatório, mas punha em dúvida o seu fundamento bíblico, acabou negando-o mais tarde.
                 Efetivamente, a doutrina de uma purificação ultraterrena não podia coexistir com as afirmações de que o homem é intrinsecamente perverso e de que se justifica pela fé sem obras. Daí que se justifica pela fé sem obras. Daí a negação do Purgatório ser comum a todo os protestantes.
                  Com efeito, na chamada "Confissão Galicana", da Igreja reformada, é dito: "Temos o Purgatório como uma ilusão que procede da mesma butique da qual procede também os votos monásticos, as peregrinações, a proibição de casamento [para sacerdotes] e o uso das carnes [nos dias de abstinência], a observação cerimoniosa dos dias, a confissão auricular, as indulgências e todas outras coisas pelas quais pensa-se merecer graça e salvação. Coisas que rejeitamos não somente pela falsa opinião do mérito a elas ligado, mas também porque são invenções humanas, que impõem jugo nas consciências".
                   É chegar ás últimas nefasta consequência em particular e da doutrina católica em geral.

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Fonte:
Catolicismo, nº 746-Fevereiro 2013-Ano LXIII

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