4 de Março - Virtudes e Prendas de São José nos Seus Primeiros Anos

                                  

          Dotado desde o berço o felicíssimo São José com as mais doces bênçãos do céu, devia ter sentido pouco as contingências da infância. Logo ao terceiro ano de sua idade lhe concedeu o Senhor perfeito uso de razão com a ciência e luz infusa das coisas naturais e morais; de maneira que, quando aos sete anos ou mais anos chega aos outros o uso da razão, já São José era um homem perfeito nela e na santidade, participando dentro dos limites e capacidade natural de um entendimento humano sobrenaturalmente ilustrado, quanto era necessário e conveniente para a perfeita inteligência das Escrituras, para penetrar os mistérios da fé e para o completo conhecimento das coisas.
O Senhor, diz São Bernardo, predestinando ao gloriosíssimo São José para ser na terra o depositário dos seus mais sacratíssimos arcanos, o esposo da Mãe de Deus, o defensor da sua virgindade, o pai reputado da Sabedoria eterna, é para considerar qual seria o apuro de sua virtude, qual o agregado de seus dons sobrenaturais, a sua prudência, a sua sabedoria.
 Nele, como em epílogo, se acharam coletivamente unidas todas as virtudes e perfeições, que aos mais Santos foram comunicadas separadamente; por isso o Evangelho lhe dá o título de Justo, atendendo à perfeita posse de todas as virtudes e bondade.
 Quadra-lhe propriamente o emblema com que foi representado, como uma colméia de abelhas com a epígrafe: Ex omnibus unus, porque de todas as flores das singulares virtudes, em que os Santos floresceram, fabricou São José um favo dulcíssimo no interior de seu peito.
 Nele reluziu a mais exata pureza e no grau mais sublime não só dos sentidos, mas até dos afetos. Uma humildade tão profunda, que, não ignorando a sublime Família, que governava, e as incomparáveis honras, a que o onipotente Senhor o tinha elevado, nem por isso deixou de buscar o sustento com o trabalho de seu humilde ofício, conspícuo de humildade. Nele se viu a mais distinta caridade e amor de Deus, pois foi o primeiro que começou a padecer, por amor de Cristo, com ânimo e tolerância tão constante com que o dotou o Espírito Santo para sofrer em seu lugar aquelas afrontas e calamidades, que ele havia de padecer na qualidade de esposo de Maria. Brilhou nele, como em espelho puríssimo, uma fortaleza e domínio sobre as paixões tão grande que chegara a tal grau de mortificação, que vivia inteiramente insensível a qualquer atrativo terreno. Na resignação e obediência foi admirável; na fidelidade e pureza de intenção foi exímio; na prudência foi quase divino, tinha uma ciência vastíssima e eminente, penetrara os mais profundos mistérios da Escritura.
A sabedoria de São José crescia sempre mais que em qualquer outro justo, logrando em sumo grau as virtudes teologais e cardeais, e os dons do Espírito Santo, em tudo mostrando que Deus habitava em seu coração. O principal emprego de sua mocidade foram os exercícios da mais exata observância da Lei, uma contínua e elevada contemplação do Altíssimo, a que jamais chegou criatura alguma, depois de Maria Santíssima. Com todas estas ilustrações do Espírito Santo, que foi o seu Mestre e Diretor, como é possível que a sua pureza virginal sofresse o sacrilégio ou a sombra da mais levíssima culpa? Ela foi confirmada no grau da mais alta graça correspondente ao seu elevado ministério. A ele se concedeu o especial indulto de ter ao menos ligadas, quando não extintas, as desordens da concupiscência, a quem chamam fames peccati, pois jamais sentiu delas movimento impuro por toda a vida, sem nunca ter cometido culpa venial com advertência.
  São José, filho de Jacob e de Estha (ou de Abigail – alegria do pai) – nasceu em Nazaré. Seu avô Nathan possuía grande fortuna. Jacob tinha seis filhos, dos quais São José era o terceiro. Sua educação, bem como a de seus irmãos, fora confiada a um velho israelita. São José distinguira-se por sua inteligência, aplicação nos estudos e extraordinária virtude. Isso era motivo para terem dele muita inveja e molestá-lo por todos os meios.
Além das lições de seu preceptor, freqüentava as aulas de Hillel, sábio e virtuoso israelita; possuindo, aliás, ciência infusa. Tendo Jacob dado a cada um dos filhos um pequeno jardim para tratar, o de São José era o mais bem cultivado, apesar dos estragos que seus irmãos faziam muitas vezes e que ele, com a maior paciência, recompunha, sem nunca pensar em vingar-se. A sua humildade exasperava-os ainda mais. Muitas vezes, ajoelhado em seu jardim orando, ficava em êxtases, sendo interrompido por seus irmãos que lhe davam pancadas e o atiravam ao chão. Caluniado junto a seus pais, era pelo menos repreendido muitas vezes, sem que se defendesse.
São José, aos 12 anos, fizera o voto de virgindade e, para fugir aos maus tratos e censuras que sofria, foi habitar com os Essênios que residiam em grutas cavadas nos rochedos, onde passavam vida religiosa e se ocupavam em educar meninos. Todos os dias ele ia à oficina de um velho carpinteiro e com ele aprendeu o ofício, no qual se tornou exímio, pelos conhecimentos de geometria que adquirira.
Sabendo seus pais e irmãos onde se achava São José, obrigaram-no a voltar para casa, o que fez por obediência. Em seu aposento tinha o hábito de prostrar-se com o rosto por terra, com os braços estendidos, e, levantando-se, procurar um lugar retirado e aí, em êxtases, erguer-se do chão. Nessas ocasiões, quando visto por seus irmãos, sofria toda a sorte de insultos e até pancadas.
Os vexames contínuos levaram São José, com 18 anos de idade, a abandonar, secretamente, a casa paterna, não levando sequer os vestuários indispensáveis. Um piedoso vizinho, sabendo de sua resolução, forneceu-lhe o necessário para vestir-se. Dirigiu-se para Lebonah, na Samaria, e empregou-se como ajudante de um modesto carpinteiro.
Seus parentes pensaram, a princípio, que ele tivesse sido levado por bandidos, e, mais tarde, descobrindo-o, quiseram obrigá-lo a voltar para casa, dizendo que estava desonrando o nome da família, São José não cedeu e retirou-se para Taonach, onde, de novo, se empregou como carpinteiro. Circunstâncias levaram-no a Tiberíades onde permaneceu e soube da morte de seus pais e da indigência de seus irmãos.
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Fonte: A vida de São José pela Associação de Adoração Contínua a Jesus Sacramentado Livraria Francisco Alves, 1927

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