Santa Teresa de Ávila
Quanto esta devoção é aceitável ao Deus Todo
Poderoso, e o quando Ele consente em parecer, por assim dizer, impaciente pela
libertação das almas, e ainda assim deixar a coisa ao sabor de nossa caridade,
nos é ensinado pela incontestável autoridade de Santa Teresa. No seu livro, As
Fundações, ela nos conta que de D. Bernardino di Mendoza lha deu uma casa, com
jardim e vinha para servir de convento em Valhadolid. Dois meses depois disso,
e antes de ocorre a fundação do convento, ele caiu subitamente doente e perdeu
a fala, de modo que ele não pode se confessar, embora tenha dado muitos sinais
de contrição. Ele “morreu,” diz Santa Teresa, “dentre em pouco, em lugar
distante daquele que me encontrava. Disse-me o Senhor que a sua salvação estivera
muito arriscada e que tinha usado de misericórdia com ele por causa do obséquio
feito a Sua Mãe dando aquela casa para o mosteiro de Sua Ordem, mas que não
sairia do Purgatório enquanto não se celebrasse a primeira Missa nesse
convento. De tal maneira tinha presente as graves penas desta alma que, apesar
do grande desejo que tinha de fundar em Toledo, deixei isso por então e dei-me
toda a pressa que pude para ir fundar em Valhadolid conforme pudesse. Estando
um dia em oração em Medina del Campo, disse-me o Senhor que me apressasse
porque aquela alma estava padecendo muito. Meti mãos à obra e, embora sem
grandes preparativos, entrei em Valhadolid no dia de São Lourenço.”
Ela então continua a relatar que, quando recebeu a
Comunhão na primeira Missa celebrada na casa, a alma de seu benfeitor lhe
apareceu com toda a glória, e depois entrou no Céu. Ela não esperava por isso,
pois observa: “Embora tivesse havido alusão à primeira missa, eu fiquei
pensando que seria aquela em que se pusesse o Santíssimo Sacramento.”
Poderíamos multiplicar quase indefinidamente as
revelações dos santos para provar o especial favor com que Nosso Senhor
considera esta devoção, em que Seus interesses estão tão integral e
amorosamente unidos. Mas é agora é o momento para termos uma clara visão de
nosso assunto.
Mundo dos Sentidos, Mundo do Espírito
Há, como todos sabemos, dois mundos, o mundo dos
sentidos e o mundo do espírito. Vivemos no mundo dos sentidos, circundados pelo
mundo do espírito, e como cristãos temos a todo o tempo, e muito realmente,
comunicações como este mundo. Ora, é um mero fragmento da Igreja que está no
mundo dos sentidos. Hoje, a Igreja Triunfante no Céu, colecionando suas
multidões sempre puras em toda época, e constantemente beatificando-se com novos
santos, deve necessariamente exceder de muito a Igreja Militante, que não
abarca sequer a maioria dos habitantes da terra. Tampouco é improvável, mas até
bem provável, que a Igreja Padecente no Purgatório deva exceder muito a Igreja
Militante, em extensão, pois ela a ultrapassa em beleza.
Com aquelas incontáveis multidões que estão
perdidas não temos responsabilidades: elas se deserdaram de nós. Dificilmente
sabemos o nome de um daqueles que estão lá, pois muitos pensaram que Salomão
estava salvo, alguns ousaram até considerar as palavras dos Atos dos Apóstolos
sobre Judas como não sendo decisivamente infalíveis (Atos, 1:16 ss.), e não há
um consenso sequer contra Saul. Estamos amputados deles; sobre eles, tudo é
negrume e escuridão; não temos relações com eles.
O Poder que Deus nos Deu sobre os Mortos
Mas pela doutrina da Comunhão dos Santos e da
unidade do Corpo Místico de Cristo, temos as mais íntimas relações de dever e
afeição com a Igreja Triunfante e Padecente, e a devoção católica nos oferece
muitos meios, sugeridos e aprovados, de desempenharmo-nos desses deveres.
Destes, falo mais adiante. Por ora, é suficiente dizer que Deus nos deu tal
poder sobre os mortos que eles parecem, como disse antes, depender mais da
terra do que do Céu; e certamente o fato de Ele nos ter dado tal poder, e os
métodos sobrenaturais de o exercer, não é prova menos comovente de que Sua
Majestade Santíssima dispõe tudo por amor. Poderemos nós conceber o
contentamento dos Bem-aventurados no Céu, desviando seu olhar do seio de Deus e
da calma do seu eterno repouso para essa cena de obscuridade, inquietude,
dúvida e temor, e alegrando-se na plenitude de sua caridade, em seu vasto poder
junto ao Sagrado Coração de Jesus de obter graças e bênçãos, dia e noite, para
os infortunados habitantes da terra? Isso não os distrai de Deus, não interfere
com a Visão, ou a faz desfalecer ou empanar; não conturba sua glória ou sua
paz. Ao contrário, acontece com eles tal como com nossos Anjos da Guarda; o
ministério amoroso de sua caridade só lhes aumenta sua glória acidental.
E o mesmo contentamento pode, em alguma medida, ser
nosso ainda neste mundo. Se deixarmo-nos possuir integralmente por esta devoção
católica às Santas Almas, nunca nos abandonará a consciência agradecida pelos imensos
poderes que Jesus nos deu a favor delas. Nunca seremos tão parecidos com Ele,
ou nunca imitaremos tão amorosamente Sua terna ocupação como quando estamos
devotamente exercendo esses poderes. Somos excessivamente humilhados quando nos
tornamos benfeitores daquelas belas almas que nos são tão imensuravelmente
superiores, tal como se diz de José, que aprendeu a humildade quando dava
ordens a Jesus.
Enquanto estamos ajudando as Santas Almas, amamos
Jesus com um amor além as palavras, um amor que quase nos amedronta; mas com
que delicioso temor! Porque nessa devoção, são Suas mãos que movem, tal como
moveríamos as mãos de uma criança inábil. Ó querido Senhor, que nos permite
fazer tais coisas! Que nos permite fazer com Seus méritos o que desejamos, e salpicar
gotas de seu Precioso Sangue como se fossem água do poço mais próximo! Que nos
permite limitar a eficácia de Seu Sacrifício incruento, e indicar-Lhe almas, e
esperar que Ele nos obedeça! Que, com efeito, assim o faz! Como é belo o
desamparo de sua Sagrada Infância! Como é belo Seu desamparo no Santíssimo
Sacramento! Como é belo o desamparo a que, por amor a nós, Ele desejou
ardentemente se reduzir, em relação às suas queridas esposas do Purgatório,
cuja entrada na glória Seu Coração tão impacientemente espera! Ó que
pensamentos, que sentimentos, que amor não devemos ter quando, como um coro de
anjos terrestres, posamos nossos olhos naquele vasto, silencioso e impecável
reino de sofrimento e, então, com nosso próprio toque temerário, movemos a
poderosa mão de Jesus por sobre aquelas vastas regiões, e as orvalhamos com o
bálsamo se Seu Sangue salvador!
Duas Visões do Purgatório
Sempre houve duas visões sobre o Purgatório na
Igreja, não contraditórias, mas que expressam as ideias e a devoção daqueles que
as apoiam.
Uma delas é a visão presente na maior parte das
vidas e revelações dos santos italianos e espanhóis, nas obras dos alemães da
Idade Média nas crenças populares acerca do Purgatório na Bélgica, Portugal,
Brasil, México, etc. A outra é a visão que é mais cara a São Francisco de
Sales, embora ele a tenha desenvolvido originalmente a partir do tratado sobre
o Purgatório de Santa Catarina de Gênova, que é também sustentada pelas
revelações da Irmã Francisca de Pamplona, uma irmã do Carmelo de Santa Teresa,
publicadas como uma longo e sábia crítica do Irmão Giuseppe Bonaventura Ponze,
um professor dominicano de Saragossa. E cada uma dessas visões, embora nunca
neguem uma a outra, tem seu próprio e peculiar espírito de devoção.
http://angueth.blogspot.com.br/2012/03/purgatorio-devocao-as-almas-no.html
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