11 de Novembro




O PURGATÓRIO E AS ALMAS CONSA­GRADAS A DEUS

Maior responsabilidade

Sim, todos os que se consagraram ao serviço de Nosso Senhor assumiram tremendas responsabilida­des com a consagração ou os votos que fizeram. Re­ceberam mais luzes e graças do que os simples fiéis. Foram privilegiados pela vocação, que os colocou num plano superior. Muitas graças e privilégios, sim, po­rém muitas e tremendas responsabilidades. Hão de dar contas mais severas a Nosso Senhor.
Que zelo não devem ter para conservarem a pu­reza de consciência e evitarem todo pecado, ainda o mais leve!
Santa Francisca Romana, cujas visões do pur­gatório são bem conhecidas, dizia ter visto no fundo do abismo as almas consagradas a Deus, e que pade­ciam no purgatório e abaixo, muito abaixo dos leigos. As penas, dizia ela, eram proporcionadas à dignida­de e à posição que ocupavam na Igreja.
As visões de Santa Francisca são confirmadas por muitas outras idênticas de outros santos e almas eleitas, que sempre atestam o rigor com que a divina Justiça pune no purgatório as faltas e imperfeições dos seus eleitos.
Que isto cause impressão nas almas consagradas e se lembrem que sofrimento estão preparando para depois da morte quando levam vida de tibieza e não se esforçam por corrigir defeitos que talvez julguem sem importância! Tremam os Superiores! Tremam os Prelados! Que excusa podem achar diante do Senhor o grande Juiz dos vivos e dos mortos quem recebeu com a teologia e com a ciência sagrada tantas luzes sobre a vida espiritual e viveu inundado num oceano de graças e de misericórdia? E as almas que foram entregues aos pastores e das quais hão de prestar contas ao Senhor? Compreende-se porque os Santos fugiam das prelaturas e dignidades, porque tremiam diante de uma mitra ou de um báculo pastoral.
É preciso ser muito fiel à vocação e cumprir a missão confiada com muita perfeição. A Madre Fran­cisca do Santíssimo Sacramento, uma santa religiosa carmelita de Pampeluna, teve 220 aparições de almas do purgatório. Entre estas almas viu dois Papas, Cardeais, Arcebispos e Bispos, Cônegos e Padres e muitos religiosos e religiosas. Nestas revelações, os dignitários eclesiásticos lamentavam dolorosa e ter­rivelmente terem desejado e procurado dignidades na Igreja. E muitos sofriam por negligências no ser­viço de Deus. — Ó Francisca, gemia uma alma sacer­dotal, um Bispo! Um Bispo! Meu Deus! Antes eu nunca o tivesse sido... Que responsabilidade! Outra se lamentava: “Os homens pensam que basta ser pa­dre. É um estado que exige uma grande pureza de vida! Francisca, eu apenas me salvei!” (Le Purga­toire — Louvet).
Devemos rezar com muito fervor e oferecer mais sufrágios pelas almas consagradas a Deus. Elas da­rão contas mais severas a Nosso Senhor e terão um purgatório mais longo e doloroso. Não canonizemos muito depressa sacerdotes e religiosos logo após a morte. O purgatório das almas consagradas a Deus é terrível, dizia uma vidente. Por quê? Porque tive­ram mais facilidade e muitos meios para evitar e abre­viar o seu purgatório, e não os souberam aproveitar.

Quem mais recebeu...
Quem de Deus recebeu mais graças, há de dar contas das graças com mais rigor. Os ignorantes, os simples, os que não receberam tantos favores e pri­vilégios do céu, naturalmente terão que dar a Deus menos contas dos seus pecados e serão julgados com menos severidade. Que não será o juízo de um sa­cerdote, de uma religiosa, almas estas cercadas de luzes e enriquecidas de uma multidão de graças?! Eis porque mais terrível há de ser o purgatório dos sacerdotes e das almas consagradas a Deus, bem co­mo das pessoas que possuem mais conhecimento e re­ceberam mais graças de Nosso Senhor nesta vida. Não nos lembramos da parábola dos talentos? Santa Francisca Romana teve muitas visões admiráveis, e Nosso Senhor a fez descer em espírito ao purgatório.
Viu ela sacerdotes e religiosas muito abaixo dos leigos, em sofrimentos horríveis e padecen­do muito mais do que leigos que haviam cometido faltas bem graves e alcançaram o perdão na hora da morte. Foi revelado à Santa que padeciam mais por­que neste mundo receberam muito mais graças, ocupa­va um lugar muito alto no sacerdócio e a consagração ao serviço de Deus.
— Minha filha, dizia uma alma do purgatório a uma religiosa, segundo conta Mons. Louvet, minha filha, seja bem santa, porque o purgatório dos sacer­dotes e das religiosas é terrível!
No dia primeiro do ano, Santa Margarida Maria rezava por três pessoas recentemente falecidas. Duas religiosas e um secular. Nosso Senhor lhe apresentou as três almas, dizendo-lhe: Qual das três queres sal­var primeiro, filha?
— Senhor, escolhei Vós mesmo, segundo o que for para vossa maior glória.
Então Nosso Senhor escolheu a pessoa secular, dizendo que as religiosas tiveram nesta vida muito mais graças e meios para expiar os pecados pela ob­servância da Regra, e que o secular não havia rece­bido tantos privilégios e favores...
Os ignorantes, os pobrezinhos, os humildes cheios de boa vontade e que não receberam de Deus tantas graças e meios de se santificar como as almas con­sagradas a Deus, terão naturalmente muita excusa no Tribunal divino e bem aliviado lhes será o purga­tório pela divina misericórdia.
Os religiosos meditem como em diversas apari­ções particulares Nosso Senhor revela quanto pune na outra vida a falta de observância da Santa Regra e como esta Santa Regra facilita a expiação da pena temporal neste mundo e abrevia, senão livra a alma consagrada do purgatório.
A observância regular é um meio poderoso de santificação, uma grande penitência que enche a al­ma de méritos. Por um pouco de sacrifício de quan­tas penas não se livram na outra vida os religiosos fiéis à santa Regra. E como devem tremer as almas consagradas ao pensarem nas contas mais rigoro­sas que hão de dar a Deus pelo número tão grande de graças escolhidas que receberam e às quais talvez não tenham correspondido.

Até os Santos...
Para entrar no céu é mister uma pureza angéli­ca, uma alma bem purificada e sem a menor mancha de imperfeição. Eis porque até santos, homens de gran­de virtude passaram pelas chamas expiadoras do pur­gatório, segundo diversas revelações particulares. O Venerável Pe. Cláudio de La Colombière, diretor es­piritual de Santa Margarida Maria e um homem de extraordinária virtude, chamado por Nosso Senhor amigo e fiel servo, segundo foi revelado à Santa sua dirigida, passou pelo purgatório. Morreu ele em Paray le Monial em 15 de Fevereiro de 1682, às cinco horas da manhã. Uma jovem veio trazer a notícia à Santa: rezai por ele e mandai rezar por sua alma! Pouco depois do enterro, recebeu a Santa outro re­cado misterioso: deixai de rezar por ele, porque agora ele é quem rezará por vós.
Algum tempo depois, a Superiora do Mosteiro notou que Margarida não rezava nem pedia mais ora­ções pelo seu Diretor espiritual e perguntou-lhe a causa.
— Minha Madre, o Pe. La Colombière não está mais em condições de receber nossos sufrágios. Ago­ra é ele quem reza e pede por nós. Está no céu. Gra­ças à misericórdia do Sagrado Coração de Jesus, ocupa um belo lugar no céu. Apenas para expiar algumas pequenas negligências no exercício do amor divino, passou ele pelo purgatório e esteve privado da Visão Divina até o momento de ser sepultado.
Eis um grande servo de Deus privado do céu por algumas longas horas de um dia.
Santa Lutgarda viu o grande e virtuoso Papa que foi Inocêncio III, nas chamas do purgatório.
— Quem és? Pergunta a Santa a uma aparição que sofria muito.
— Sou o Papa Inocêncio III.
Meu Deus! Um Papa tão santo no purga­tório?!...
— Sim, expio minhas faltas. Pela misericórdia de Maria fui salvo, mas ainda me falta uma longa expiação. Tenha pena de mim! Tenha pena de mim!
São Roberto Belarmino, no seu livro De Gemitu Columbae — Livro III, cap. IX — refere-se a esta aparição, concluindo: Qual será o prelado, o homem de responsabilidade que não trema diante disto? Quem não há de escrutar bem seu coração e procurar evi­tar as menores faltas?
Até os Santos passaram e passam pelo purga­tório. Como é necessário ser angélico e muito santo para entrar no céu!
Viram-se homens de uma grande virtude, santos, que passaram no purgatório, segundo o testemunho de revelações particulares, como as de Santa Brígi­da, Santa Teresa, Santa Margarida Maria e outras.
Quanta delicadeza de consciência não é preciso a um sacerdote para oferecer cada dia o Santo Sa­crifício da Missa e desempenhar a missão divina do seu ministério. Que purgatório terrível o do sacer­dote tíbio! Que purgatório terrível também o das re­ligiosas e religiosos que tão facilmente transgridem a Regra!

Exemplo
O purgatório e a Ordem Seráfica
A prática do sufrágio às almas é uma tradição da Ordem Seráfica! À grande penitente Santa Mar­garida de Cortona disse Nosso Senhor numa revela­ção: Recomenda da minha parte aos meus irmãos menores que se lembrem muito das almas do purga­tório, porque o seu número é incalculável, e quase ninguém reza por elas. Dize-lhes também da minha parte que não se imiscuam nas coisas do mundo e le­vem uma vida de pobreza e de recolhimento para que não sejam severamente castigados na outra vida.
Que lições para a nossa alma! E para consolo nosso, meditemos este exemplo que nos trás a Auréo­la Seráfica:
Uma crônica manuscrita do século XIII narra isto: “Um nosso irmão da Província da Saxônia vol­tava para o convento após uma pregação, quando lhe anunciaram que haviam falecido dois religiosos: o Padre Guardião e o Padre Vigário. Eis o que sucedeu. Na seguinte noite o padre estava em oração, quando vê entrarem na cela os dois defuntos cheios de esplendores e de uma beleza incomparável. Trê­mulo de emoção, pergunta-lhes:
— Como vos achais?
— Salvos pela misericórdia de Deus, — respon­dem os bem-aventurados — e gozamos da visão bea­tífica.
— Não passastes pelo fogo do purgatório?
— Não, porque fizemos nosso purgatório no fo­go da pobreza e Deus a aceitou em expiação. Fiquem todos sabendo que nenhum de nossos irmãos irá para o purgatório se observar fielmente a Regra de São Francisco e a santa pobreza, porque o crisol da pobre­za purifica tudo”.
Unde noveris quod nullus, servans Regulam Bea­ti Francisci et sanctam paupertatem ejus, purgato­rii poenas sustinet quia per caminum paupertatis om­nia purgantur.
O Terceiro Franciscano aí no século, trazendo oculto sob as vestes do mundo o hábito do Pai Se­ráfico, fiel à Regra, não tem uma garantia segura do céu?
A santa Regra das Ordens e Congregações re­ligiosas e das Ordens Terceiras, é sempre uma garan­tia de salvação, e ou livra ou alivia muito o purgató­rio a sua observância.

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Fonte:









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