14 de Novembro: A oração pelos mortos

A ORAÇÃO PELOS MORTOS

Saudade e oração
Não julguemos que lembrar nossos mortos é ter apenas deles uma saudade que aos poucos vai decres­cendo em intensidade, à medida que passam os anos. Chorar nossos mortos e perpetuar-lhes a lembrança no mármore, na tela, no livro é permitido, sim. Po­rém, não fiquemos só nisto. Juntemos à saudade a oração. Não basta chorar, precisamos orar. E nun­ca se precisa tanto de oração como depois da morte. No purgatório as pobres almas estão como o paralítico da piscina que dizia a Jesus: — Hominem non habeo! Senhor, eu não tenho um homem que me lan­ce na piscina para ser curado.
Dependem aquelas almas santas de nossos sufrá­gios, de nossas orações e sacrifícios. Deus as entre­gou à nossa caridade. Sempre é eficaz a nossa oração pelas almas.
“É infinitamente mais útil e eficaz a oração pela libertação dos defuntos que padecem no purgatório, que a oração pelos pecadores da terra, cuja perversi­dade e más disposições paralisam os esforços para os salvar. As santas almas não põem obstáculo algum à eficácia das orações que por elas fazemos.” Tal é a opinião do piedoso oratoriano Pe. Faber.
Juntemos à nossa imensa saudade dos mortos nossos queridos, a oração e sempre a oração.
Escreveu o Pe. Sertillanges: “A lembrança dos mortos sem a oração, é uma lembrança fria, um tris­te pensamento. É uma exploração do nada. Porém com a oração, é um vento que sopra em direção a Deus, é uma ascensão nas asas da esperança”. (Le probléme de la prière. Revue de Jeunes — Nov. 1915.)
Oremos pelas almas benditas que padecem no purgatório! Demos-lhe a esmola de nossas preces fer­vorosas e da riqueza das indulgencias do tesouro da Igreja.
Dizia São Francisco de Sales: “Vós que chorais inconsoláveis a perda de vossos entes queridos, eu não vos proíbo de chorar, não! Chorai, mas procurai adoçar vossas lágrimas com o suave bálsamo da ora­ção que muito mais do que todas as demonstrações exteriores de pesar, pode concorrer para aliviar as almas que a morte vos arrebatou”.
Esta é também a linguagem da Igreja, nossa Mãe. Não proíbe nossas lágrimas. É tão humano chorar! Todavia não fiquemos tão só num pranto estéril e desesperado. Oremos! Juntemos ao pranto nossas orações. Saudade e oração. Choremos nossos mortos como cristãos verdadeiros.

Meio fácil
Sim, é o mais fácil dos meios de socorrer os mor­tos, a oração. Alguns podem achar difícil o jejum, ou a mortificação, podem se queixar da pobreza que: não lhes permite dar esmolas, mas quem pode se excusar e desculpar-se de não poder orar?
A mais curta oração feita com as devidas disposições é um alívio para os fiéis defuntos. Quem não pode bradar: dai-lhes, Senhor, o descanso eterno!  
Fez Nosso Senhor tantas promessas à oração! “Pedi e recebereis, batei e se vos há de abrir. É pre­ciso sempre orar”. A oração de Marta e Maria leva Jesus a ressuscitar Lázaro. Nossas preces pelos de­funtos hão de tirar as pobres almas daquele estado de morte em que se encontram.
As lágrimas, as flores, os mausoléus pomposos nada aproveitam aos mortos. É melhor rezar por eles. “Poupai vossas lágrimas, dizia São João Cri­sóstomo, pelos defuntos e dai-lhes mais orações”. Es­creve Santo Ambrosio numa das suas cartas a Faustinus, que acabava de perder a irmã: “É preciso assisti-la com orações mais do que chorá-la, e convém recomendar a sua alma muito a Deus na oração. Cho­ra menos e reza mais”.
Repitamos também esta recomendação a tantos que choram seus mortos sem se lembrarem de uma prece, de uma Santa Missa, de uma obra de cari­dade para sufragar-lhes as pobres almas. Quantas orações tão belas e eficazes e poderosos para o su­frágio dos nossos mortos! O Padre Nosso, a Ave Ma­ria, o De Profundis, o Ofício dos mortos. A Igreja, nossa Mãe, nos dá exemplo de oração pelos defuntos. Termina muitas vezes as suas preces litúrgicas como as Horas canônicas pela súplica tocante: “Fidelium animas per misericordiam Dei requiescat in pace”. E as almas dos fiéis pela misericórdia de Deus descansem em paz! Desde os tempos primitivos, e já nas catacumbas, a prece pelos defuntos era conhecida e praticada na Igreja. Encontram-se nas pedras inscrições como estas: Vitório, que Deus refrigere o teu espírito! Antonia, doce alma, que Deus te de o refrigério! Que Cristo te ponha na paz! Que tua alma re­pouse em Deus! Sempre as súplicas a Deus pedindo refrigério, luz e paz para os mortos. É muito agra­dável a Deus a oração pelos mortos.
Um dia, Santa Gertrudes rezava com fervor pe­los defuntos, quando Nosso Senhor lhe fez ouvir es­tas palavras: “Eu sinto um prazer todo especial pela oração que me fazem pelos fiéis defuntos, principalmente quando vejo que à compaixão natural se junta a boa vontade de a tornar mais meritória. A oração dos fiéis desce a todo instante sobre as almas do pur­gatório como um orvalho refrigerante e benéfico, co­mo um bálsamo salutar que adoça e acalma suas do­res e ainda as livra das suas prisões mais ou menos rapidamente, conforme o fervor da devoção com que é feita”. Noutra ocasião, disse Nosso Senhor a sua serva querida: “Muitíssimo grata me é a oração pe­las almas do purgatório, porque por ela tenho oca­sião de libertá-las das suas penas e introduzi-las na glória eterna”.
Eis aí um meio tão poderoso de ajudar as pobres almas, e tão fácil, tão ao nosso alcance! Oremos e muito pelas pobres almas!

Oremos pelos fiéis defuntos!
Sim, já que a oração é tão poderosa para socor­rer os mortos, aliviar as penas das pobres almas, va­mos em socorro do purgatório! “A oração da alma fervorosa, diz São Bernardo, sobe até o céu e de lá não desce sem ser ouvida. Se pede amor de Deus, vem dele cheia; se pede humildade, esta logo a vem adornar; si pede a libertação das almas do purgató­rio, tem igualmente todo poder para alcançá-la”.
São João Damasceno escreve: “Não vos pode­ria narrar tantos testemunhos encontrados na vida dos santos pelos quais se provam claramente as van­tagens da oração que se fazem pelos defuntos! Não é em vão que se reza pelos mortos!”.
Todas as orações são úteis para as almas, mas algumas mais do que outras. Por exemplo, as orações canônicas do Breviário ou Divino Ofício são muito mais valiosas e eficazes. Que valor não terá uma prece oficial da Igreja pelos mortos! Depois, apro­veitemos o tesouro da Via Sacra, acompanhando os mistérios dolorosos da Paixão do Salvador e ofere­cendo o Preciosíssimo Sangue para refrigério do pur­gatório. Que dizer do Rosário? Que tesouro da Igre­ja padecente!
Apliquemos todas as indulgências do Rosário pe­las almas. Uma jovem libertada do purgatório pelo rosário de São Domingos, apareceu a este servo da Virgem e lhe disse: “Em nome das almas do purga­tório eu vos conjuro, pregai por toda parte e fazei conhecer a toda gente a devoção do Rosário. Que os fiéis apliquem às pobres almas as indulgências e os outros favores espirituais desta devoção tão santa. A Santíssima Virgem e os Anjos e Santos se alegram com o Rosário, e as almas libertadas por ele rezam no céu pelos seus libertadores”.
Façamos novenas e orações em comum pelos mor­tos, principalmente logo depois que deixaram eles este mundo. Há o piedoso costume de se fazer uma novena pelo falecido, começando logo no dia seguinte ao da morte ou do enterro. Durante nove dias se reúne a família em torno de um altarzinho para im­plorar a misericórdia do Senhor pelo defunto. Mul­tipliquemos fervorosas preces pelos nossos mortos queridos e pelas almas mais abandonadas. “Minha filha, dizia certa vez Nosso Senhor a Santa Lutgarda, não posso resistir às tuas súplicas. A alma pela qual pedes logo estará livre dos seus sofrimentos”. Ó, não será esta a resposta que nos dará Nosso Se­nhor também, si orarmos com todo fervor de nossa alma, com toda caridade pelos defuntos?
 Um santo bispo, conta Rossingnolli em suas Ma­ravilhas do purgatório, um santo bispo teve um so­nho. Viu uma criança que com um anzol de ouro e uma linha de prata retirava uma mulher de um pro­fundo poço. Acordou, abriu a janela e viu no cemi­tério, que lhe estava no fundo da casa e vizinho, um menino tal como o que viu em sonho, ajoelhado junto a um túmulo, em oração.
— Que faz aí, menino? pergunta-lhe o bispo.
— Eu rezo um Padre Nosso e um De Profundis pela alma de minha mãe, que aqui está sepultada.
Entendeu logo o santo prelado que a oração sin­gela do pequenino era o anzol de ouro e o Padre Nos­so e o De Profundis o fio misterioso que vira em so­nho. Tal é a nossa oração pelos mortos.

Exemplo
Santa Margarida de Cortona e as almas do purgatório
A grande pecadora que foi Margarida de Cortona e que convertida veio a ser a Madalena dos últimos tempos, pela admirável penitência e a grande santi­dade a que chegou, era uma grande devota das santas almas do purgatório. Desde que se converteu dedi­cou-se, cheia de caridade, a socorrer as almas sofredoras. Nosso Senhor lhe permitiu ver muitas vezes a triste condição destas almas para lhe excitar a com­paixão e interceder por elas. Dois negociantes foram assassinados, e por misericórdia de Maria Santíssima, da qual eram fervorosos devotos, alcançaram uma contrição perfeita na hora derradeira e se sal­varam. Apareceram à Santa e lhe disseram:
— “Escapamos da eterna condenação pela especial proteção de Maria Santíssima, mas teremos que padecer um horrível purgatório para expiar nossas injustiças e mentiras e pecados, ó Serva de Deus, nós vos pedimos que mandeis avisar nossos amigos e pa­rentes que façam restituições de nossos maus negó­cios e dêem muitas esmolas aos pobres em paga de nossas injustiças. Ajudai-nos, Margarida, com vos­sos sufrágios”.
A Santa se empenhou muito com orações e peni­tências em socorrer estas pobres almas. E assim fa­zia sempre que Nosso Senhor lhe revelava a necessi­dade e as aflições de algumas almas do purgatório. Quando faleceu o pai da Santa penitente, ofereceu ela por aquela alma querida muitas orações e toda sorte de sufrágios, penitências e santas Comunhões.
Deus Nosso Senhor lhe fez conhecer que as suas orações aliviaram as almas do seu pai e da mãe, e que tiveram muito abreviados dias de purgatório.
Também ao saber da morte de uma criada, Gillia, que durante muito tempo ficou com ela, Margari­da não cessou de recomendar esta alma da pobrezi­nha a Nosso Senhor. Foi-lhe revelado que a criada ficaria no purgatório apenas até a festa da Purifi­cação de Nossa Senhora e logo seria levada ao céu pelos Anjos.

Na hora da morte, Santa Margarida de Cortona viu uma multidão de almas com esplendor da glória do céu que vinham ao encontro da sua benfeitora, cheias de gratidão. Era a recompensa da sua dedi­cação e devoção às almas do purgatório.

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